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Noites de Paris (filme)
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Noites de Paris | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
7.5/10

7.5/10

Crítica | Ficha técnica

Era muito esperado este novo longa de Mikhaël Hers após o extraordinário Amanda (2018). Mas Noites de Paris, título brasileiro apelativo e turístico no lugar do original e poético “Les Passagers de la Nuit”, parece fazer questão de se apresentar como uma obra até certo ponto anticlimática, em que os traços melodramáticos são reduzidos ao mínimo em comparação ao longa anterior.

Estamos nos anos 1980, época que parece inspirar tantas coisas diversas que há sempre espaço para novas leituras. Inicialmente, estamos em maio de 1981, quando a esquerda parisiense comemorava a eleição de François Miterrand para presidente da França. Pulamos logo para 1984, quando nos centramos em Elizabeth, personagem de Charlotte Gainsbourg, auxiliar de um programa noturno de rádio apresentado por Vanda Dorval, personagem solitária e autoritária de Emmanuelle Béart. Mas Hers está igualmente interessado no filho da Elizabeth, Matthias (Quito Rayon Richter), e em Talulah (Noée Abita), a garota que Elizabeth leva pra casa após a participação dela num dos programas.

Uma coisa já fica evidente de saída. Se perde em tensão melodramática, o filme ganha naquilo em que Hers mais se assemelha a um cineasta do gosto médio (mas um gosto médio realizado com imensa sensibilidade, o que melhora tudo): as cenas em que a música dá uma intensidade emocional inesperada, sem que saibamos exatamente por quê. Não é algo que está evidente na trama, mas Hers consegue usar a música certa para traduzir, às vezes na letra, sempre na melodia (o que é mais importante) um estado de espírito específico. Como no belo plano em que Elizabeth caminha ao som de “Unless“, dos The Pale Fountains. Tudo a ver num filme que se desenvolve ao redor de um programa de rádio noturno, algo bem típico dos anos 1980, aliás.

Melodrama discreto e nuançado

Mas se Hers não se abre logo de início ao melodrama, o filme vai acabar desaguando nele. Sobretudo após a senha: a citação literal a Kenji Mizoguchi, um dos príncipes do melodrama, na fachada de um cinema. Ainda assim, não temos nada que se aproxime à aflição final de Amanda durante o jogo de tênis em Wimbledon, por exemplo, ou alguma das reações de seu tio durante a dura tarefa de assumir uma paternidade inesperada. O melodrama de Noites de Paris é mais discreto e nuançado, e por isso o filme emociona menos.

O câncer de mama de Elizabeth, por exemplo, que acarretou a perda de seu seio direito, é tratado de forma discreta, sem qualquer sensacionalismo. Lembra um pouco Aquarius (2016), de Kleber Mendonça Filho, com a diferença importante de que o homem que ela encontra não a rejeita, pelo contrário, gosta da particularidade no corpo porque pertence à pessoa que ama. Também é discreta, e um tanto misteriosa, a solidão da radialista Vanda, a quem também são reservados, para nossa surpresa, momentos de felicidade.

Concessões e citações

Há, ainda, uma série de concessões ao gosto médio que Hers trabalha de forma desigual. A cena obrigatória (conforme comentei no texto sobre Os Amores Dela) em que um personagem chama outro(s) para dançar é uma das mais ridículas da temporada, e o uso da música mais óbvia de Joe Dassin (“Et Si Tu N’Existais Pas“) não ajuda, apesar de sua beleza.

Algumas citações são divertidas, apesar de óbvias, como a cena em que os jovens assistem a Noites de Lua Cheia, de Éric Rohmer, de quem Hers se considera um discípulo. Ou as fachadas dos cinemas, que denotam piscadelas um tanto tolas para cinéfilos. No filme de Rohmer eles entraram por engano, pois queriam ver Asas da Liberdade (Alan Parker, 1984), e se encantaram. É bem bacana a filha de Elizabeth, Judith (Megan Northam), repetindo falas do filme para Talulah e Matthias na volta para casa.

O forte de Noites de Paris está mesmo em seus personagens, e nos atores e atrizes que os defendem na tela. A jovem Noée Abita, que interpreta a problemática e errática Talulah, é um assombro de naturalidade que caberia muito bem em um dos seis filmes da série “Comédias e Provérbios” (um deles é Noites de Lua Cheia), de Rohmer.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Noites de Paris | Les Passagers de la Nuit | 2022 | 1h51 | França | Direção: Mikhaël Hers | Roteiro: Maud Ameline, Mariette Désert, Mikhaël Hers | Elenco: Charlotte Gainsbourg, Quito Rayon Richter, Noée Abita, Megan Northam, Thibault Vinçon, Emmanuelle Béart.

Distribuição: Vitrine Filmes.

Gostou? Então, anote: o filme estreia dia 20 de outubro de 2022 nos cinemas brasileiros.

Aliás, confira também o trailer:

https://youtu.be/aTOTOSrIoTQ

Onde assistir:
Noites de Paris (filme)
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