O Primeiro Dia da Minha Vida promete ao espectador a revitalização das esperanças, aquela dose de ânimo que todos precisam em algum momento.
No filme, um homem com poderes extraordinários (Toni Servillo) tem a missão de dar uma nova chance a pessoas que cometeram ou tentaram o suicídio. Desta vez, ele atende a um grupo formado por: Arianna (Margherita Buy), uma policial que nunca superou a morte da filha adolescente; Emilia (Sara Serraiocco), uma jovem ginasta que ficou paralítica das pernas; Napoleone (Valerio Mastandrea), um palestrante de autoajuda que perdeu sua motivação; e Daniele (Gabriele Cristini), um menino de dez anos que sofre isolamento social porque faz vídeos onde aparece comendo quantidades absurdas. O homem acompanha o grupo durante sete dias, que é o tempo que ele concede para essas pessoas repensarem a decisão delas.
A premissa lembra o clássico A Felicidade Não Se Compra (It’s a Wonderful Life, 1946). Mas agora os protagonistas não vão ver como seria o mundo sem eles. Ao invés disso, eles têm a oportunidade de testemunhar os impactos de suas mortes, seja em suas famílias, em seu amigo (no caso da policial) ou na mídia (para a ginasta). O menino, na verdade, não chega a morrer, mas fica em coma – talvez uma concessão do roteiro por ser uma criança.
Sem esperanças
Com isso, o filme, que começa e termina numa noite chuvosa, permanece sombrio até o seu final. Os quatro suicidas mais confirmam os motivos de suas desesperanças do que encontram uma perspectiva otimista da vida. A exceção está no sexto dia, quando o homem permite que eles possam sentir o prazer de comer e beber durante um almoço à beira da praia num dia ensolarado. O máximo que o enredo faz, no sentido de evitar a tal decisão drástica de interromper a vida, é argumentar que a felicidade é um estado fugaz, na visualmente bela cena com as luzes das casas vistas de longe numa panorâmica da cidade à noite. A fotografia noturna, deve-se apontar, captura toda a fotogenia das molhadas ruas de pedra em Roma.
A respeito dessa questão, o roteiro mete os pés pelas mãos. Poderia mostrar os protagonistas descobrindo que vale a pena viver, mas o filme se concentra em construir a mitologia desses anjos salvadores. Por isso, introduz uma colega do homem místico, cuja finalidade na trama é dialogar sobre como eles trabalham. Aliás, a conclusão comprova que os realizadores apostam mesmo que esse mito por si só pode encantar o público. Mas, não há surpresas quanto a esse final (o homem comenta sobre o processo durante a estória) e nem quanto a quem será o mais novo anjo. Enquanto isso, a questão mais importante fica de lado, e o filme não justifica suficientemente o que faz os outros três suicidas mudarem de opinião.
Então, a promessa de revitalização das esperanças nunca se cumpre. É como na cena em que o anjo concede ao menino seu desejo de voar – mas eles levitam apenas alguns centímetros do chão. Não é o suficiente. O Primeiro Dia da Minha Vida dificilmente fará alguém sair do cinema animado, muito menos mudará a decisão de um suicida (o que nenhum filme pode fazer). Talvez possa, se tanto, encontrar candidatos a novos anjos.
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Ficha técnica:
O Primeiro Dia da Minha Vida | Il primo giorno della mia vita | 2023 | 121 min | Itália | Direção: Paolo Genovese | Roteiro: Paolo Genovese, Isabella Aguiar, Paolo Costella, Rolando Ravello | Elenco: Toni Servillo, Valerio Mastandrea, Margherita Buy, Sara Serraiocco, Gabriele Cristini, Lidia Vitale, Antonio Gerardi, Vittoria Puccini, Thomas Trabacchi.
Distribuição: Pandora Filmes.
Assista ao trailer aqui.