Pesquisar
Close this search box.
O Animal Cordial (filme)
[seo_header]
[seo_footer]

O Animal Cordial

Avaliação:
8/10

8/10

clique no botão abaixo para ouvir o texto

Crítica | Ficha técnica

O Animal Cordial é um daqueles filmes para se assistir e permanecer na poltrona do cinema até os créditos finais terminarem. Afinal, precisamos de tempo para digerir o que acabamos de assistir.

No filme, a estreante diretora Gabriela Amaral Almeida, também autora do roteiro, parte de uma cena rotineira e começa a retirar as camadas que se encontram entre o homem civilizado e o animal selvagem. O cenário é um pequeno restaurante, onde o dono e alguns empregados atendem o último cliente da noite. Todos trocam comentários maldosos sobre o solitário freguês. Porém, na frente dele a garçonete Sara (Luciana Paes) se comporta com a cordialidade do título. Da mesma forma, o cliente é agradável, mesmo quando ela o suja com os restos do prato.

Então, se coloca esse comportamento contido à prova, quando chega um casal metido (Camila Morgado e Jiddu Pinheiro) que tira sarro dela e desafia o dono Inácio (Murilo Benício). Ainda que mantenham a gentileza durante o atendimento, ambos, cada um à sua maneira, extravasam seus sentimentos de revolta no corredor e no banheiro.

O clima fica mais tenso quando alguns empregados da cozinha, sob a liderança do chef Djair (Irandhir Santos em interpretação surpreendente), questionam o patrão por melhores condições. Logo, a coisa esquenta ainda mais quando dois assaltantes entram no restaurante e tornam todos reféns. Os bandidos já entram com algumas camadas a menos de comportamento civilizado. Desde pronto assediam sexualmente a cliente que estava acompanhada do marido. A invasão libera Inácio a revidar com violência, usando o revólver que escondia no balcão. A partir desse momento, Inácio perde gradativamente o seu controle sobre seus ímpetos internos, e se torna mais e mais violento.

Estranho

Desde o início, a sugestão de estranheza está na trilha sonora com música eletrônica, de forma nada sutil. E, com essa música, acompanhamos a transformação de Inácio. A partir do momento que ele explode de raiva frente ao espelho do banheiro, até quebrando a saboneteira. Mas, se controla e ensaia como responderia a uma entrevista de um crítico gastronômico. O mesmo esforço para se controlar fica evidente quando ele tentar não gritar com os empregados que protestam no balcão do restaurante, em frente aos clientes.

Sozinho, Inácio se descontrola e joga o celular na parede enquanto discute com a sua esposa. Por isso, ele aproveita a invasão para descambar para a violência, justificando-se pela autodefesa diante da invasão. Contudo, sem conseguir se segurar, acaba exagerando na resposta e atinge a todos, exceto por Sara. Há mortes inesperadas, que chocam.

Na verdade, Inácio poupa Sara por ela ser a fêmea do chefe de um bando de animais selvagens. A partir de certo momento, o sangue que mancha o rosto dela e de Inácio já não incomoda. Por isso, o sexo acontece naturalmente, sem cerimônia. Em cena icônica, Sara come um pedaço de frango com as mãos, sentada de cócoras, como um babuíno. Tal qual animais, as pessoas no restaurante lutam pela sobrevivência, o que abre até a possibilidade de canibalismo.

Animais selvagens

No meio do filme, analisando a transformação comportamental de Inácio, O Animal Cordial parece seguir a trilha de O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick. No entanto, depois o filme parte para uma forte analogia com as atitudes de animais selvagens. É um soco na cara do espectador, porque não é apenas Inácio que se comporta dessa forma. O filme nos alerta que todos temos esse instinto selvagem dentro de nós. Se não o domarmos, estaremos todos nos comendo, literalmente.

A diretora Gabriela Amaral Almeida ousa em O Animal Cordial retratar as pessoas em situações que extrapolam o normal para, assim, passar sua mensagem. É um filme tão surrealista quanto os que Luis Buñuel realizava, mas Gabriela coloca o extremo na violência e Buñuel levava para a sátira cômica. Sem dúvida, é uma empreitada bem diferenciada dentro do cinema brasileiro.

Não à toa, o produtor que apostou no projeto é Rodrigo Teixeira, que tem ótimo faro para talento. Afinal, ele produziu Me Chame Pelo Seu Nome (2017), Frances Ha (2012) e A Bruxa (2015), entre outros títulos de qualidade.


O Animal Cordial (filme)
O Animal Cordial (filme)
Compartilhe esse texto:

Críticas novas:

Rolar para o topo