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O Colecionador (filme)
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O Colecionador

Avaliação:
9/10

9/10

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Crítica | Ficha técnica

Baseado no livro de John Fowles, o filme O Colecionador traz para as telas um interessante retrato de como pode se originar um serial killer.

O filme começa com a inocência intencional das primeiras cenas. Elas mostram o jovem Freddie (Terence Stamp) passeando pelos campos com uma rede para capturar borboletas. Uma trilha sonora singela com instrumentos de corda o acompanha. Logo, essa impressão é posta em dúvida quando ele visita a edícula de uma antiga casa que está à venda. Sem uso há tempos, repleto de teias de aranha, o local parece uma catacumba. Então, surge a voz em off de Terence, e descobrimos que ele arquitetou um plano para raptar uma moça e mantê-la nesse anexo.

Ao se manter no ponto de vista de Freddie, percebemos como ele não vê nada de errado em seu esquema. Afinal, ele ama Miranda (Samantha Eggar), a vítima, desde que moravam em Reading. Depois, a seguiu até Londres, onde ela começou a estudar e, por amá-la, acredita que age da forma correta. Ele não pretende agredi-la nem a violentar, por isso a manterá presa até que ela o conheça melhor e comece a amá-lo também. Tímido e de classe baixa, ele não enxerga outra forma de conseguir o amor de Miranda.

Perspectiva da vítima

Quando o filme assume o ponto de vista de Miranda, após o rapto, criamos empatia com ela. Contribui para isso o fato de, ao contrário do que acontece em muitos filmes de terror e suspense, aqui aceitamos as opções escolhidas pela vítima para tentar escapar do seu algoz. Porém, algumas tentativas mais fortes de fuga acabam despertando os impulsos agressivos de Freddie. Então, ela precisa agir com cautela. Infelizmente para ela, Freddie é louco mas é muito esperto, é difícil enganá-lo.

Extremistas moralistas talvez critiquem Miranda por tentar seduzir seu raptor. Aliás, o filme talvez não fosse bem aceito se produzido em outra época. Mas, como foi lançado nos libertários anos 1960, O Colecionador teve mais chances de ser compreendido. E, afinal de contas, Miranda precisa se valer de todas as alternativas para conseguir escapar viva. O falso moralismo, então, é descartado. Até porque Freddie encara o sexo com o mesmo sentido de ato pecaminoso compartilhado por Norman Bates, o serial killer de Psicose, que abriu caminho para filmes com esse tema.

Apesar de o filme O Colecionador possuir, essencialmente, somente dois personagens, e cenários restritos, há ação suficiente para afastar qualquer semelhança com um teatro filmado. Em cada encontro entre Miranda e Freddie, alguma novidade surge, seja uma oportunidade de fuga ou uma estratégia para conquistar o amor da moça. No último terço do filme, algumas cenas o aproximam do terror, não só pelo sangue, como pelo plano estático com a ação violenta desfocada ao fundo, ou posicionando a câmera rente ao chão.

Elenco

O filme funciona devido às magistrais interpretações de Terence Stamp e Samantha Eggar, com certeza nos melhores papéis de suas vidas. Stamp utiliza não só suas expressões faciais para expressar o perigo iminente do seu personagem, mas também seu corpo, que ele deixa retesado e com ombros tortos quando Freddie se sente mais tenso.

Já Samantha Eggar constrói uma vítima nada passiva, inteligente e que luta pela sua sobrevivência o tempo todo. Merecidamente, ambos foram premiados no Festival de Cannes por suas atuações em O Colecionador.

O filme ainda foi indicado aos Oscars de melhor atriz (também Samantha Eggar), melhor diretor e melhor roteiro adaptado.

O experiente diretor William Wyler conseguiu transpor para o cinema este excelente livro de John Fowles, mantendo intacto o estudo de como funciona o pensamento de um psicopata, que sempre justifica seus atos bárbaros como raciocínios enviesados. Freddie age em nome do amor, e quer manter o objeto de seu afeto sempre próximo dele, assim como a coleção de borboletas que ele coloca em quadros pendurados nas paredes de sua casa. Para ele, não importa que elas estão mortas.

O filme O Colecionador foi lançado em versão restaurada em DVD pela Versátil Home Video no box Literatura no Cinema: John Fowles.


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