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O Rei da TV (série)
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O Rei da TV

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Enfim, uma das figuras mais populares do Brasil ganha sua biografia na telinha. Mas, sinal dos tempos, não na TV aberta que o consagrou, e sim numa série feita para o streaming. O lançamento da produção acontece num momento propício, enquanto o Rei da TV, Silvio Santos, ainda marca presença em seu tradicional programa de domingo, e o seu público – suas colegas de trabalho, como ele costuma chamá-lo – ainda está vivo. Afinal, será inevitável que as novas gerações se distanciem cada vez mais dos programas da TV aberta.

Um dos pilares da série O Rei da TV, assim, é a nostalgia. Por isso, não faltam recriações dos programas que Silvio Santos apresentou, desde seu início na TV Globo até a necessidade de se modernizar dando espaço para o apresentador mais novo da sua emissora SBT, o Gugu Liberato. Quem assistia, voltará no tempo ao rever o programa de calouros, em várias de suas fases, os seus jurados carnavalescos, as apelações como a banheira do Gugu – há espaço até para citações às inúmeras reprises de filmes classe C como A Gangue dos Dobermans.  

Os bastidores da TV

Outro ponto de sustentação da série que fisga o espectador é a oportunidade de espiar os bastidores da indústria televisiva. Silvio Santos usou a seu favor a sua origem humilde, estampada no primeiro capítulo que mostra seu conhecido começo como camelô nas ruas do Rio de Janeiro. Desde que começou a apresentar programas, ele sabia como se comunicar com esse público de classe baixa que, como todos sabem, é a maioria da população brasileira. Por isso, sempre conseguiu um volume de audiência gigantesco. Isso o ajudou também como empresário, ao investir no seu Baú da Felicidade e em outros ramos que também tinham o mesmo público-alvo.

Por outro lado, o enredo revela o que poucos sabem: que Silvio Santos sempre se ressentiu pelo desprezo que sofreu dos outros magnatas da televisão, num inegável caso de preconceito social. Por exemplo, de forma disfarçada, mas não muito, a série coloca como seu rival de sempre o personagem Rossi, que é uma versão fictícia do Boni, o diretor da concorrente Globo. Em meio a tudo isso, se sobressai o grande trunfo de Silvio Santos, que fez dele um grande vencedor. Como a personagem Íris Abravanel (sua segunda esposa) diz, ele sabia apertar as mãos certas. De fato, Silvio Santos tinha acesso direto a vários dos presidentes e pessoas importantes do país. Mas, acima disso, ele sabia como apertar as mãos. Dessa forma, conseguiu driblar a censura na época da ditadura militar e até a falência por conta do rombo em seu banco.

Vida pessoal e estrutura narrativa

Por fim, o outro tripé da narrativa é a vida pessoal de Silvio Santos que apela para a curiosidade de milhões de espectadores em conhecer mais sobre essa figura que os acompanha por décadas. Nesse aspecto, a série constrói os trechos de maior drama. Entre eles, a consciência pesada na morte de sua primeira esposa que ele negligenciou, o desprezo de sua filha que sentia vergonha de seus programas, e o episódio do sequestro. Com isso, a série agarra a oportunidade de humanizar o protagonista.

A narrativa se desvencilha das armadilhas das biografias, que tendem naturalmente a uma impiedosa previsibilidade. O que, aliás, seria letal em se tratando de uma figura pública tão grandiosa como o Silvio Santos. Em outras palavras, se a série seguisse uma ordem cronológica básica, o espectador já saberia o que viria nos próximos capítulos da série conforme ela avançasse. Espertamente, os criadores da série dividem a narrativa em dois grandes momentos que se intercalam na estrutura da trama. Uma retrata o Silvio Santos jovem, até a morte da primeira esposa; a outra o restante da vida do apresentador. Inclusive, a série utiliza dois atores diferentes. Mariano Mattos Martins faz o protagonista jovem e José Rubens Chachá o mais maduro. Além disso, a série apresenta alguns fatos sem seguir a linha temporal, reunidos de acordo com o momento dramatúrgico mais adequado, o que também é outro de seus pontos fortes.

Produção caprichada

No geral, a produção é quase de primeira. Não chega a recriar os palcos e os auditórios dos programas televisivos em suas reais dimensões ou características. A quantidade de figurantes, como sempre, serve de parâmetro para o quanto foi o limite do orçamento. Mas, para compensar, as filmagens se deslocam por várias locações, inclusive nos Estados Unidos. E, merecem elogios tanto elas como os cenários construídos com a preocupação de serem fieis às épocas retratadas.  

O que faz falta, acima de tudo, é uma preocupação em criar personagens fisicamente muito parecidas com os retratados. Os atores principais Mariano Mattos Martins e José Rubens Chachá (este principalmente) contornam essa não semelhança imitando os trejeitos de Silvio Santos. Aliás, se você fechar os olhos e só ouvir as suas interpretações, facilmente acreditará que está ouvindo o próprio Silvio, até mesmo em cenas que retratam sua vida pessoal. Mas os demais coadjuvantes se parecem pouco com os originais – os calouros, por exemplo, parecem até recriações caricatas. Causa estranheza, também, que o Silvio Santos mais jovem suma da série antes de seu final – talvez uma distribuição diferente das duas linhas narrativas pudesse resultar numa reta de chegada coincidente e, com isso, uma impressão de maior naturalidade nesse quesito.

De qualquer maneira, os diretores dos episódios traduzem com competência esse enredo que mistura comédia e drama. Com isso, O Rei da TV flui facilmente e prende a atenção do primeiro ao último capítulo. Com certeza, seria um campeão do Ibope se fosse exibida no SBT.

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Ficha técnica:

O Rei da TV | 2022 | Brasil | 2 temporadas | 16 episódios | Criado por: André Barcinski, Ricardo Grynszpan, Marcus Baldini | Elenco: José Rubens Chachá, Mariano Mattos Martins, Leona Cavalli, Roberta Gualda, Emílio de Mello, Leandro Ramos, Larissa Nunes, Cássia Damasceno, João Campos, Paulo Nigro, Celso Frateschi, Cláudio Márcio, Guilherme Reis, Gabriela Borer, Bárbara Maia, Ary França.

Onde assistir:
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