Por trás da filmagem correta de O Grande Segredo, Fritz Lang apresenta uma estória de espionagem que alfineta os colaboracionistas da Segunda Guerra Mundial.
O diretor vienense Fritz Lang saiu de seu país ao se recusar a trabalhar para o instituto de cinema dos nazistas. Então, após um ano em Paris, partiu para Hollywood, onde dirigiu seu primeiro filme estadunidense, Fúria (1936). Dez anos depois, ao realizar O Grande Segredo, ele já estava habituado ao studio system. Por isso, seu estilo está mais contido, se afastando das marcantes características do Expressionismo Alemão de seus filmes alemães.
Nesse sentido, pelo menos uma das cenas merece um destaque especial. E estamos falando daquela onde o protagonista Alvah Jesper, vivido por Gary Cooper, conversa com Gina, interpretada por Lilli Palmer, no apartamento dela. Nesse diálogo, o uso do espelho com o reflexo do personagem que está fora de quadro é brilhante. Não só pela mise-en-scène, mas principalmente porque Lilli precisa levar uma vida dupla.
A trama
A estória se passa perto do fim da Segunda Guerra Mundial. O físico nuclear Alvah Jesper trabalha na construção da primeira bomba nuclear dos EUA. Porém, ele é convocado pelo governo estadunidense para uma missão cujo objetivo é evitar que os alemães e os italianos construam a bomba deles. Então, ele parte para a Suíça, onde encontra uma renomada cientista que fugiu dos nazistas porque não aceitava trabalhar para eles nesse projeto.
Logo depois, Jesper vai para a Itália, onde tentará libertar outro cientista, Polda, obrigado a trabalhar na bomba nuclear nazista. Ao lado dele, está a italiana Gina, que se recusa a colaborar com os alemães.
O Grande Segredo é uma aventura de guerra movimentada, em que o herói é um cidadão americano comum que se coloca em situação de alto risco. Enquanto a sua trama principal não apresenta surpresas, seus personagens secundários revelam algumas críticas veladas.
Além da trama
Por exemplo, a italiana Gina logo diz ao americano Jesper que ele não tem ideia de como é viver em um país em guerra, onde todos passam forme e vivem com medo. Além disso, temos o cientista Polda, que colabora com os alemães na construção da bomba. Ele é retratado como uma pessoa medrosa, que aceita as ordens dos nazistas porque teme pela vida da filha. E, na conclusão do filme, fica evidente que ele nunca conseguiria salvá-la. Por fim, a estória ainda conta com a renomada cientista que foge dos nazistas para não trabalhar para eles.
Na verdade, essas três figuras possuem muito em comum com Fritz Lang. Tal qual a cientista, o cineasta também não aceitou trabalhar para Hitler e fugiu. Adicionalmente, a percepção de Gina em relação ao povo dos EUA deve espelhar o que sentia o diretor. Além disso, o personagem Polda é uma demonstração de que não se deve colaborar com os nazistas.
Concluindo, O Grande Segredo é uma aventura de espionagem bem realizada, mas uma produção padronizada que só merece um interesse especial quando conectada com o contexto de seu realizador.
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Ficha técnica:
O Grande Segredo (Cloak and Dagger) 1946. EUA. 106 min. Direção: Fritz Lang. Roteiro: Albert Maltz, Ring Lardner Jr. Elenco: Gary Cooper, Lilli Palmer, Robert Alda, Vladimir Sokoloff, J. Edward Bromberg, Marjorie Hoshelle.
