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Poster do filme "O Mal Não Existe"
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O Mal Não Existe

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Após alcançar projeção mundial com Drive My Car (2021), o diretor japonês Ryusuke Hamaguchi investe numa estrutura narrativa menos complexa em O Mal Não Existe. Porém, não deixa de surpreender com seu estilo não ortodoxo de filmar e com um desfecho inesperado. Aliás, como já demonstrara antes em seus longas anteriores Roda do Destino (2021) e Asako I & II (2018), seu cinema não vive no lugar comum.

No entanto, o enredo de O Mal Não Existe parece seguir o rumo de um drama ambientalista similar a muitos que já vimos nas telas. Na idílica vila de Mizubiki, não muito longe de Tóquio, os moradores vivem em harmonia com a natureza. As águas límpidas dos pequenos riachos representam o mais valioso recurso do local. Porém, o projeto de um novo empreendimento imobiliário pode destruir esse equilíbrio, poluindo os mananciais e produzindo o risco de incêndios.

Na reunião de apresentação do projeto à comunidade, os representantes da empresa são massacrados pelos questionamentos dos moradores. O filme, que até então se concentrara na perspectiva dos habitantes – com foco em Takumi e sua filha Hana, de 8 anos – abre espaço para revelar a visão dos empreendedores. Os chefes são os típicos capitalistas maquiavélicos, mas o roteiro humaniza os representantes que falaram com a comunidade.

O outro lado

Aí começa a aparecer o toque do diretor Hamaguchi. Os representantes, o Sr. Takahashi e a Srta. Mayuzumi, inusitadamente, trabalham para uma agência de talentos. Portanto, não possuem os mesmos ideais de seus chefes, e entendem as preocupações dos moradores. De qualquer forma, obedecem às ordens de retornar à vila para oferecer para Takumi um emprego de zelador do empreendimento. O plano do CEO consiste em agradar Takumi porque ele é uma pessoa influente no local.

O filme aproveita a viagem de Takahashi e Mayuzumi para criar uma empatia do público com eles durante um descontraído bate-papo. Ambos contam sobre as suas vidas e suas expectativas, o que pavimenta o caminho para eles abraçarem ainda mais a filosofia de vida dos moradores da vila após conhecerem melhor Takumi.

Então, o desfecho de O Mal Não Existe tira o chão do espectador, levado a acreditar numa possível convivência harmoniosa entre esse projeto capitalista e a vida próxima à natureza. Mas esta, quando ameaçada, se torna agressiva para se defender. Por isso, plantas têm espinhos, e um cervo ferido ataca. E as vítimas dessa reação podem ser inocentes.

Direção inusitada

Na direção, Hamaguchi surpreende com cortes abruptos, com personagens olhando para a câmera, ou simplesmente filmando o trajeto de um carro através da janela traseira, o contrário do que convencionalmente se faz. Os tracking shots, planos que acompanham os personagens, filmam de longe, atrás de árvores, arbustos e elevações do terreno, às vezes perdendo de vista as pessoas – talvez como um prenúncio do que acontecerá na conclusão. Há espaço até para um inesperado instante de humor, quando o chefe da agência fica na mesma pose do quadro atrás dele. Contudo, o mais enigmático truque quebra a continuidade temporal para mostrar o que acontece com Hana, assim criando um efetivo paralelo com a atitude de Takumi. Este protagonista não condena o cervo, portanto age com esse raciocínio.

Ryusuke Hamaguchi, desta vez, provoca menos indagações que em seu filme anterior. Mas, mantém sua capacidade de contar uma história surpreendente, de forma também surpreendente.

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Ficha técnica:

O Mal Não Existe | Aku wa sonzai shinai | 2023 | Japão | 106 min | Direção: Ryusuke Hamaguchi | Roteiro: Eiko Ishibashi, Ryusuke Hamaguchi | Elenco: Hitoshi Omika, Ryo Nishikawa, Ryuji Kosaka, Ayaka Shibutani, Hazuki Kikuchi, Hiroyuki Miura.

Distribuição: Imovision.

Assista ao trailer aqui.

Onde assistir:
Cena do filme "O Mal Não Existe"
Cena do filme "O Mal Não Existe"
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