Mistura de ficção-científica com terror, O Apanhador de Sonhos (Dreamcatcher) é um dos livros de Stephen King mais difíceis de se adaptar para o cinema. Demanda uma produção grandiosa, pois trata de alienígenas e naves espaciais. Mas, acima de tudo, alguns personagens lidam com discussões dentro de si contra o ser que invade o seu corpo. Como transformar tudo isso em imagens? Quem assume o desafio é o talentoso roteirista e diretor Lawrence Kasdan. Corpos Ardentes (Body Heat, 1981) e Silverado (1985) estão entre seus grandes filmes.
O que estava ao alcance de Kasdan está bem resolvido. A conversa interna entre o invasor e o dono original do corpo soa convincente, com o personagem usando vozes e expressões faciais para diferenciar. O diretor também consegue criar uma tensão enorme ao apresentar o alienígena, com a câmera filmando a partir dos seus pés e subindo. A expectativa de algo monstruoso cresce porque o filme já mostrou uma criatura horrenda, uma espécie de cobra com boca vertical e dentes afiados. Mas o maior feito da direção é mostrar a materialização das memórias dentro do cérebro do personagem Jonesy como um depósito de arquivos. Aliás, essa ideia um tanto louca remete ao viajante cinema de Terry Gilliam.
A história traz situações que estão em outras obras de Stephen King. Como o reencontro de amigos da infância que compartilham um segredo (It: A Coisa). Ou as aventuras nostálgicas de meninos numa pequena cidade no Maine (Conta Comigo). Mas King notadamente se deixa influenciar também pelo cinema de ficção e terror, como Alien (1979), de onde vem o conceito do alienígena que busca um hospedeiro em corpos humanos e de outros animais.
Horror gore e explicações científicas
Na trama de Apanhador de Sonhos, quatro meninos compartilham uma experiência estranha com um garoto com deficiência mental. A partir desse momento, eles passam a ter a capacidade de ler a mente das outras pessoas e se comunicarem entre si por telepatia. Desde então, se encontram todos os anos. Mas, desta vez, ao se instalarem numa cabana na floresta sob forte neve, fenômenos incomuns acontecem. Logo, até o governo americano intervém numa batalha contra os invasores de outro planeta. A paranoia deixa tudo num caos ainda maior, com direito a horror gore e a explicações científicas.
Mas falta algo para que o filme realmente empolgue. A ausência de um elenco de peso nos papéis principais, com certeza, é um desses fatores. Quando adultos, os quatro amigos se parecem demais. Embora cada um tenha suas próprias personalidades, isso não fica muito claro no filme, o que o deixa menos dramático. Os efeitos visuais também estão aquém do que uma produção desse porte deveria entregar. Isso fica evidente no encontro com a nave alienígena.
O ritmo também é um problema. Na metade, a narrativa meio que estaciona. Só volta a engrenar na parte final, quando entra numa pegada de montanha-russa até o desfecho que surpreende (apesar dos fracos efeitos visuais). Mas o próprio livro de Stephen King também sofre esse mal, um volume longo demais que ficaria mais interessante se fosse mais enxuto.
De qualquer maneira, Apanhador de Sonhos não é um filme para se desprezar. Tem seus bons momentos, principalmente por conta da direção de Lawrence Kasdan. E uma história que, se peca por não ser tão original, é com certeza bem amarrada.
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Ficha técnica:
O Apanhador de Sonhos | Dreamcatcher | 2003 | 136 min | EUA, Canadá | Direção: Lawrence Kasdan | Roteiro: William Goldman, Lawrence Kasdan | Elenco: Morgan Freeman, Thomas Jane, Jason Lee, Damien Lewis, Timothy Olyphant, Tom Sizemore, Donnie Wahlberg, Mikey Holekamp, Reece Thompson, Giacomo Baessato, Joel Palmer, Andre Robb.
