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O Charlatão (filme)
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O Charlatão

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

O Charlatão conta a história do curandeiro e fitoterapeuta checo Jan Mikolášek (1887-1973). O filme foi o representante da República Checa para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano.

A sua realizadora é a polonesa Agnieszka Holland, que dirige filmes desde 1970. Ela já recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro por seu filme Filhos da Guerra (1990). Recentemente, Holland alterna trabalhos em séries e cinema, em produções americanas. Seu último filme, A Sombra de Stalin (2019), conta com elenco internacional – James Norton, Vanessa Kirby e Peter Sarsgaard – e é seu trabalho mais conhecido globalmente.

A história

Em O Charlatão, Agnieszka Holland leva para as telas uma figura polêmica. O roteiro de Marek Epstein opta por nunca duvidar dos dons de Jan Mikolášek. Conforme os flashbacks demonstram, Jan estava no final da adolescência quando descobre o dom de curar as pessoas utilizando ervas medicinais. Então, pede que a curandeira da região o treine, e aprende a diagnosticar através da observação da urina do paciente.

Quando adulto, ele se torna famoso e atende dezenas de pessoas todos os dias. Ele cobra pelas consultas, portanto acumula um considerável patrimônio. Com isso, abre seu próprio hospital.

Porém, se, por um lado, o filme não questiona sua capacidade de curar as pessoas, por outro, apresenta Jan como uma pessoa complicada. Novamente com o recurso dos flashbacks, o vemos em explosões de violência desde jovem. Por exemplo, no episódio em que ele mata a pancadas a ninhada de gatos a ser sacrificada. Ou quando ele ameaça o pai com um machado. Para piorar, precisou fuzilar pessoas quando estava no exército. Então, a prática da cura se transforma em uma obsessão. Quando não pode curar pessoas, ele age irracionalmente de forma violenta.

Ao mesmo tempo, Jan tende a tratar as pessoas com frieza. Em vários momentos, o filme o coloca em situações em que ele demonstra total falta de empatia. É como se ele curasse apenas pela cura em si, não pelas pessoas. Mas, o personagem é complexo, pois nem sempre ele age assim. Contrariando essa percepção, em algumas ocasiões ele é extremamente gentil. Por exemplo, quando até dá o dinheiro para uma mãe viajar para o litoral para curar seu filho.

Perseguição

Por outro lado, ele ainda precisa esconder o relacionamento que mantém com seu assistente Frantisek Palko. Na época, o homossexualismo na República Checa era um crime. De qualquer forma, ele enfrenta o risco de ser preso, mas por outros motivos. Durante a ocupação nazista, ele cura também alemães. Então, quando o Partido Comunista chega ao poder, ele é perseguido, com a alegação de erradicarem a medicina alternativa.

Na última parte de O Charlatão, Jan e Frantisek vão a julgamento. O filme indica que a acusação é falsa. Segundo o Partido Comunista, dois de seus membros morreram após ingerirem estricnina que estava no composto que Jan havia enviado. Ao invés de construir uma sequência final de tribunal típica no cinema, Agnieszka Holland suprime todas as etapas, e mantém na tela apenas a defesa de Jan. Este, com sua frieza emocional, alega que quem enviava os compostos era seu assistente. Então, como resposta a isso, Frantisek admite que pode ter errado.

Dessa forma, a conclusão coloca o filme em outro tema, o da lealdade de Frantisek com Jan. Aliás, ele cumpre o que havia prometido anteriormente na entrevista para o cargo. O que O Charlatão deixa em aberto é se o assistente assume a culpa porque ele deseja que Jan continue salvando vidas ou porque o ama. Como não há esse esclarecimento, nem a revelação da a sentença final, cabe ao espectador decidir.

O Charlatão é uma versão da história de Jan Mikolášek desenvolvida com liberdades criativas. Não o retrata nem como herói nem como vilão. Na verdade, alcança o equilíbrio em relação a esse personagem. Assim, glorifica suas atividades, que salvaram a vida de milhões de pacientes, e condena seu relacionamento frio com as pessoas próximas.     


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