O Ritual: Presença Maligna não consegue ser o filme assustador com crítica política que pretende ser. O diretor inglês Christopher Smith já realizou trabalhos melhores dentro do gênero, como Triângulo do Medo (Triangle, 2009), mas aqui se preocupa demais em criar um terror atmosférico, e acaba deixando a narrativa solta. Como resultado, a história não avança e ainda se torna confusa.
No filme, vemos vários incidentes sobrenaturais. Nesse sentido, objetos se movem, versões alternativas dos personagens espiam através de buracos na parede ou do espelho, alucinações com monges com o rosto com lesões, e alguns sustos (não eficientes) predominam na tela. O objetivo de tudo isso é criar uma atmosfera sombria. Contudo, não há nenhuma imagem realmente assustadora, e, para piorar, não acreditamos que os protagonistas corram algum perigo. Apesar do foco em construir uma atmosfera aterrorizante, o diretor Christopher Smith nunca atinge esse objetivo.
Os personagens
Para o bem da produção, os personagens parecem interessantes. A protagonista Marianne Forster (a competente Jessica Brown Findlay) é uma mãe solteira, que havia dado sua filha Adelaide (Anya McKenna-Bruce) para adoção. Porém, o vigário Linus Forster (John Hefferman) se casa com ela e Adelaide volta para a mãe. Após anos em uma viagem missionária, os três reiniciam a vida juntos em uma velha casa de propriedade da Igreja. Mas, Linus tem dificuldade em fazer sexo com a esposa, porque ele vê o sexo como pecado e nisso pesa o fato de ela ter sido mãe solteira. Enquanto isso, Adelaide, já sob influência da casa, questiona se Marianne realmente é a sua mãe. Por outro lado, Marianne quer tomar uma posição ativa em relação à guerra contra os fascistas (a história se passa nos anos 1930). Enfim, personagens ricos em nuances.
Ainda sobre os personagens, o destaque negativo fica para o ocultista Harry Reed. Talvez a culpa não seja do ator que o interpreta – Sean Harris, que está em Spencer (2021), Missão Impossível: Efeito Fallout (2018), Missão Impossível: Nação Secreta (2015) e Macbeth: Ambição e Guerra (2015). O problema é que esse personagem, com um figurino e maquiagem que o aproximam de um boneco, não parece apenas artificial, chega até a ser ridículo. E, o pior é que desvia a atenção da trama.
O sobrenatural e as críticas
A ameaça sobrenatural em O Ritual: Presença Maligna se origina nos séculos anteriores, quando os monges mutilaram uma mãe grávida naquele local. E, seu fantasma atormenta os novos moradores desta propriedade ainda pertencente à Igreja. Por exemplo, antes dos Forsters, outro vigário havia enlouquecido e assassinado sua esposa na casa, crime que o bispo acobertou. Agora, a força de Marianne poderá, finalmente, acabar com essa maldição dando à falecida e à sua filha o devido enterro religioso.
Em meio à busca pelo terror atmosférico, identificamos críticas à Igreja e ao nazismo. A questão religiosa se sobressai com mais evidência, e se concentra na sua intolerância. No passado, levou a mortes injustificáveis, como a da mãe solteira que agora atormenta a casa. Mas, no presente, continua a atormentar, tanto que Linus entende que seria pecado fazer sexo com sua esposa. Quanto ao nazismo, a crítica surge de forma nebulosa, pois vemos o bispo desenterrando os corpos da mãe e da filha, que finalmente encontram seu descanso, e levando-os para um oficial nazista. Não fica claro o motivo. Seria para usar como arma? Ou simboliza que o mal continua a reinar na Terra, e por isso Adelaide segura a boneca na cena final?
Enfim, em meio a esses objetivos não alcançados (o terror atmosférico e as críticas à religião e ao nazismo), resta apenas o arco do personagem Linus. De forma evidente, Marianne consegue mudar o seu marido, que deixa sua atitude passiva em relação à guerra, proferindo um sermão na cena final no qual insurgem para que todos façam a sua parte para evitar o avanço dos fascistas. Assim, pouco se aproveita de um filme que prometia terror atmosférico e críticas sérias.
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Ficha técnica:
O Ritual: Presença Maligna | The Banishing | 2020 | Reino Unido | 97 min | Direção: Christopher Smith | Roteiro: David Beton, Ray Bogdanovich, Dean Lines | Elenco: Jessica Brown Findlay, John Heffernan, Anya McKenna-Bruce, Sean Harris, Adam Hugill, John Lynch, Jean St. Clair, Jason Thorpe.
Distribuição: Playarte.