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S. Bernardo (filme)
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São Bernardo

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

A adaptação de Leon Hirszman do livro “São Bernardo”, que Graciliano Ramos publicou em 1934, se mantém fiel ao texto original. Por isso, funciona como seu complemento audiovisual, sem deixar de ter vida própria.

O enredo

São Bernardo retrata a vida de Paulo Honorio (Othon Bastos). Ele próprio narra sua história desde os primeiros passos de sua escalada agressiva para se tornar proprietário da fazenda São Bernardo, em Viçosa, Alagoas. A jornada de conquista do poder pela posse envolve usura e violência. Enfim, ele possui um plano racional onde até o casamento com a jovem professora Madalena (Isabel Ribeiro) é motivado pela necessidade de produzir um herdeiro.

Então, ausente o componente amor, o casamento naufraga porque Paulo escolhe uma mulher letrada. Aliás, a professora até escreve artigos para uma revista. Logo, as ideias progressistas de Madalena se chocam com a forma que seu marido explora os seus empregados. Além disso, a gestão da fazenda em modelo próximo ao feudalismo leva Paulo a reprimir também as conversas que ele considera comunistas entre seus trabalhadores. O fazendeiro é autoritário dentro de sua própria terra. Como resultado, seu poder oriundo do dinheiro acarreta numa vida solitária. Ao final, ele mesmo questiona o seu propósito.

O protagonista

Acima de tudo, a narração do protagonista permite um mergulho profundo para dentro da sua mente. Dessa forma, revela ao espectador seu raciocínio direcionado objetivamente ao poder oferecido pelo capitalismo. E, na sua mais primordial essência que é a propriedade.

E o diretor Leon Hirszman privilegia os planos fixos, que facilitam a reflexão concentrada na voz do ator Othon Bastos. Ela apresenta o texto de Graciliano Ramos com a imponência que seria própria do personagem. Em muitos desses planos, Paulo Honorio olha para a câmera. Enquanto isso, o áudio de sua narração reflete seu pensamento. O público acompanha várias cenas com esse formato durante o filme. Por fim, a conclusão, que segue esse padrão, leva ao espectador a única reflexão que esse personagem bruto poderia produzir. Ou seja, apesar de sua conduta ter resultado em algumas tragédias, ele faria tudo do mesmo jeito, se vivesse novamente.

A fotografia

Sob outro aspecto, a restauração de São Bernardo, realizada pela Cinemateca Brasileira, possibilita apreciarmos a exuberante fotografia do filme. Lançado em 1972, este foi o terceiro trabalho do diretor de fotografia Lauro Escorel, então com apenas 22 anos. Posteriormente, ele assinaria a fotografia de várias obras essenciais do cinema brasileiro. Por exemplo: Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977), Bye Bye Brasil (1980) e Eles Não Usam Black-Tie (1981), este novamente dirigido por Leon Hirszman.

Em São Bernardo, Lauro Escorel é o responsável por tornar eficaz a opção de Hirzman em usar planos fixos. E faz isso através de enquadramentos acertados e do uso da profundidade de campo. Por exemplo, veja a cena dentro da igreja, na derradeira conversa entre Paulo e Madalena. A mulher se afasta com passos lentos, dirigindo-se ao fundo da igreja. Então, para um instante a fim de se despedir com um olhar. Por fim, se afasta para dentro da escuridão.

Adicionalmente, a iluminação é outro aspecto de destaque da fotografia. Ela reproduz na tela o tom marrom do sertão nas cenas noturnas. Inclusive, aproveitando as dificuldades nos planos com luz de vela ou de uma fogueira. Nesse trecho citado, a luz de velas da igreja traduz a intimidade da conversa do casal. E, nas cenas durante o dia, a fotografia revela a beleza da paisagem da fazenda. E reflete a riqueza do local. Não é um sertão árido, mas um terreno verde abastecido pela água de rios e um açude.

Em suma, São Bernardo equilibra a literatura e o audiovisual. E suas lindas imagens retratam uma realidade que ainda influenciam a sociedade brasileira.


S. Bernardo (filme)
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