O Peso do Talento (The Unbearable Weight of Massive Talent) é metacinema elevado ao máximo. Seu enredo brinca com a fama que Nicolas Cage adquiriu de fazer um filme atrás do outro, a maioria ruim. De fato, em 2019, foram lançados seis filmes com o ator no elenco. E o próprio Cage interpreta ele mesmo nesse longa, o segundo da carreira do diretor Tom Gormican, de Namoro ou Liberdade (That Awkward Moment, 2014).
No filme, Nicolas Cage sofre para conseguir um novo papel no cinema. Então, aceita receber um milhão de dólares para aparecer numa mansão em Ibiza como convidado especial na festa de aniversário de Javi (Pedro Pascal), um fã milionário. No entanto, a CIA tem certeza de que Javi é o chefão de uma perigosa gangue de traficantes, e recruta Cage para ajudar a resgatar uma menina que ele sequestrou.
É importante esclarecer que o roteiro não invade a privacidade do verdadeiro Nick Cage. Sua vida pessoal no filme é uma versão ficcional. Nela, Sharon Horgan interpreta sua ex-esposa Olivia e Lily Mo Sheen faz a sua filha Addy, com quem não se relaciona bem; na realidade, essas personagens não existem. Essa liberdade criativa se justifica, pois faz parte do arco do seu personagem na história.
Para rir com Cage
Mas O Peso do Talento se destaca mesmo pelo seu lado cômico. Primeiro, porque brinca bastante com fatos da carreira do ator; então, os apreciadores de Nick Cage se esbaldarão com piadas sobre sua carreira na atualidade e com referências a vários de seus trabalhos passados. Aliás, até a ligação com seu tio Francis Ford Coppola entra no filme através da trilha sonora operística em um momento dramático, tal qual Coppola gosta de fazer. Até mesmo diálogos com sua versão mais jovem (criada em computação gráfica) têm lugar na trama.
Por outro lado, como o personagem Cage não é um espião, ele acaba se atrapalhando em sua missão, mas acaba cumprindo-a, de um jeito ou de outro. Hilário, esse humor físico acaba lembrando o genial Peter Sellers como o inspetor Jacque Clouseau na trilogia Pantera Cor-de-Rosa. E, ainda por cima, o ator Pedro Pascal acaba sendo outro destaque, num papel com diferentes facetas: um fã meio doido, um perigoso bandido e um herói.
Da mesma forma, o diretor Tom Gormican revela talento ao transitar entre os diferentes tons da trama, que vão da comédia pastelão ao policial violento, da aventura da fuga ao drama familiar. Com destaque especial para a cena em que ele justapõe o rosto de Nicolas Cage ao da sua estátua de cera, refletindo a dúvida do personagem sobre o que fazer naquele momento.
O Peso do Talento é um dos raros casos em que uma ideia brilhante acaba, de fato, se tornando um ótimo filme. Divirta-se à beça (e depois vá ver Paddington 2)!
