O menos badalado dos indicados ao Oscar de melhor filme deste ano, O Reformatório Nickel (Nickel Boys) é também o mais autoral. O longa de estreia de RaMell Ross se caracteriza com um filme de direção. Traz trechos beirando o experimental, com montagens diversas de registros documentais ou de imagens poéticas, sua maior ousadia está na opção de filmar quase tudo com a câmera subjetiva. E não apenas do protagonista principal, mas também do protagonista secundário.
Elwood (Ethan Herisse) possui um protagonismo maior por ter sua origem apresentada no filme. Ele é um jovem estudante com grande potencial, e ganha uma bolsa de estudos em uma prestigiada escola. Mas, no caminho, sem saber aceita a carona em um carro roubado, e acaba no Reformatório Nickel, que segrega os internos brancos dos negros. A narrativa, até então em câmera subjetiva de Elwood, se transfere, após uma sequência de time lapse filmada de dentro de um vagão de trem com a porta aberta, para o outro protagonista Turner (Brandon Wilson), outro interno do reformatório.
Filme denúncia
O Reformatório Nickel é baseado em eventos reais. Adaptação do romance “The Nickel Boys”, de Colson Whitehead, o filme se inspira nos eventos reais que aconteceram na Dozier School for Boys, um reformatório juvenil na Flórida que operou por mais de um século e ficou marcado por abusos, violência e mortes de jovens internos. As cenas com Elwood adulto, inseridas no meio da trama, revelam descobertas de vários corpos das vítimas que foram encontrados no local.
Esses horrores entram no filme com esse estilo artístico. Situações banais ganham, assim, uma beleza especial. Como, por exemplo, o reflexo do menino Elwood no ferro de passar que vai e vem. Ou as mulheres negras conversando vistas através da imagem refletida na vitrine de uma loja que vende televisores. Quando Martin Luther King aparece na televisão, todas se viram para assistir. Nos trechos com Elwood adulto, a câmera está nas costas dele, para deixar clara essa sua idade. Não ficam de fora, também, simbolismos como o jacaré nas ruas e em outros lugares.
Não é um filme fácil de se assistir, mais voltado para a forma do que para o conteúdo. Mas, que por isso mesmo merece uma atenção especial que vai além da denúncia inerente a sua trama.
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Ficha técnica:
O Reformatório Nickel | Nickel Boys | 2024 | 140 min. | EUA | Direção: RaMell Ross | Roteiro: RaMell Ross, Joslyn Barnes | Elenco: Ethan Herisse, Brandon Wilson, Aunjanue Ellis-Taylor, Hamish Linklater, Fred Hechinger, Daveed Diggs, Ethan Cole Sharp, Jimmie Fails, Gralen Bryant Banks, Bryant Tardy, Bryan Gael Guzman, Robert Aberdeen, Luke Tennie, Escalante Lundy, Craig Tate.