À primeira vista, temos a impressão que Operação Fronteira é um filme sobre um audacioso roubo. O plano é assaltar a casa de Lorea, um poderoso chefão da droga em um país da América Latina e eliminá-lo. O policial Pope (Oscar Isaac) propõe a ideia, e recruta quatro ex-companheiros do exército para executá-lo. São eles: o antigo capitão Redfly (Ben Affleck), Catfish (Pedro Pascal) e os irmãos Ironhead (Charlie Hunnan) e Ben Miller (Garrett Hedlund). Adicionalmente, contam com a ajuda da namorada de Pope, Yovanna (Adria Arjona), infiltrada como entregadora de Lorea.
O roubo se resolve no primeiro terço do filme. Então, o maior desafio será transportar as centenas de milhões de dólares através da selva e dos Andes até chegar ao mar, onde um barco os aguarda. Além da dificuldade de carregar a pesada carga, o grupo precisa fugir da perseguição dos homens de Lorea e de inimigos que fazem pelo trajeto.
Crítica ao materialismo
Há uma crítica ao materialismo em Operação Fronteira, em especial ao dinheiro, na trajetória desses anti-heróis. Pope possui uma missão pessoal mais elevada, no seu anseio em eliminar do mundo o mal que o bandido Lorea representa. Fora isso, todos concordam com o plano do roubo pelo dinheiro. O que atrapalha o golpe é a quantidade absurdamente grande de dinheiro que eles encontram escondido nas paredes da casa do traficante. Assim, começa um processo que levará o filme todo, constituído do desprezo cada vez mais acentuado pelas notas de dólares.
Inicialmente, devem abandonar a maior parte do dinheiro escondido na casa, porque já encheram o furgão que será usado na fuga. Ao chegarem ao heliporto, deixam lá algumas sacolas de dinheiro, porque o helicóptero não consegue carregar tudo. Além disso, três milhões ficam com Yovanna e seu irmão, pelo serviço que executaram no roubo. Por fim, durante o voo, o grupo precisa jogar fora mais dólares para aliviar o peso, pois o helicóptero não consegue sobrevoar os Andes com toda a carga.
Em seguida, depois de um pouso forçado, entregam quase um milhão para o chefe da vila local, pelos danos causados. Sem o transporte aéreo, caminham em mulas, e uma delas cai de um penhasco com sua carga de dinheiro em espécie. Para enfrentar o frio das geleiras da montanha, queimam algumas notas para se aquecerem. No último trecho até o litoral, se desfazem da maior parte do roubo, porque resolvem levar somente o que cabe nas suas mochilas, já que enfrentarão guerrilhas mais à frente. No final, todos ficam sem nada.
Oferta e demanda
Essencialmente, a estória representa uma alegoria sobre a regra da economia de oferta e demanda. Nesse sentido, a quantidade de dinheiro que encontram no roubo é tão absurda que a grana se torna menos valiosa. Então, conforme a jornada avança, o montante vai diminuindo, até que a última parte seja revertida para uma boa causa. Por fim, os soldados aprendem que há coisas mais valiosas no mundo do que dinheiro.
Porém, esse desprendimento joga contra Operação Fronteira. A partir da revelação de quanto dinheiro o grupo pode roubar do bandido – na verdade, um exagero até – o espectador logo antecipa que a melhor opção seria, desde o início, carregar apenas o suficiente para cada um viver uma vida de milionários. Dessa forma, o roubo parece fácil demais e a insistência em levar mais do que se pode carregar soa uma grande tolice enerva o espectador. Afinal, esse processo se repete, sempre provando que largar parte do roubo representa a decisão mais inteligente. Contudo, parece que o grupo nunca aprende.
Em suma, não há muita emoção em Operação Fronteira, nem no roubo nem na travessia pelas montanhas nevadas e pela selva. A empolgação da canção “For Whom The Bell Tolls”, do Metallica, no inicio do filme se perde durante suas duas horas de duração. A outra composição dessa banda, apresentada nos créditos finais, a instrumental “Orion” representa melhor, em sua segunda parte, a frustração que o filme deixa. É mais uma produção da Netflix que, mesmo recheada de nomes conhecidos no elenco, não dá certo.
