Embora apresente um tema essencial, Noites Alienígenas custa a engrenar. Sua primeira parte traz uma narrativa fragmentada. Em sua maior parte, o filme utiliza cenas curtas para apresentar seus vários personagens separadamente. Aos poucos, eles se interrelacionam e entendemos seus papeis nessa história. O protagonista é Riva, um jovem de 17 anos que tenta ganhar a vida trabalhando para Alê, o traficante vivido por Chico Diaz.
Mas há um desequilíbrio entre os personagens. O personagem principal não tem o protagonismo habitual, pois divide seu tempo de tela com outros, que são secundários. Alguns desses aparecem muito, mas somem no meio da trama, como a namorada de Riva. Já outros deveriam ocupar mais espaço, como a mãe de Riva, o que traria naturalmente uma alta carga dramática para o desfecho, o que evitaria recorrer à longa cena da dança ao som de música brega – aliás, um recurso apelativo que já vimos antes em outras produções nacionais recentes, como em Deserto Particular (2021).
Outros momentos freiam a narrativa. A cena com Riva e Alê, logo no início, filmada num plano longuíssimo com câmera na mão, destoa da montagem fragmentada do restante do filme. Seu conteúdo também não guarda uma relação necessária com a história. Parece que Chico Diaz improvisou sua cantoria, e o diretor gostou tanto que não quis deixar de fora. Da mesma forma, isso acontece com os trechos com os jovens cantando rap.
A força das origens
O filme começa a empolgar quando Riva decide trabalhar para um novo traficante, mais poderoso e perigoso que Alê. Mas ele precisa passar por um rito de iniciação. É quando ganha relevância outro personagem, o viciado que é o pai do filho da namorada de Riva. Esse jovem, indígena que vive na cidade, ocupa posição crucial no principal tema do filme. Justamente reside aí a força de Noites Alienígenas. Sua trama, situada em Rio Branco, capital do Acre, revela o quanto a civilização foi danosa para os povos originários. Somente o retorno às origens pode salvar esse rapaz da violência e do vício desse mundo do tráfico. Nesse sentido, são emblemáticas as cenas da cura indígena, única solução possível para os povos amazônicos.
Com distribuição da Vitrine Filmes, Noites Alienígenas será o primeiro longa do Acre a estrear em cinemas. Mas, antes disso, teve sua première nacional na Mostra Competitiva do Festival de Gramado, sendo consagrado com 6 prêmios. São eles: melhor filme brasileiro, melhor filme pelo júri da crítica, melhor ator para Gabriel Knoxx, menção honrosa para Adanilo, melhor atriz coadjuvante para Joana Gatis e melhor ator coadjuvante para Chico Diaz. Agora, o filme está na programação da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que acontece entre 20 de outubro e 2 de novembro de 2022.
___________________________________________
Ficha técnica:
Noites Alienígenas | 2022 | Brasil | 80 min | Direção: Sérgio de Carvalho | Roteiro: Camilo Cavalcante, Rodolfo Minari, Sérgio de Carvalho | Elenco: Gabriel Knoxx, Adanilo, Gleici Damasceno, Chico Diaz, Joana Gatis, Chica Arara, Bimi Huni Kuin, Duace.
Distribuição: Vitrine Filmes.