O Convento (Consecration) reafirma Christopher Smith como cineasta do terror inteligente e bem filmado. Era essa a impressão que ele deixara com seu Triângulo do Medo (Triangle), que utilizava o looping do tempo para criar suspense. Quase sempre trabalhando dentro do gênero, em roteiros de sua autoria, Smith teve mais acertos que erros. Porém, seu último filme, O Ritual: Presença Maligna (The Banishing, 2020), privilegiou tanto a preocupação em tocar em temas sérios que se esvaziou de sua capacidade de provocar emoções. Desta vez, ele não deixa esse erro se repetir. Mesmo que, para isso, tenha que recorrer a recursos que funcionaram no seu êxito maior.
Na abertura, a protagonista Grace (Jena Malone) confessa uma constatação, em narração em off, no que parece ser um flash forward. Em casa, ela recebe um telefonema da Escócia informando que seu irmão Michael (Steffan Cennydd) está morto. Mas o sobrenatural já dá suas caras, em uma aparição em segundo plano atrás de Grace, recurso que se repete reiteradamente no filme, porém com resultados eficientes. Não chegam a ser jump scares, mas sinais de algo de outro mundo cuja presença será devidamente explicada na parte final.
No convento escocês onde seu irmão morreu, Grace se aprofunda em mistérios cada vez mais instigantes. E o espectador compartilha sua necessidade cada vez maior de descobrir o que acontece ou aconteceu naquele local com histórias que sombrias datam do século 12 (e não 21 como está na legenda da versão apresentada na cabine de imprensa). Flashbacks se confundem com visões, revelando fatos sinistros que vão desde um confessionário letal até a violência do cárcere privado, em momentos verdadeiramente sombrios. Até mesmo os personagens coadjuvantes – o padre Romermo (Danny Huston), a Madre Superior (Janet Suzman), por exemplo – acrescentam ainda mais mistério na trama, pois levantam desconfianças em relação às suas intenções.
O terror inteligente e bem filmado
Na direção, Christopher Smith Mostra segurança, resultado de planos previamente estudados. Por isso, em vários momentos, vemos na tela a resposta a alguma indagação que o enredo levanta ou levantou antes. Por exemplo, as escritas antigas que surgem e revelam parte do segredo que a própria Grace desconhece.
Esse jogo era crucial em Triângulo do Medo, daí que comentamos que o diretor retoma alguns recursos dele aqui. Nesse sentido, O Convento volta a cenas que já vimos antes, mas agora com o mistério desvendado, inclusive com a protagonista no mesmo plano, em versões diferentes, como encontramos em Triângulo do Medo. Dessa forma, mais uma vez Christopher Smith permite ao espectador descobrir as respostas percorrendo novamente os trechos que já assistiu, proporcionando esse prazer detetivesco. Além disso, na parte formal, o diretor também retoma alguns planos, como aquele no qual filma apenas as pernas das pessoas na rua.
Em relação ao tema, Smith revisita a crítica à Igreja. Por isso, ele leva a trama para a Escócia, palco de cerimônias pagãs do clássico O Homem de Palha (The Wicker Man, 1973), para agora apresentar rituais igualmente terríveis promovidos pela Igreja Cristã. O impacto, e o efeito dramático, é muito mais superior do que em seu último filme, que, talvez, tenha sido um deslize de um diretor que busca e quase sempre consegue levar para as telas um terror inteligente e bem filmado. Aliás, é uma pena que não tenham mantido a tradução literal do título original. “Consagração” seria bem mais impactante.
___________________________________________
Ficha técnica:
O Convento | Consecration | 2023 | 90 min | Reino Unido, Estados Unidos | Direção: Christopher Smith | Roteiro: Christopher Smith, Laurie Cook | Elenco: Jena Malone, Danny Huston, Janet Suzman, Ian Pirie, Steffan Cennydd, Victoria Donovan, Alexandra Lewis, Angela White, Eilidh Fisher.
Distribuição: Imagem Filmes.
Trailer aqui.