Os 20 melhores filmes de 2023 | por Sérgio Alpendre

Os melhores filmes de 2023 por Sérgio Alpendre

Chegamos ao momento de passar em revista o ano de 2023. Como sempre, contam as estreias de filmes com datas de primeira exibição pública nos últimos cinco anos. Ou seja, se um filme passou em algum festival de 2018 em diante, mas só estreou em 2023, está valendo. Só valem estreias no circuito comercial ou em plataformas de streaming.

Regras apresentadas, vamos a duas breves questões preliminares.

a) O cinema brasileiro bem representado

Não me lembro de uma lista anual minha (e as faço há pelo menos uns 20 anos) que tivesse tantos filmes brasileiros, e mesmo um no primeiro lugar.  Na verdade, não lembro de alguma que tenha mais de três brasileiros. No ano passado, só dois filmes brasileiros entraram na lista, em 18º e 20º lugares. Neste 2023 foram sete, incluindo o primeiro. É uma marca incrível, difícil de superar, mesmo que nem todos sejam de 2023 ou 2022. Há três filmes de 2020 e um de 2021, por exemplo. Mesmo assim, significa que podemos deixar de comemorar quantidade para comemorar qualidade dentro da quantidade. Fazemos muitos filmes, apesar dos quatro anos de destruição atravessados pelo cinema brasileiro. Continuamos produzindo, mas com melhor qualidade. Talvez seja possível, finalmente, dizer que o cinema brasileiro é um dos melhores da atualidade.

b) Falta do Kaurismaki

Qualquer lista de melhores de um ano feita antes que esse ano acabe corre o risco de ter algumas ausências. Nesta lista, uma em particular foi dolorida: Folhas de Outono. Tecnicamente, o último filme de Aki Kaurismaki é uma estreia comercial de 2023, já que passou no circuito comercial de alguns cinemas brasileiros. Infelizmente, a plataforma Mubi, detentora dos direitos de lançamento do filme e uma espécie de Netflix com verniz de cinefilia burguesa, parece não reconhecer a existência de Porto Alegre, e os exibidores da capital gaúcha aparentemente não se mexeram para ter o filme em suas salas. Acho possível que esse filme estivesse entre os vinte melhores do ano, caso seja mesmo um dos pontos altos de seu diretor. Paciência. Irei, então, concentrar a atenção no que pude ver entre as estreias em cinema ou em streaming, que não foi pouco.

Os 20 melhores filmes de 2023

01. Capitu e o Capítulo (2020), de Júlio Bressane

Bressane teve dois filmes exibidos em festivais neste ano, mas seu melhor dos últimos tempos é esta pérola que adapta a poesia de Machado de Assis para o seu cinema. Djin Sganzerla é apresentada com louvor ao universo poético bressaneano e Vladimir Brichta tem talvez sua maior interpretação.

02. John Wick 4 – Baba Yaga (John Wick Chapter 4, 2023), de Chad Stahelski

Uma atualização possível dos policiais de Hong Kong dos anos 1980 e 1990 para um ambiente todo dominado por assassinos profissionais, que viajam pelo mundo por uma rede de transportes a que só eles têm acesso. O oposto do filme de Bressane, comprovando que o cinema pode ser muitas coisas. E pode ser de ação, sim. (leia a crítica de Sérgio Alpendre)

03. Onde Fica Esta Rua? ou Sem Antes Nem Depois (2023), de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata

Espelhamento emotivo de uma cinefilia, Rodrigues e Guerra da Mata entenderam muito bem a importância de Os Verdes Anos como representação de uma Lisboa que explodia em urbanidade nos anos 1960 e procuraram entender a cidade pelos mesmos lugares, quase 60 anos depois.

04. Afire (2023), de Cristian Petzold

Petzold continua na ascendência com este belíssimo filme sobre inspiração, concentração e sobrevivência, único de seus melhores trabalhos que tem protagonista masculino.

05. Mato Seco em Chamas 2022), de Adirley Queirós e Joana Pimenta

Se não é superior a Era Uma Vez em Brasília, ao menos mantém o mesmo nível de invenção e criação de um universo muito particular. O cinema brasileiro também pode ser muitas coisas, e este filme é a prova. Político, sim, mas sobretudo uma peça de um imaginário, em que a política está nas entranhas, não em pregações.

