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Os Olhos de Tammy Faye (filme)
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Os Olhos de Tammy Faye | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
6/10

6/10

Crítica | Ficha técnica

Não sou grande admirador do trabalho de Jessica Chastain. Na verdade, nunca entendi o entusiasmo que alguns críticos têm diante de algumas de suas interpretações. Ela sempre me pareceu uma boa atriz, mas sem um brilho particular, dependente demais de boas falas e de tramas que favorecessem sua presença cênica. Olivia Colman, sua maior concorrente ao prêmio de melhor atriz no Oscar 2022, parece-me estar na situação oposta. É uma atriz brilhante que normalmente prevalece a maus roteiros, más direções ou mesmo maus filmes. Colman sobrevive aos medíocres A Favorita (Yorgos Lanthimos, 2018) e A Filha Perdida (Maggie Gyllenhaal, 2021), filmes que enterrariam, sob meu ponto de vista, obviamente, atrizes menos carismáticas. Jessica Chastain não chega a ser do tipo que se deixa enterrar por filmes ruins, mas tende a ser supervalorizada em muitos filmes medianos.

Isso tudo vem abaixo diante de sua interpretação em Os Olhos de Tammy Faye, de Michael Showalter. Salvo um ou outro momento que beira o overacting, justificáveis, porém, pela intensidade da personagem, sua atuação neste filme merece os prêmios que ela venha a receber, incluindo o cobiçado Oscar. Se o filme tem um valor, esse está no trabalho de Chastain, mesmo que seja só nele. Ela se entrega de tal forma, com tamanha intensidade e técnica, que o papel parece um presente em sua carreira.

Além de Chastain

Mas o filme, afinal, tem algo além disso? Existe algo de interessante na personagem-título além de possibilitar a performance de Chastain? Sua história e a de seu marido Jim (Andrew Garfield, que não consegue acompanhar a colega em intensidade e entrega) é algo que valha seguir além dos 30 ou 40 minutos iniciais, quando fica mais ou menos evidente que o filme vai tratar de um conservadorismo oportunista com o tipo de estética meio Tarantino light, meio Adam McKay na representação dos anos 1950 aos 1990?

A resposta a essas perguntas seria uma outra pergunta: por que não? Uma vez que Os Olhos de Tammy Faye nos permite entender algo do fascínio popular desse tipo de personagem que procura passar mensagens progressistas no meio do conservadorismo religioso mais nocivo à sociedade, e a ideia de que se deve buscar prosperidade material nesta vida, em vez de deixá-la para o além, o filme adquire algum interesse para além da presença marcante da atriz.

O filme de Showalter, contudo, é longo demais para interesse desse tipo, ainda mais porque Tammy Faye, a personagem, é muito menor que Chastain, e a equação desigual acaba cobrando seu preço. Se o primeiro terço nos segura, sobretudo pela entrega da atriz e pela sede de poder e fama que sua personagem demonstra ao lado do marido, os outros dois terços vão se tornando cansativos conforme eles alcançam esse poder e lutam para mantê-lo.

Sadismo estético

E vem a crise no casal. Em certo momento, Tammy se envolve com um músico. Mas está grávida e entra em trabalho de parto enquanto transava com o músico. Ao chegar ao hospital e ver o bebê no colo de Tammy e o músico numa poltrona ao lado da cama, Jim acusa a depravação da situação. Tammy se põe a chorar como uma criança indefesa. Tammy então se revela uma figura contraditória, por vezes progressista e poderosa, por outras submissa, frágil e sem personalidade. Infantilizada, sempre, embora não fique sempre claro quando é manipuladora e quando é manipulada dentro dessa infantilização.

O filme poderia navegar na contradição, já que os republicanos são vistos como vilões, de um ponto de vista da Hollywood democrata; vilões apoiados pelo reverendo fascista Jerry Falwell (Vincent D’Onofrio, excelente), mas somos obrigados a acompanhar, como vítimas de um certo sadismo estético, tudo que rodeia Tammy, um mundo de podridão moral disfarçada de moralidade que ela não consegue destruir, além do visual de extremo mau gosto. Um comércio dos mais sujos feito na TV em horário nobre.

O que Deus quer

Acompanharíamos de bom grado caso o filme fosse mais inteligente. Não é o que acontece. Todos parecem saber o que Deus quer, o que Deus pensa, mas o filme falha em transformar esses personagens em pessoas. Eles são apenas personagens, que cabem em planilhas de Excel, e vilanizados ainda por cima, com a exceção da protagonista (que se torna pessoa por graça de Chastain e não é vilã, talvez até pela contraposição aos outros personagens). Pode-se argumentar que, na vida real, essas pessoas todas eram mesmo personagens caricaturais de tão reacionárias, e que ninguém os conheceu como pessoas de fato. Mas, o cinema pode – e pede – mais. Os Olhos de Tammy Faye quer mostrar tudo, e, com isso, soterra as ambiguidades e acaba por não mostrar muito.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Os Olhos de Tammy Faye | The Eyes of Tammy Faye | 2021 | Estados Unidos | 126 min | Direção: Michael Showalter | Roteiro: Abe Sylvia | Direção: Jessica Chastain, Andrew Garfield, Cherry Jones, Vincent D’Onofrio, Mark Wystrach, Sam Jaeger, Louis Cancelmi, Gabriel Olds, Fredric Lehne, Chandler Head.

Distribuição: Disney.

Onde assistir "Os Olhos de Tammy Faye":
Os Olhos de Tammy Faye (filme)
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