O documentário O Território se alinha a outras produções, como o recente A Última Floresta (2021), para levar ao público nacional e internacional a atual situação das tribos indígenas na Floresta Amazônica. Desta vez, a atenção cai sobre a pouco conhecida tribo Uru Eu Wau Wau.
Fosse esta uma história ficcional, a ativista Neidinha Bandeira ocuparia o papel da heroína protagonista. Na verdade, não importa o gênero deste filme, pois definitivamente sua atuação é digna de qualquer personagem que realiza feitos extraordinários. Seus poderes especiais incluem a dedicação e a coragem, pois só assim enfrenta o medo de ver sua filha ameaçada pelos grileiros, os invasores do território dos índios.
Apenas duzentos Uru Eu Wau Waus continuam vivos. Para piorar, acompanhamos a indignação de Neidinha ao contar as vítimas da Covid-19, que representam 5% dessa já diminuta população sobrevivente. Porém, o pesadelo maior vem antes, quando os índios assistem na televisão trechos da campanha de Jair Bolsonaro, então candidato à presidência do Brasil. Suas promessas de palanque soam como ameaças para a tribo, pois ele promete acabar com os obstáculos para a atividade rural. Logo, sua vitória na eleição provoca imediata tristeza nos índios e em Neidinha, e o filme de Alex Pritz corta para imagens dos grileiros entrando na reserva territorial dos Uru Eu Wau Waus, certos de que não sofrerão reprimendas do governo.
O outro lado
O Território surpreende por mostrar, também, quem são esses invasores. Eles se apoiam mutuamente através de uma associação e se mostram como trabalhadores rurais em busca de melhores condições para suas vidas. Assim, eles defendem a tomada da terra dos índios como se essa não tivesse dono. Contudo, o que, para os grileiros, representa apenas uma solução para trabalhar e ganhar um sustento por conta própria, tem um contrapeso que é a ocupação ilegal da reserva, uma visão que eles não compartilham com os índios.
No entanto, apesar de revelar esse lado dos grileiros, O Território assume sua posição opositora. E, isso vem de forma contundente, além dos discursos ou depoimentos, quando o índio Ari, pertencente ao Uru Eu Wau Wau, é assassinado. As investigações não encontram o culpado, mas evidenciam o perigo que representam os invasores. E, isso fica provado quando uma patrulha dos índios encontra um deles, armado, dentro de suas terras.
No entanto, ainda que o documentário registre a situação trágica que enfrentam os Uru Eu Wau Waus, o desfecho consegue trazer esperança. Os jovens da tribo, que falam português e ainda aprendem a lidar com a tecnologia, podem virar o jogo. Para isso, suas ferramentas não são armas. São drones e câmeras para lançar o alerta à grande imprensa (um marco é o noticiário da Rede Globo) e, também para localizar e expulsar os invasores.
Selecionado para o 27º É Tudo Verdade, O Território venceu os prêmios do público e da crítica de Trabalho Documental no Festival de Sundance de 2022.
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Ficha técnica:
O Território | The Territory | 2022 | Brasil, Dinamarca | 93 min. | Direção: Alex Pritz. | Com Neidinha Bandeira, Bitaté Uru Eu Wau Wau.
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