Sob a benção de Sam Raimi, um dos seus produtores, Não Se Mexa concentra o suprassumo do filme B. Seu roteiro esperto permite uma filmagem econômica, utilizando locações e poucos personagens. Na direção, uma dupla de jovens cineastas diante do primeiro longa-metragem juntos. Brian Netto e Adam Schindler dirigem no modo segurança, mas com muita eficiência. O tema abre caminho para um uso ousado de uma câmera subjetiva intensa, que levaria o filme a um patamar superior, e intensificaria a tensão do espectador. Mas, Netto e Schindler evitam esse risco, e obtêm um resultado menos impactante, porém ainda acima da média.
O longo prólogo de Não Se Mexa parece pertencer a um melodrama dos bons. Nele, Iris (Kelsey Asbille) visita o alto de uma montanha onde seu filho pequeno morreu, perda que a sufoca tão fortemente a ponto de ela pensar em tirar a sua própria vida. Antes que ela possa dar o salto do desespero, um desconhecido chamado Richard (Finn Wittrock) aparece e, num tom muito amável, consegue convencê-la a mudar de ideia.
Então, entram os créditos iniciais, e o que se sucede vira esse enredo do avesso. O homem é um serial killer. E o seu habitual modus operandi envolve drogar a sua vítima, sempre uma mulher, deixando-a em estado de paralisia mas consciente. Esse detalhe terrivelmente sádico constitui o diferencial dessa história. Brian Netto e Adam Schindler aproveitam essa condição fragilizada em várias cenas, mas sem recorrer exclusivamente à câmera subjetiva.
Situações de quase salvação
A trama consegue criar soluções possíveis para que a vítima paralisada consiga se deslocar. Seja através da correnteza de um rio, da ajuda de um morador, ou no carro do algoz, Iris se movimenta. E, com isso, o filme ganha ritmo, embalado por situações de quase salvação – típicas do gênero. O roteiro é consistente, e só derrapa no finalzinho, no exagero do último golpe fatal e do agradecimento dispensável, pois o público já entendeu que a protagonista readquiriu sua vontade de viver.
Produzido pela Netflix, Não Se Mexa indica que esse é o tipo ideal de filme para uma empresa de streaming realizar e lançar dentro de seu acervo. Com orçamento de filme B, funciona muito bem na tela da televisão ou de computador – ao contrário das megaproduções, como o recente The Electric State (2025), que gastam milhões em efeitos visuais e especiais que só podem ser bem apreciadas na telona de um cinema.
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Ficha técnica:
Não Se Mexa | Don’t Move | 2024 | 92 min. | EUA | Direção: Brian Netto, Adam Schindler | Roteiro: T.J. Cimfel, David White | Elenco: Kelsey Asbille, Finn Wittrock, Moray Treadwell.
Distribuição: Netflix.