O Estrangulador de Boston (Boston Strangler) trabalha sobre uma história real ingrata para uma narrativa fílmica. Diferente do que acontece em outros filmes sobre jornalismo investigativo – como Spotlight (2015) e Ela Disse (She Said, 2022) – a protagonista aqui não atinge o seu objetivo plenamente. David Fincher enfrentou esse mesmo tipo de desafio em Zodíaco (Zodiac, 2007), e conseguiu mesmo assim realizar um longa repleto de suspense, num filme em que o assassino também se aproveita da imprensa. Mas o menos talentoso Matt Ruskin, que faz seu terceiro filme ficcional (todos policiais), não consegue manter esse tom sinistro, que surge em apenas alguns raros momentos.
O filme começa mal, com um desnecessário flash forward de um crime de estrangulamento em 1965, em Michigan. Parece que essa sequência está aí só para seguir um modismo, que, aliás, já se tornou ultrapassado. Conforme o enredo avança, após recomeçar três anos antes, em Boston, percebemos que não haveria nenhum prejuízo em colocar esse evento na ordem cronológica.
Estrangulamentos
Enfim, ao regredirmos esses três anos, conhecemos a jornalista Loretta McLaughlin (Keira Knightley). Ela está aborrecida porque apenas escreve para a seção de estilo de vida, como a maioria das mulheres do jornal. Mas ela se interessa por três estrangulamentos recentes que parecem seguir o mesmo padrão. Desautorizada de escrever sobre o assunto, ela cola em Jean Cole (Carrie Coon), a única jornalista da empresa que pode abordar temas sérios. O protagonismo da trama continua com Loretta, mas as duas passam a investigar juntas esses crimes, e a assinar as matérias que logo ganham repercussão, inclusive despertando protestos da polícia de Boston.
Mais vítimas surgem, atingindo a casa da dezena de mulheres assassinadas por estrangulamento. Mesmo assim, e apesar da fotografia escura, o filme parece menos sombrio do que o assunto o permite ser. O suspense surge apenas em duas ou mais cenas. Por exemplo, quando Loretta entra na casa de um dos suspeitos, quando ela recebe um telefonema ameaçador, ou quando temos a visão subjetiva do assassino em um de seus ataques. No entanto, os estrangulamentos em si ficam fora do quadro ou em elipse.
Isso não seria um problema, lembrando que muitos filmes antigos não podiam mostrar esse tipo de violência, e o diretor se virava para torná-la assustadora com habilidade. Mas Matt Ruskin não tem esse talento, e isso fica evidente, como exemplo, na cena em que o marido de Loretta comenta que essa investigação é perigosa e imediatamente toca o telefone com o chamado anônimo – uma solução narrativa simplória demais.
Empoderamento
Pelo menos, o filme se preocupa em humanizar a protagonista. Obcecada pela matéria, vemos Loretta negligenciar a família, o que logo leva a um conflito com o seu marido. No início dos anos 1960, a sociedade ainda entendia que lugar de mulher é em casa. Este seria um outro tema forte que O Estrangulador de Boston poderia explorar. Mas, não o faz, o que deixa à mercê do resultado das investigações o grande clímax da história. Como os culpados nunca foram a julgamento, e os crimes permanecem em aberto até hoje, a conclusão acrescenta frustração a esse thriller policial morno.
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Ficha técnica:
O Estrangulador de Boston | Boston Strangler | 2023 | 112 min | EUA | Direção e roteiro: Matt Ruskin | Elenco: Keira Knightley, Carrie Coon, Chris Cooper, Alessandro Nivola, Rory Cochrane, David Dastmalchian, Peter Gerety, Robert John Burke.