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Vice (2018)
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Vice

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

Vice conta a história de Dick Cheney, vice-presidente dos EUA durante o mandato de George W. Bush. O filme aprimora o formato de A Grande Aposta (2015), longa anterior do diretor e roteirista Adam McKay.

McKay não é um novato, já dirigiu episódios para o Saturday Night Live, documentários, e Vice é seu sétimo longa-metragem ficcional. Nem sempre acerta, e realizou atrocidades como Tudo Por Um Furo (2013), a segunda comédia com o personagem Ron Burgundy, interpretado por Will Ferrell. Esse filme fez um sucesso tremendo nas bilheterias americanas, mas representa uma afronta à inteligência do público. Ironicamente, seus dois filmes seguintes provocaram sentimento oposto. A Grande Aposta e Vice abordam temas complicados e mastiga-os para entregar versões facilmente digeríveis pelos espectadores. O primeiro, sobre o mercado de ações e, o segundo, sobre a política estadunidense. Dessa forma, permite que todos saiam do cinema se sentindo conhecedores do conteúdo apresentado.

A fórmula que McKay encontrou resulta numa saraivada de dados. É um bombardeio sobre o espectador em um ritmo alucinado. Contudo, sem que o filme se torne maçante, porque o diretor utiliza uma variedade de recursos que instigam e divertem. Por exemplo, em A Grande Aposta, Margot Robbie, dentro de uma banheira, não deixa o público perder o interesse na explicação de um complicado termo financeiro,

Da mesma forma, em Vice, temos cartelas na tela enumerando as explicações sobre algum fato político mais intrincado. Além disso, um narrador que aparece do nada e desaparece num engenhoso truque que o insere na narrativa como elemento chave. E, no lugar do chef Anthony Bourdain apresentando uma analogia culinária para um tipo de título do mercado de ações, vemos um garçom (interpretado por Alfred Molina) oferecendo um menu onde os pratos são as opções jurídicas para o vice-presidente Cheney assumir maior poder.

Provocador

Por outro lado, o filme Vice não poupa as alfinetadas no povo dos EUA, lembrando os documentários nada sutis de Michael Moore. Assim, escancara a posição política republicana da Fox com sarcasmo. Para isso, coloca Naomi Watts como a apresentadora de noticiário abertamente afirmando que a emissora está nascendo com essa finalidade, com suporte do próprio governo.

Ao espectador, não há espaço para zona de conforto. De repente, os personagens interpretam diálogos de Shakespeare, conversando de forma pomposa o assunto que realmente está sendo discutido na trama. Ou, então, Cheney (Christian Bale) começa a sugerir que ele e os importantes políticos na sala saiam pelados se masturbando do lado de fora da Casa Branca. E isso, apenas para ilustrar exageradamente que esse sujeito era tão ardiloso que conseguia propor qualquer coisa como se fosse algo comum. Além disso, Adam McKay ainda ousa inserir uma subida de créditos finais falsa, que pode enganar aquele mais desatento. E, não satisfeito, coloca uma piada após os créditos verdadeiros, dando um soco na cara daqueles que só querem escapismo no cinema.

Raciocínio dedutivo

A montagem ideológica, onde os planos são justapostos para criar um significado, entra na metáfora do peixe fisgando a isca do pescador, quando Cheney consegue que os demais aceitem suas ideias. Então, o ritmo ágil de Vice não é mera questão de evitar que o filme se torne aborrecido. Na verdade, é um constante estímulo para o raciocínio dedutivo do espectador. Ou seja, McKay não quer que o público seja apenas consumidor de entretenimento, mas que se divirta enquanto pensa. Com isso, dá seu recardo para que não caia na isca daqueles que estão no poder, agindo em seus próprios interesses.

No papel principal, Christian Bale desaparece na tela, e vemos apenas um senhor gordo, cabelos brancos, com saúde frágil. A transformação do ator não é apenas física, mas ele se torna Dick Cheney na sua personalidade. Igual resultado obtém Amy Adams, como a forte Srª Cheney, responsável pela mudança na vida do marido. Num momento crucial, ela lhe dá uma dura após o incidente que vemos na introdução do filme. Não fosse por ela, Cheney seria um fracassado, não só nesse episódio ainda jovem, como durante toda a sua vida.

Identificação

E, para nós, brasileiros, é até fácil acompanharmos esses personagens como se fossem as próprias pessoas reais, pois mal os conhecemos visualmente. Pensando assim, Sam Rockwell dá um show de incorporação como George W. Bush, esse sim uma figura que identificamos bem. A única interpretação que resvala na caricatura é a de Steve Carell como Donald Rumsfeld, secretário de governo (entre outros cargos importantes) e mentor de Cheney.

Ademais, o ambiente da Casa Branca provoca referências à série House of Cards, principalmente quando Cheney usa a quarta parede e fala diretamente para o espectador. Ou seja, fica clara a provocação, para evidenciar como políticos ardilosos podem estar no comando oculto da nação mais poderosa do mundo.

Original, criativo, arrebatador, o filme Vice é um upgrade do já genial A Grande Aposta. Em respeito à inteligência do espectador.

 

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