O filme espanhol O Páramo retrata os medos de uma criança em uma fase crucial de seu amadurecimento. A metáfora ganha tons de terror psicológico, daqueles que visam horrorizar o espectador através de seu clima sombrio. Por isso, o longa não investe nos habituais jump scares, nem em terríveis seres sobrenaturais. Como elementos sinistros, o diretor David Casademunt prefere mostrar vermes e um crânio partido.
Segundo o diretor, “O Páramo é uma história de isolamento, emoções e horrores inesperados. Tudo filtrado através dos olhos de uma criança. E o que apoia este filme é o arco de crescimento do menino Diego. O espectador testemunhará sua passagem de criança para adulto, um salto marcado por experiências traumáticas que condicionarão o adulto que ele acabará sendo.” (fonte: Netflix/divulgação)
Isolados no planalto deserto
A história se passa no interior da Espanha, no fim do século 19. Para fugir das guerras, famílias se isolam no campo. É o que faz Lucía com seu filho Diego e seu marido, refugiados em uma pequena fazenda instalada num páramo (que significa um planalto deserto). Porém, como o cinema mostrou em O Farol (The Lighthouse, 2019, Robert Eggers), o isolamento afeta os nervos das pessoas. Assim, o pai não aguenta mais o isolamento e a superproteção da mãe em relação ao filho deles, e arruma uma desculpa para ir embora. Ele diz que precisa levar o corpo do homem que morreu na fazenda até sua família, mas, no fim do filme, vemos que ele deixou o corpo dentro da propriedade.
Sem a presença do pai, Lucía e Diego se sentem fragilizados, apesar de não demonstrarem. O filme revela o medo cada vez maior do menino, que teme uma visita da besta. Segundo seu pai, essa criatura matou sua irmã quando criança, e se alimenta do medo. Com o passar do tempo, a mãe começa a enlouquecer, então, cabe ao garoto enfrentar a besta (que representa seus medos) e avançar além dos limites da propriedade.
Clima sombrio
O capricho na fotografia e na direção de arte ajudam a construir o clima soturno que a trama exige. Porém, o filme aposta demais na ausência da besta materializada na tela, e isso o deixa pouco assustador. É verdade que, em muitos casos, deixar o horror por conta da imaginação do espectador funciona melhor do que mostrá-lo explicitamente. No entanto, o diretor estreante (em longas de ficção) David Casademunt não é capaz de produzir esse efeito.
Enfim, o que resta de interessante em O Páramo são as suas metáforas. Nesse sentido, o vestido vermelho que Lucía coloca na parte final representa um ato enlouquecido de tentar reviver a época em que ela e o marido eram felizes. Mas, os simbolismos mais efetivos são as do menino Diego, que cresceu sob proteção excessiva e, agora, precisa enfrentar seus medos para amadurecer à força. Por isso, encara a besta com coragem e rompe a barreira de segurança da propriedade com um grito silencioso.
Direcionado aos fãs do terror atmosférico de filmes como A Bruxa (The Witch, 2015, Robert Eggers), O Páramo propõe uma temática que se encaixa no enredo, ou seja, o amadurecimento como origem dos medos de uma criança. Porém, David Casademunt não é Robert Eggers, e falha por não colocar elementos de horror suficientes neste filme.
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Ficha técnica:
O Páramo | El Páramo | 2021 | Espanha | 92 min | Direção: David Casademunt | Roteiro: David Casademunt, Martí Lucas, Fran Menchón | Elenco: Inma Cuesta, Roberto Álamo, Alejandra Howard, Asier Flores, Víctor Benjumea.
Distribuição: Netflix.
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