O Que Eu Mais Desejo é mais um drama familiar do cineasta japonês Hirokazu Koreeda, especialista no gênero. Não está no mesmo nível de seus Assunto de Família (2018) e Pais e Filhos (2013), mas entrega o que se espera de um bom filme para toda a família protagonizado por crianças.
Sua trama possui um forte apelo emocional, por sua própria natureza. Dois irmãos, Koichi (o mais velho) e Ryu precisam viver em cidades diferentes por conta da separação de seus pais. Koichi mora em Kagoshima com a mãe e os avós e Ryu em Fukuoka com o pai. Há seis meses eles não se veem e Koichi descobre a solução para reunir os quatro sob o mesmo teto. Ele ouve que, quando dois trens em alta velocidade se cruzam, se você pedir por um milagre, ele se realiza.
Então, Koichi quer aproveitar a inauguração de um novo trem-bala para fazer seu pedido. Ele deseja que o vulcão de sua cidade force a família a viver junta como antes. Assim, esse fiapo de trama movimenta a história. Koichi combina com Ryu de se encontrarem no local onde ocorrerá esse cruzamento de trens e para lá vão os dois, acompanhados de seus amigos, todos crianças.
Multipersonagens
O filme não se deixa sufocar centrando-se apenas na vida dos dois irmãos. Os vários personagens periféricos enriquecem a história com suas particularidades. Com isso, se aproxima dos filmes com multipersonagens, apesar de não se diluir tanto. O foco, essencialmente, continua em Koichi e Ryu. Mas, em paralelo, conhecemos as pessoas ao seu redor. O pai continua a alimentar seu sonho de ganhar a vida como músico, o que sempre desagradou a mãe, que é mais realista. O avô, apesar da idade, quer empreender um novo negócio de doces com os amigos, aproveitando as oportunidades oriundas do novo trem-bala. Um amigo de Koichi se apaixona por uma professora, e outro quer que seu cão ressuscite. Do lado de Ryu, uma amiga quer ser atriz, outra desenhar bem, e um garoto deseja correr rápido.
Koreeda constrói esse pequeno universo de pequenas ilusões com otimismo ingênuo próprio de uma criança. Então, aguardamos o desfecho, nos indagamos como ele trabalhará essa conclusão sem romper esse fluxo nem desandar para uma pieguice. Pois a solução nos surpreende com o amadurecimento dos irmãos. Na hora H, Ryu deseja que o pai dê certo em sua carreira, e Koichi não pede nada, pois prefere se adaptar a essa nova situação do que desejar uma coisa que, por seu egoísmo, prejudicará as outras pessoas.
Essa colorida colcha de retalhos diversificados, que são as micro histórias reunidas pelo forte fio do bom senso que os costura. Por isso, a pequena aventura dispara o início de alguns pedidos (das meninas que querem dançar ou desenhar) que dependem de atitude, já os demais seriam mesmo milagres (aliás, milagre é a tradução de “Kiseki”, o título original).
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Ficha técnica:
O Que Eu Mais Desejo | Kiseki | 2011 | Japão | 128 min | Direção e roteiro: Hirokazu Koreeda | Elenco: Koki Maeda, Oshiro Maeda, Ryoga Hayashi, Seinosuke Nagayoshi, Kyara Uchida, Kanna Hashimoto, Rento Isobe, Nene Ohtsuka, Joe Odagiri, Yui Natsukawa, Masami Nagasawa, Hiroshi Abe, Yoshio Harada, Kirin Kiki, Yuri Nakamura.