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O Último Duelo (filme)
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O Último Duelo | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
6/10

6/10

Crítica | Ficha técnica

No cinemão hollywoodiano atual, salvo raras exceções, um filme tem mais chance de não ser execrável conforme o número de sequências de ação for menor. Num filme recheado delas, dada a indigência com que são filmadas hoje em dia, as chances de termos um tremendo abacaxi são bem grandes.

O que pensar, então, de O Último Duelo, que praticamente começa com uma cena de batalha? Felizmente, ela é curta, e logo teremos uma cena de diálogo entre Matt Damon e Adam Driver em que o senso clássico de composição do diretor Ridley Scott se impõe e o filme ganha alguma força inicial para queimar.

Damon interpreta o cavaleiro Sir Jean de Carrouges, Driver é seu amigo escudeiro Jacques Le Gris, que obtém favores dos mais poderosos por ser um bajulador. A esposa de Jean, Marguerite (Jodie Comer), acusa Jacques de estupro, e o rei Charles VI determina que só um duelo entre os dois amigos resolverá a questão.

Múltiplas versões

O roteiro, escrito por Nicole Holofcener, Ben Affleck e Matt Damon a partir do livro de Eric Jager, aposta no formato das múltiplas versões, a verdade dos três personagens principais, inspirado no clássico Rashomon (1950), de Akira Kurosawa, no qual também acontece um estupro. Talvez por isso o filme tenha um estilo de jidaigeki, imitando, nos melhores momentos (um deles certamente é o duelo final), o tipo de cinema de ação feito no Japão. Nos piores, assume a prática de deixar o espectador perdido no meio da ação como forma de economizar com coreografia e tempo de filmagem.

Mas, cenas de ação são minoritárias, já que é a questão do estupro que ocupa a maior parte do filme. Curiosamente, Adam Driver compõe um Jacques Le Gris asqueroso, do tipo que usa de seu poder misterioso de sedução para se aproveitar de todas as mulheres e manipular seu senhor, Pierre (Ben Affleck), primo do rei. Isso é visto mesmo a partir de sua própria verdade, o que é curioso, já que seria, em tese, a história mais favorável a ele.

Possuir a esposa daquele que outrora foi seu grande amigo, pelo que vimos a partir de sua própria visão da história, após várias negativas dela, faz dele um ser realmente abjeto, que acredita que a mulher nega por esporte, porque na verdade quer dizer sim. Pensava-se assim no século 14? Provavelmente. Mas, a própria história o coloca num lado terrível dos fatos. É o vilão, declaradamente, por mais que Sir Jean seja deplorável.

A verdade

A versão de Jean de Carrouges é a primeira mostrada pelo filme. Sofre por ser introdutória e apresentar os personagens. Com a repetição, o filme torna-se menos enfadonho, por incrível que pareça, ainda que as duas primeiras verdades sejam muito próximas.

Já a terceira verdade, a de Marguerite, é apresentada pelo filme como “a verdade”, o que além de parecer oportunismo compensatório após tudo que vimos, trai o princípio de Nasrudin, segundo o qual não existe uma única verdade, mas a verdade de cada um. Nasrudin, por sinal, era um contador de histórias do século 14 – ou do século 13, já que há controvérsia sobre a época em que viveu.

Uma coisa, no entanto, deve ser dita. Marguerite é a personagem mais decente do filme em qualquer uma das verdades. Ela, logo se percebe, tal qual nos jidaigekis que Scott procura imitar, é a vítima das circunstâncias, a reserva de decência e recusa de um mundo brutalizado. Logo, é bem provável que a sua verdade, sem ser “a verdade” definitiva, como prega a narrativa, o que seria impossível, seja a mais próxima dos fatos.

A questão que persiste é: deve-se filmar o estupro? A meu ver, raramente se deve, por ser uma violência brutal, um crime hediondo. Marguerite é uma mulher lúcida em tempos selvagens. Está entre a brutalidade do marido e a bestialidade daquele que a violentou. Nesse último duelo, não há lado bom da história. Mas, convém lembrar, a história é cíclica. Não estamos tão distantes assim desse estado de coisas.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

O Último Duelo | The Last Duel | 2021 | EUA, Reino Unido | 92 min | Direção: Ridley Scott | Roteiro: Nicole Holofcener, Ben Affleck, Matt Damon | Elenco: Matt Damon, Adam Driver, Jodie Comer, Harriet Walter, Ben Affleck, Alex Lawther, Marton Csokas, William Houston, Oliver Cotton.

Distribuição: Disney.

Trailer:

Onde assistir "O Último Duelo":
O Último Duelo (filme)
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