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O Palhaço (filme)
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O Palhaço

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

“O Palhaço” abre com uma longa sequência que ilustra boa parte dos números apresentados no circo de Benjamim (Selton Mello) e seu pai Valdemar (Paulo José). Notamos que são divertidos, porém, esse não é o motivo dessa introdução. A função prática é apresentar os personagens que vivem nesse circo, não com profundidade, mas apenas para sabermos que eles existem. Posteriormente, descobriremos duas outras justificativas para se exibir essa parte inicial.

Benjamim interpreta o palhaço Pangaré, fazendo dupla com Puro Sangue, este vivido por seu pai. Por trás da alegria demonstrada no picadeiro, Benjamim está cansado e amargurado. A uma moça desconhecida, diz: “Faço os outros rirem, mas quem me faz rir?”. Logo em seguida, sofrendo a ressaca da noitada anterior, Pangaré escancara em público o que sente por dentro, e cai desacordado. O contraste com a alegre sequência de abertura evidencia o quão desgostoso o palhaço se sente. Por isso, o público não ri. Então, ele parte, sozinho, deixando o circo para trás para descobrir o que pode lhe trazer alegria.

Objetivos da jornada

Dois objetivos insossos o carregam nesta jornada. Deseja reencontrar a moça que vive em Passos, e que o elogiou ao final de um espetáculo, com a esperança de encontrar nela o amor de sua vida. Quer também um ventilador, para ajudar a amenizar o calor local. Contudo, quando encontra a moça, ela já está com casamento marcado. Em seguida, ao procurar um emprego, o atendente por trás de um balcão de vidro lhe pede: “identidade, CPF, comprovante de residência”. Munido apenas de uma amassada certidão de nascimento, vence a burocracia e consegue os documentos para poder trabalhar.

E isso justamente em uma loja de eletrodomésticos. Um quadro estático, sem necessidade de palavras, coloca Benjamim no centro da loja, rodeado de ventiladores, que estão à venda. O colorido do quadro e a exposição visual de um personagem dramático à beira do cômico lembram o cinema de Wes Anderson. O ciclo como vendedor se fecha quando uma cena mostra Benjamim repetindo as mesmas três exigências documentais a um comprador que procura crediário. Enquadrado dentro do círculo do vidro do balcão, repete exatamente como ele próprio foi atendido anteriormente. Num jantar em um restaurante, o dono da loja conta piadas aos seus empregados. A princípio resistente, Benjamim esboça um sorriso ao final. Eis que alguém faz o palhaço rir.

Resultados

Assim, Benjamim conseguiu se divertir com a piada do chefe, e adquiriu também o tão sonhado ventilador. Então, toma o caminho de volta a bordo da caçamba de um caminhão de boias-frias. Faz graça para uma moça sentada à sua frente, com truques de cinema mudo, à Chaplin. O palhaço redescobre a alegria de seu oficio. Ele retorna ao circo de seu pai. O ventilador na cena em que ele descansa no circo evidencia que ele trouxe novos ares para sua profissão. Antes disso, ele surge no meio do espetáculo que seu pai apresenta, retomando a vibração da sequência inicial do filme.

Além da descoberta do seu eu interior, Benjamim também ganha forças para recuperar sua alegria porque seu pai largou da namorada que Benjamim sabia que era infiel. Agora, sem esse elemento perturbador, a turma do circo volta a ser uma família.

Selton Mello, diretor

Em “O Palhaço”, o ator Selton Mello dirige seu segundo longa-metragem, empregando uma bela fotografia em tons amarelados, que concedem um tom nostálgico a um tema que pede isso, o circo. A estrutura amarra a estória com coerência, empregando os números circenses para marcar os atos dramáticos do roteiro. Ou seja, a apresentação dos personagens, o fundo do poço do protagonista e a resolução. Consegue belas interpretações de todos atores, inclusive de si mesmo, e ainda conta com participações especiais marcantes, principalmente, a presença camaleônica de Moacyr Franco, bem como a surpresa em trazer de volta o ator Ferrugem, o eterno menino há muito tempo longe de qualquer tela.

Como um número circense, “O Palhaço” consegue encantar com sua simplicidade, tal qual os desenhos usados nos créditos de abertura e fechamento do filme.


Ficha técnica:

O Palhaço (2011) Brasil, 88 min. Dir: Selton Mello. Rot: Selton Mello, Marcelo Vindicato. Com Selton Mello, Paulo José, Larissa Manoela, Giselle Motta, Teuda Bara, Álamo Facó, Cadu Fávero, Erom Cordeiro, Hossen Minussi, Maira Chasseroux, Thogun Teixeira, Michelle Martins, Bruna Chiaradia, Renato Macedo, Tony, Pritty Borges, Fabiana Karla, Jorge Loredo, Jackson Antunes, Moacyr Franco, Tonico Pereira, Ferrugem, Danton Mello, Maria Manoella, Emílio Orciollo Netto, Martha Meola.

Assista: entrevista de Selton Mello sobre “O Palhaço”

Leia também: crítica de “O Filme da Minha Vida

Onde assistir:
O Palhaço (filme)
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