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O Homem Que Virou Suco
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O Homem Que Virou Suco

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

O Homem Que Virou Suco aborda a migração dos nordestinos para as grandes cidades em tom de comédia dramática.

A estória traz um recorte na vida do paraibano Deraldo José da Silva (José Dumont), recém-chegado a São Paulo. Poeta, ele tenta vender suas obras na calçada do centro da cidade. Porém, como não tem documentos, nem licença para trabalhar como camelô, os fiscais confiscam seus livros que ele produziu em máquina copiadora. Então, se já ganhava pouco, agora está sem dinheiro nenhum. Com isso, tenta trabalhar como carregador, mas desiste porque o trabalho acha o serviço pesado demais.

Em seguida, consegue um emprego como operador de elevador numa obra, que não exige muito esforço físico. Porém, Deraldo tem sangue quente e não aceita as reprimendas grosseiras do seu chefe, com quem briga e é demitido. Seu temperamento continuará a desenquadrá-lo de outros trabalhos.

Migrantes indisciplinados

O filme não esconde o preconceito dos empregadores da capital em relação à indisciplina dos migrantes nordestinos. Isso fica evidente no vídeo “educativo” que a construtora da Linha Vermelha do Metrô exibe aos seus novos funcionários. Aliás, Deraldo é ainda mais propenso a não aceitar passivamente o tratamento dos patrões, pois ele possui uma educação melhor que a maioria do seu povo. No dormitório do prédio em construção, ele se destaca por ser o único letrado da turma. Por isso, os colegas pedem que ele leia as cartas que eles receberam de suas famílias. Além disso, ele é um artista, um poeta, e não um trabalhador braçal.

Há um toque adicional de drama na vida de Deraldo. Todos o confundem com um homem que esfaqueou seu patrão, e então a polícia o persegue. Dessa forma, O Homem Que Virou Suco adiciona o elemento do suspense de O Homem Errado (The Wrong Man, 1956), filme de Alfred Hitchcock onde Henry Fonda vive um inocente confundido com um criminoso.

Posição política

Em O Homem Que Virou Suco, esse sósia de Deraldo é a figura que o diretor João Batista de Andrade usa para inserir uma posição política no filme. Produzido durante a ditadura militar no Brasil, através desse personagem se critica o capitalismo estrangeiro que se beneficiou desse regime de governo. Por isso, o homem esfaqueia o patrão durante uma cerimônia onde ele receberia o prêmio de empregado modelo. O que ele havia feito para merecer isso, na verdade, foi furar uma greve dos trabalhadores da empresa americana onde era funcionário, e entregar o nome dos líderes do movimento. Igualmente, essa visão ideológica também pontua em todo o filme as condições precárias de trabalho que são oferecidas a Deraldo.

As demonstrações de indisciplina de Deraldo produzem os momentos cômicos do filme. Por exemplo, na sequência na casa da socialite onde ele dança com a filha e os amigos da patroa, e vai embora tirando sarro do cachorro cheio de firulas da casa. Porém, a vida do protagonista não é fácil, e parece fadada ao fracasso. O Homem Que Virou Suco, então, surpreende, terminando com uma conclusão esperançosa, onde o personagem principal descobre como ganhar a vida com sua arte. E, nesse momento, a perspectiva sai do individual e abrange um universo mais amplo. Por fim, a montagem com imagens do povo em comícios, como que respondendo ao discurso de Deraldo, ilustra que ele fala por todos os migrantes nordestinos.

 

O Homem Que Virou Suco
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