Os Juncos (filme)
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Os Juncos

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

No filme turco Os Juncos, o diretor Cemil Agacikoglu contrapõe o sistema e o homem simples. O cenário é uma aldeia numa região alagada onde os poucos moradores sobrevivem extraindo os juncos da vegetação local. O protagonista, Ali (Hilmi Ahiska), de 29 anos, é um desses trabalhadores. Apesar de ser intelectualmente limitado, ele sabe que está sendo explorado pelo seu patrão. Um novo empregador oferece um esquema às escondidas, de desvio de produtos, mas não dá muito certo, pois ali ninguém confia em ninguém. Afinal, da mesma forma que o chefe maltrata os trabalhadores, até fisicamente, os chefes dos chefes também fazem o mesmo com esses intermediários.

Arco narrativo

O enredo possui um arco bem definido. Conforme a história avança, mais Ali fica calado, mais seus instintos primitivos se afloram.

A relação com a sua mulher (Sevgi Temel) acompanha esse processo, e até serve como seu impulsionador, pois ela resolve trabalhar fora de casa e fazer parte de um esquema nebuloso. Afinal, por que o empreiteiro lhe paga pelos tapetes se nem fica com eles? E por que ela aceita servir comida numa festinha dos patrões? Mas Ali não consegue dialogar com a esposa, prefere segui-la e espiar como um cachorro. O distanciamento social entre eles é evidente, porém o primitivo falta mais alto, e os dois dormem ainda agarrados na mesma cama.

Em relação aos demais moradores, Ali se isola. O mais impactante é a escalada de violência desse personagem que praticamente não fala. A primeira morte acontece por acidente e ele faz tudo errado para ocultar o seu crime – sinal de sua ingenuidade. Após o fato, Ali fica desesperado e, em vez de procurar consolo junto à esposa, prefere se deitar no pasto junto com os bois, o que mostra seu instinto animal se sobrepondo ao convívio social. A segunda morte surge num momento de desespero, movida pelo receio de descobrirem o que ele fez. Já a terceira é um ato premeditado, pois ele se dirige até a casa da vítima para atacá-la. Esse processo deixa evidente a acentuação do agravante de seus crimes. Caberia perfeitamente num filme sobre a construção de um serial killer, apesar de que Os Juncos foca no social.

Estrutura

Além do arco narrativo claramente definido, o filme também possui um padrão estrutural rígido. A cada capítulo (embora não assim explicitado), entra um momento de respiro, composto de imagens da natureza acompanhadas por uma música inspiradora. Na última dessas pausas, Ali faz parte da cena natural, e os minutos dedicados a ele indicam sua transformação imediatamente antes de ele atacar a vítima de seu terceiro crime. Assim, ainda que essa estruturação torne o ritmo de Os Juncos absolutamente previsível, o comportamento do protagonista surpreende. E essa pausa derradeira antes do último ataque parece indicar que não há mais volta para Ali, irremediavelmente dominado pelo seu animalesco.

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Ficha técnica:

Os Juncos | Son Hasat / The Reeds | 2023 | Turquia, Bulgária | 125 min | Direção: Cemil Agacikoglu | Roteiro: Cemil Agacikoglu, Arzu Agacikoglu | Elenco: Hi̇lmi̇ Ahiska, Sevgi̇ Temel, Gökhan Yikilkan, Erdem Şenocak, Ercan Kesal.

O filme Os Juncos está na programação da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.  

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