O Anjo Exterminador possui uma das tramas mais conhecidas da carreira do diretor espanhol Luis Buñuel. Realizado durante seu exílio no México, o filme se desvia um pouco do surrealismo que marcou Buñuel e caminha dentro do realismo fantástico, talvez influenciado pela proximidade geográfica do autor com a América Latina, berço desse estilo literário.
A trama
Em O Anjo Exterminador, um casal de classe alta recebe uns vinte convidados para um banquete em sua mansão. Enquanto eles chegam, os empregados da casa sentem a necessidade de ir embora. Após o jantar, os convidados se locomovem para a grande sala de estar. As horas passam, chega a madrugada e ninguém pensa em ir embora. Eventualmente, até se ajeitam para dormir lá na sala, improvisadamente espalhados pelos sofás e pelo chão. E quando se dão conta, percebem que não conseguem sair daquele cômodo. De fato, a porta está aberta, mas algo inexplicável os impede de atravessá-la. Gradativamente, a convivência se torna cada vez mais insustentável, gerando agressões mútuas.
Até mesmo um urso e algumas ovelhas que os anfitriões mantêm dentro de casa completam esse cenário nada convencional. Durante a estadia forçada, as ovelhas serão devoradas pelos grã-finos que adotam comportamentos selvagens. Nesse sentido, para conseguir água, quebram a parede para alcançar a tubulação.
A direção
Na verdade, Buñuel não abandona completamente o surrealismo nesse filme. Afinal, há sequências oníricas experimentadas por alguns personagens. Assim, uma das mais marcantes é aquela com a mão decepada com vida própria andando pela sala e atacando uma pessoa. Além disso, na montagem, o diretor também quebra o convencional, ao repetir alguns trechos, como quando os cinemas exibiam películas e havia falha na projeção.
Essencialmente, a busca pelo sentido do filme passa pela crítica social, tema recorrente em Buñuel. Logo no início, vemos claramente as classes sociais distintas em movimentos opostos. Enquanto os ricos chegam para o jantar, os empregados resolvem sair da mansão. Igualmente, nas conversas, se evidencia o desprezo dos convidados pelos pobres. Como quando uma das senhoras chiques comenta que não se comoveu com a morte de vários usuários de um trem urbano em um vagão acidentado, e afirma que chorou quando o príncipe morreu.
Em síntese, o comportamento dos convidados durante o incidente fantástico mostra que, por trás das roupas chiques, todos possuem o mesmo instinto de sobrevivência. Muitas máscaras caem, mas Buñuel já retrata algumas dessas pessoas com intolerância para essas fachadas de boa educação, nas cenas mais engraçadas do filme. Por exemplo, quando alguns convidados tentam puxar uma conversa com um senhor que está isolado no jantar, ele responde que não tem paciência para banalidades.
Enfim, O Anjo Exterminador é uma crítica ácida à aristocracia embalada em uma divertida metáfora que pede a liberdade artística do realismo fantástico.
Ficha técnica:
O Anjo Exterminador (El Ángel Exterminador, 1962) México. 95 min. Dir/Rot: Luis Buñuel. Elenco: Silvia Pinal, Jacqueline Andere, José Baviera, Augusto Benedico, Luis Beristáin, Antonio Bravo, Claudio Brook, César del Campo, Rosa Elena Durgel, Lucy Gallardo, Enrique Garcia Álvarez, Ofelia Guimáin, Nadia Haro Oliva, Tito Junco, Xavier Massé, Ofelia Montesco, Patricia Morán, Patricia de Morelos, Bertha Moss, Enrique Rambal, Pancho Córdova.