06. Os Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon, 2023), de Martin Scorsese

Falaram que Scorsese está acadêmico, justamente por este filme, o mais arriscado formalmente que realizou desde Gangues de Nova York. O momento em que o rancho do personagem de Robert De Niro pega fogo proporciona alguns momentos de puro delírio visual. (Leia a crítica de Sérgio Alpendre)

07. Sem Ursos (Khers Nist, 2022), de Jafar Panahi

Outro filme político que dá vazão a um imaginário muito forte, quase sempre a melhor maneira de se fazer cinema político. Filme da desilusão e do desencanto, com a velha habilidade dos grandes diretores iranianos para brincar com instâncias narrativas. (Leia a crítica de Sérgio Alpendre)

08. Asteroid City (2023), de Wes Anderson

A maior concentração de “wesandersonismo” da história do cinema, o que pode ter afastado até alguns admiradores ocasionais do diretor, sem angariar novos seguidores. Um ato de coragem de um autor amado e odiado em altas medidas. (Leia a crítica de Sérgio Alpendre)

09. Batem à Porta (Knock at the Cabin, 2022), de M. Night Shyamalan

Quarto grande filme de Shyamalan, após Corpo Fechado, A Vila e Fim dos Tempos, me lembrou, em certo aspecto, o recente The Menu, na ideia de que tanto faz morrer por um tiro ou pelo fim do mundo (alegórico ou real).

10. Luz nos Trópicos (2020), de Paula Gaitán

O ápice de uma autora à procura de sua poética. Explicitar os meandros dessa busca é permitir que acompanhemos as descobertas. Belíssimo filme brasileiro, cheio de intensidade e paixão.

11. Propriedade (2023), de Daniel Bandeira

Filme do mal, no qual os explorados são tão nojentos quanto os exploradores. Mais adulto e consciente da violência como formadora da personalidade do brasileiro do que a maior parte de nossos filmes contemporâneos.

12. Fogo-Fátuo (2022), de João Pedro Rodrigues

Baile dos bombeiros à portuguesa, reflexão sobre o tempo e o futuro. E a maior representação visual do “dar o peido mestre” (expressão portuguesa que quer dizer morrer). Que belo ano para esse diretor.

13. Godzilla Minus One (2023), de Takashi Yamazaki

Melodrama de monstro, um filme que dialoga com o espírito dos anos 1950, particularmente com os Gojiras daquela década. Deu vontade (não só em mim, pelo que percebi) de “maratonar” o monstro nos próximos dias.

14. Os Fabelmans (The Fabelmans, 2022), de Steven Spielberg

Spielberg fala de si com grande frontalidade pela primeira vez, encarando fantasmas numa ficção em que o autobiográfico emoldura medos e paixões.

15. EO (2022), de Jerzy Skolimowski

Um filme alucinado, febril e caótico, comédia maluca sobre as perambulações de um asno. Quase ouvimos seus pensamentos. (Leia a crítica de Sérgio Alpendre)

16. A Cidade dos Abismos (2020), de Priscyla Bettim e Renato Coelho

Uma trama policial narrada como um filme experimental, mas um filme cheio de ideias. Nem sempre elas encontram uma melhor materialização em imagens, mas quando encontram geram momentos belíssimos.

17. A Noite do Dia 12 (La Nuit du 12, 2022), de Dominik Moll

Melhor filme de Dominik Moll. Considerando seus quatro últimos longas (o anterior é um desastre), não é grande coisa, mas gosto bem dos seus dois primeiros. Bom ver que ele voltou à boa forma.

18. Bem-vindos de Novo (2021), de Marcos Yoshi

Um filme de natureza tão simples se torna complexo e rico por conta da estrutura narrativa escolhida com muito acerto. E Marcos Yoshi aproveita para homenagear Ozu no final.

19. Maestro (2023), de Bradley Cooper

Uma relação amorosa no ritmo febril que Bernstein adotava em suas conduções de orquestra. Tem uma comédia romântica bem agradável escondida na primeira metade, e um melodrama explicitado na segunda.

20. Retratos Fantasmas (2023), de Kleber Mendonça Filho

Filme bem pessoal, sobre a relação do cineasta com as transformações de sua cidade e com os cinemas que o formaram. Curiosamente, para um filme sobre recordações, é o único longa de Kleber que cresceu em minha memória. (Leia a crítica de Sérgio Alpendre)

* * *  Filmes que frequentaram o Top 20 na última semana: Leonora Adeus, Seus Ossos e Seus Olhos, Monster.

* * *  Filme que estaria na primeira colocação se tivesse estreado: Cerrar los Ojos.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

Obs: além das críticas feitas pelo próprio Sérgio Alpendre, apontadas no texto, leia também as demais, escritas por outros críticos. Basta clicar aqui e fazer sua busca.

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