O documentário O Alvorecer de Kaiju Eiga conta a história dos filmes japoneses sobre monstros gigantes, em especial sobre a franquia Godzilla.
Através de depoimentos de estudiosos do tema, e entrevistas com os artistas envolvidos, O Alvorecer de Kaiju Eiga traça a origem de Godzilla e o seu desenvolvimento no decorrer dos anos. Com isso, confirma o ataque nuclear a Hiroshima como a sua principal motivação. Na verdade, era uma forma de não esquecer a tragédia e prevenir a disseminação da bomba atômica.
O filme revela que o diretor do primeiro filme, Ishiro Honda, passou por duras experiências durante a Segunda Guerra Mundial. E toda a destruição que testemunhou foi catalisada para o longa-metragem de 1954, produzido pelo estúdio Toho. Além da guerra, o documentário mostra que também teve influência no filme um episódio com um barco pesqueiro japonês que presenciou um teste de uma bomba de hidrogênio no Atol de Bikini. Como resultado, todos os seus tripulantes e sua carga foi contaminada.
Já os efeitos especiais de Godzilla (1954), criados por Eiji Tsuburaya, reproduziam o ataque dos bombardeiros americanos a Tóquio em 1945. Por isso, quando o monstro invade a cidade há várias explosões espalhadas pela cidade. Além disso, O Alvorecer de Kaiju Eiga descreve como o compositor Akira Ifukube criou o rugido profundo e triste de Godzilla a partir de um contrabaixo.
Japão e EUA
A produção de Godzilla (1954) aconteceu somente após o fim da ocupação americana no Japão. Até então, havia uma censura dos invasores a qualquer menção antiamericana. Segundo depoimentos, os técnicos das filmagens eram ridicularizados por trabalharem em um filme sobre monstros. Contudo, isso mudou com o sucesso de bilheteria, que levou quase 10 milhões de espectadores ao cinema em seu lançamento.
Os estudiosos no documentário afirmam que Godzilla era um monstro diferente das ameaças que os filmes dos EUA apresentavam. O gigante japonês era indestrutível, enquanto os monstros de Hollywood eram sempre derrotados pelo exército americano. Segundo os analistas, isso espelha a diferença do espírito do país derrotado na guerra e o do país vencedor.
Enfim, o sucesso do filme de 1954 o levou aos EUA. Mas, numa versão modificada, com atores ocidentais e a exclusão de trechos que iam contra o país norte-americano.
Três fases da saga Godzilla
Adicionalmente, o documentário apresenta três fases da saga de Godzilla.
A primeira se insere na Era de Ouro da Kaiju Eiga, com seu pico em 1958. O monstro mantém sua origem relacionada à energia nuclear, mas deixa de ser o filme de terror do original para agradar também ao público infantil. Essa onda entrou em declínio com o advento da televisão e seus próprios Kaiju Eiga, como o Ultraman.
Já a segunda fase acontece entre 1984 e 1995. Esses filmes traziam o Godzilla ligado agora ao perigo dos desastres nucleares.
Por fim, a terceira fase do Godzilla, chamada de Millennium, vai de 1999 a 2004. Aqui, o monstro surge da reencarnação de vítimas da guerra. É um ser maligno e destrutivo.
Depois, mais recentemente, o desastre nuclear de Fukijima traz novamente à tona o medo dos desastres nucleares. Então, surgem os novos filmes de Godzilla, que refletem como o governo tem lidado com esses acidentes trágicos. É uma nova fase, ainda acontecendo.
Enfim, todo esse material de O Alvorecer de Kaiju Eiga apresenta um esclarecedor panorama sobre o ícone Godzilla. Porém, apesar dos louváveis depoimentos e entrevistas que o documentário traz, há uma sentida lacuna da ausência de trechos dos filmes. Esses seriam valiosos para ilustrar as afirmações dos artistas e especialistas, mas os produtores do documentário provavelmente não conseguiram os direitos autorais para incluí-los. Mesmo assim, fãs de Godzilla não podem deixar de ver.
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Ficha técnica:
O Alvorecer de Kaiju Eiga (The Dawn of Kaiju Eiga) 2019. Espanha. 50 min. Direção e roteiro: Jonathan Bellés. Com Akira Takarada, Shusuke Kaneko, Haruo Nakajima, Kenpachiro Satsuma, Kazuki Ohmori, Teruyoshi Nakano.
