O Bombardeio conta o fatídico erro de alvo da British Royal Force que destruiu uma escola em Copenhagen, no dia 21 de março de 1945. A frota aérea britânica devia bombardear quartel general da Gestapo na Dinamarca tomada pelos nazistas, porém acabaram matando 120 civis, entre eles, 86 crianças e muitas freiras. Esse filme dinamarquês relata essa história construindo uma narrativa na seara de Crash: No Limite (Crash, 2004), de Paul Haggis. Ou seja, apresentando personagens sem relação entre si que se conectarão na parte final.
Apesar de não ser uma ideia original, é uma opção diferenciada para abordar um evento histórico, que Ole Bornedal acerta ao adotá-la. O roteirista e diretor dinamarquês estreou no cinema com o inesperado sucesso do suspense Nightwatch – Perigo na Noite (Nattevagten, 1994), que foi o primeiro filme do ator Nikolaj Coster-Waldau, de Game of Thrones. Por conta disso, teve a oportunidade de dirigir a refilmagem nos EUA com o título O Principal Suspeito (Nightwatch, 1997), estrelado por Ewan McGregor e Nick Nolte. Porém, depois retornaria para a Dinamarca, dando prosseguimento à sua carreira, que já conta com nove longas e uma série (1864).
A direção de Bornedal
Definitivamente, Bornedal sabe dirigir. No primeiro segmento, ele consegue retratar a guerra como um intruso que violentamente rompe a rotina das pessoas. É o que acontece com as jovens que se vestem e se maquiam para ir a um casamento, na região da Jutlândia, interior da Dinamarca. No caminho, são repentinamente fuziladas por um avião inglês que pensa que o carro delas leva nazistas. Então, o menino Henry, que estava próximo, chega até o veículo e fica aterrorizado com o que vê lá dentro. O trauma é tão forte que ele não consegue mais falar e passa a temer o céu aberto. Por isso, sua mãe o transfere para a casa da tia na Dinamarca.
Assim, o filme apresenta outros personagens, cujos destinos se entrelaçarão na conclusão. Os dois pilotos ingleses que cometeram esse erro na Jutlândia estarão, também, no ataque fatídico em Copenhagen. Porém, em situações opostas, pois eles serão os únicos que perceberão a tempo que o alvo programado é apenas uma escola. Outra criança que se impressiona com a crueldade da guerra é Eva, que vê um homem da resistência ser morto a tiros na rua da capital dinamarquesa. Como contraste, a colega dela que é filha de um militar nazista de alta patente nem se importa com o assassinato.
Romance, drama e os horrores da guerra
Aliás, há até espaço para um romance nesse drama de guerra. A noviça Teresa (interpretada por Fanny Bornedal, filha do diretor), questiona a existência de Deus diante desse cenário de guerra. Então, como última esperança, ela tenta converter Frederik, um jovem dinamarquês que se aliou ao inimigo e se tornou soldado nazista. Na parte final, que mostra a busca pelos sobreviventes soterrados nos escombros da escola, Teresa é uma das vítimas que, isolada embaixo dos destroços, tenta salvar a prima de Henry. Este representa um dos picos dramáticos da trama, que eficientemente emocionam o espectador.
O ápice da comoção, no entanto, encontramos no longo plano que acompanha a corrida desesperada da mãe de Eva. Após esperar em vão o resgate na escola, ela recebe a informação de Henry de que a filha tinha saído da escola e se encaminhado para casa. Assim, a mãe corre para ver se esse milagre aconteceu. De fato, não é à toa que, emblematicamente, dois dos únicos sobreviventes dessa tragédia são justamente as duas crianças que já tinham perdido a inocência em relação aos horrores da guerra.
Assim, O Bombardeio resgata um fato tenebroso que salienta a insensatez das guerras. O relato é poderoso, e o seu realizador acerta ao arriscar construir a narrativa de forma não tradicional.
___________________________________________
Ficha técnica:
O Bombardeio | Skyggen i mit øje | 2021 | 107 min | Dinamarca | Direção e roteiro: Ole Bornedal | Elenco: Bertram Bisgaard Enevoldsen, Ester Birch, Ella Josephine Lund Nilsson, Malena Lucia Lodahl, Fanny Leander Bornedal, Alex Høgh Andersen, Danica Curcic, Susse Wold, Olaf Johannessen, Caspar Phillipson, Rikke Louise Andersson, Patricia Schumann, Maria Rossing.
Distribuição: Netflix.
