Em O Bom Professor, um professor de 8ª série é acusado de assédio por uma de suas alunas. Porém, mal estruturado, esse filme francês dirigido por Teddy Lussi-Modeste não consegue aproveitar a força desse tema – como fez Nuri Bilge Ceylan em Ervas Secas (2023).
A vítima da acusação falsa, o inexperiente professor de francês Julien (François Civil), não percebe como suas boas intenções podem ser mal interpretadas. Tudo se origina quando ele atropela as regras da escola e tenta inovar premiando um grupo de seus melhores alunos levando-os para comer numa lanchonete, o que desperta o ciúme dos que ficaram de fora. Então, quando ele usa a aluna Leslie (Toscane Duquesne) para exemplificar o uso de um elogio na sala de aula, isso serve de gatilho para as alunas enciumadas insinuarem que ele está tentando seduzí-la. Dominada por um irmão violento, a fragilizada Leslie leva o caso à polícia.
Até esse momento do filme, que não cobre um terço de sua duração, o enredo se sustenta. E, a direção colabora, repetindo o movimento de aproximar a câmera em direção ao professor, caracterizando a pressão que ele sofre e convidando-nos a acompanhar o que se passa em sua cabeça. Porém, outros dados e eventos corroem a solidez da trama.
A ida à lanchonete, por exemplo, só é mostrada posteriormente no flashback de Julien, sob a perspectiva dele, o que deixa o espectador sem base, e se sentindo enganado, quando o professor conversa sobre isso na reunião com a coordenadora. Além disso, Julien é gay e mora com seu namorado, o que seria suficiente para derrubar a insinuação de assédio pela sua aluna. Porém, ele prefere não usar esse fato para se defender contra essa injustiça. Aliás, não revela isso para ninguém da escola.
Sem norte
As situações logo se embaralham e ficam sem sentido. Para a polícia, parece que a acusação é arquivada por conta da homossexualidade. Por outro lado, quando os alunos descobrem nas redes sociais um vídeo de Julien dançando com seu namorado, ele se torna alvo de homofobia, inclusive por alguns de seus colegas que retiram o apoio que antes lhe davam.
Quando Julien, finalmente, deixa se comportar como uma vítima acuada e exige que a escola e os colegas o apoiem, parece que tudo será solucionado, inclusive com a exclusão das alunas que sempre o atacam. No entanto, não é assim que o filme termina, dando até a estranha impressão de que a decupagem errou e inverteu a ordem de algumas cenas. O final abrupto e a dancinha (que se tornou lugar comum nos filmes médios franceses) agravam essa sensação ruim de filme desnorteado.
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Ficha técnica:
O Bom Professor | Pas des Vagues | 2024 | 91 min. | França | Direção: Teddy Lussi-Modeste | Roteiro: Teddy Lussi-Modeste, Audrey Diwan | Elenco: François Civil, Shaïn Boumedine, Toscane Duquesne, Mallory Wanecque, Bakary Kebe, Marianne Ehouman, Luna Ho Poumey
Distribuição: Mares Filmes.
Estreia dia 20 de março nos cinemas.
Trailer:
