O Homem nas Trevas foi tão bem recebido que credenciou o uruguaio Fede Alvarez a assumir a direção de Millennium: A Garota na Teia de Aranha (2018).
Antes, Alvarez foi elogiado também por dirigir a nova versão de A Noite do Demônio (2013), seu primeiro longa-metragem. Com isso, conseguiu sua contratação para O Homem nas Trevas, igualmente produzido por Sam Raimi.
De fato, o diretor merece os louros recebidos por esse thriller de 2016. Alvarez leva para as telas, com talento, a instigante estória que escreveu junto com Rodo Sayagues. Ele explora inteligentemente as possibilidades abertas por escolherem um personagem cego como o oponente dos protagonistas.
A trama
Dois rapazes e uma garota praticam alguns pequenos roubos. Eles invadem casas com algumas facilidades advindas da profissão do pai de um deles que trabalha em uma empresa de segurança. Dessa forma, têm acesso a chaves mestras e controles de desligamento de alarmes.
E, o próximo golpe parece ser moleza: entrar na casa de um velho cego que ganhou uma bolada de indenização pela morte de sua filha por atropelamento. Contudo, estão completamente enganados. Afinal, a supostamente frágil vítima é um ex-soldado que aprendeu a usar seus outros sentidos para continuar letal.
De cara, o flash forward da abertura já engancha o espectador. Começa com um plano aberto do subúrbio de Detroit, captado do alto, que desce até identificarmos um homem puxando uma jovem loira pela rua, deixando um rastro de sangue pelo caminho. Como resultado, a cena gera a ânsia de se descobrir o que está acontecendo. Portanto, o filme já começa com esse poder engatilhado.
Tensão crescente
A vítima logo prova que não é nada frágil, arrancando o revólver de um dos jovens e contra atacando-o. Como consequência, sua deficiência gera a necessidade do silêncio absoluto por parte dos outros dois invasores, para evitar que sejam descobertos. E, isso funciona muito bem no cinema, sob dois aspectos. A tensão cresce exponencialmente, os personagens levam ao espectador a preocupação em se manterem imóveis e silenciosos, como se comprovou em Um Lugar Silencioso (2018), filme inteiramente construído em cima dessa premissa. Aliás, reparem que os cartazes dos dois filmes são muito semelhantes. Além disso, remete aos primórdios do cinema mudo, por muitos considerado a mais pura forma de cinema, aquela que recorre exclusivamente ao visual.
O filme logo resolve uma questão que poderia ser prejudicial à trama. Roubar um cego é duplamente condenável, e até um dos ladrões, Alex, se questiona sobre isso. Contudo, à parte essa deficiência não representar a vulnerabilidade da vítima, pelos seus atributos militares, ele não é nada inocente, pois mantém uma pessoa em cativeiro no seu porão. O espectador fica, assim, livre para torcer pelos jovens, mesmo que sejam ladrões.
À frente do personagem
Ademais, outra forma de fisgar o público que o filme faz uso é compartilhar uma informação que os personagens não têm, colocando o espectador à frente deles. Isso acontece quando a câmera entra no quarto do homem cego e passa por baixo da sua cama, onde ele esconde um revólver. Pena que essa vantagem é desperdiçada, porque mais tarde o homem simplesmente entra no quarto e pega sua arma, sem beneficiar o filme com uma cena de suspense hitchcockiano. Com certeza, o mestre do suspense faria um dos jovens ladrões se aproximar da arma sem a encontrar, em uma situação de risco.
Outra cena que poderia gerar mais suspense é aquela em que Alex cai em cima de um telhado de vidro e fica desacordado. Surge o homem cego procurando por ele, sem saber que ele está bem em cima dele. Esse momento seria muito mais eletrizante se Alex estivesse acordado e visse o opositor embaixo, precisando ficar imóvel para não ser localizado.
São observações que poderiam melhorar o filme, mas que não o desabonam. Fede Alvarez repete a parceria com a atriz Jane Levy, presente também em A Noite do Demônio (2013), para realizar um suspense original, que se recusa repetidamente a entregar uma solução fácil para o seu desfecho. Por várias vezes, pensamos que o filme acabou, mas sempre há uma surpresa a mais.
Ficha técnica:
O Homem nas Trevas (Don’t Breathe, 2016) EUA. 88 min. Dir: Fede Alvarez. Rot: Fede Alvarez, Rodo Sayagues. Elenco: Stephen Lang, Jane Levy, Dylan Minnette, Daniel Zovatto, Emma Bercovici, Franciska Töröcsik, Christian Zaglia, Katia Bokor, Olivia Gillies.
Sony Pictures Brasil
Assista: trailer de O Homem nas Trevas