Desde o 11/9, a paranoia de um novo atentado assusta o mundo ocidental do hemisfério norte. Quem sofre com isso é a comunidade muçulmana, preconceituosamente equiparada aos terroristas de Bin Laden. O suspense britânico O Acusado (Accused) explora essa desconfiança irracional que faz de um jovem o suspeito de um ataque com bomba no metrô de Londres, só porque ele é de origem indiana.
Mas o preconceito já está em todo lugar. Aliás, como o filme mostra quando Harri (Chaneil Kular) se senta em um banco na estação e uma senhora se levanta reclamando sobre os imigrantes. Então, diante de um atentado, essa pré-disposição logo procura um suspeito dentro desses veladamente jogados no ostracismo social. E, nesse contexto, uma imagem congelada de uma câmera de vigilância, embora mal permita ver o rosto do sujeito, é suficiente para um comentário equivocado nas redes sociais irromper numa perseguição implacável. A princípio, no ambiente virtual, mas logo em seguida no mundo físico.
A impotência do falso acusado
O roteiro enxuto logo revela o desespero de Harri, que está sozinho na casa dos pais que foram viajar. Além da necessária representação do estado emocional através da interpretação do ator, o diretor ainda utiliza recursos menos óbvios. Por exemplo, o emolduramento do personagem entre paredes e atos desesperados como retirar as pilhas de todos os telefones da casa. Mas, também, cai no óbvio demais, como a inserção da cena do linchamento do filme Frankenstein (1931), de James Whale. Se era para referenciar o cinema, seria mais interessante comparar com o inocente falsamente acusado e a polícia inútil, elementos comuns aos filmes de Alfred Hitchcock.
E, por falar em Hitchcock, o suspense é um dos pontos fortes de O Acusado. O filme trabalha com eficiência elementos comuns ao gênero, como o medo de ter a casa invadida e a incapacidade de provar a própria inocência. Para isso, não se apressa no processo do confronto, desde a presunção do perigo até o desfecho sangrento, que acontece num crescendo de tensão. O diretor Philip Barantini, desta vez, não chega a arriscar tanto no aspecto formal como no seu longa anterior O Chef (Boiling Point, 2021), filmado como um único plano-sequência. Mas, faz o suficiente para comprovar que realmente sabe conduzir as emoções do espectador.
Junto à ação, ainda se sobressaem as críticas à paranoia preconceituosa e ao impacto instantâneo das redes sociais, tanto nas fake news que se alastram rapidamente como no fácil esquecimento. Entretém e ainda serve como alerta.
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Ficha técnica:
O Acusado | Accused | 2023 | 88 min | Reino Unido | Direção: Philip Barantini | Roteiro: Barnaby Boulton, James Cummings | Elenco: Chaneil Kular, Nitin Ganatra, Nila Aalia, Frances Tomelty, Lauryn Ajufo.
