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A Favorita (2018)
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A Favorita

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

A Favorita é o filme mais fácil de digerir de Yorgos Lanthimos, mas ainda com o gosto amargo do seu cinema.

Se o diretor Yorgos Lanthimos se mostrou extremamente cínico e crítico com a sociedade contemporânea em O Lagosta (2015) e O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017), imagine seu retrato do cruel século 18, na corte da Rainha Anne da Grã-Bretanha. Lançado quase que simultaneamente a Vice, de Adam McKay, A Favorita também relata os bastidores do poder. E são duas situações semelhantes onde quem de fato manda não é quem tem o título – o presidente George W. Bush ou a Rainha Anne – e sim o vice-presidente ou a amiga favorita.

Doente e não muito inteligente, a Rainha Anne (Olivia Colman) se deixa influenciar pela ardilosa Lady Sarah (Rachel Weisz), a Duquesa de Marlborough, sua amiga e amante. Logo, esse jogo de influências será abalado com a chegada de Abigail (Emma Stone), a prima de Sarah, que passará a disputar a preferência da rainha.

Estilo Lanthimos

O filme é dividido em partes, numerados e com uma das frases dos personagens como título, mas isso não o torna episódico. Como já é da autoria de Yorgos Lanthimos, o clima desconfortável do filme provém de lentes com grandes ângulos que distorcem o que aparece na tela, trilha sonora composta não só com músicas desarmônicas mas também com ruídos desagradáveis. Adicionalmente, também com a deformação física das três protagonistas: a rainha Anne pela doença, Sarah com uma cicatriz e Abigail com closes exageradamente extremos.

Sarah toma para si o poder da rainha, ordenando em nome dela, e conduzindo políticas importantes como a participação na guerra contra a França financiada por aumento de impostos. Nem mesmo os membros do ministério e secretários do governo reúnem tanta influência na condução da Grã-Bretanha. A impetuosidade da Rainha, contudo, freia algumas situações diante de alguns raros instantes de lucidez, como na cena em que ela percebe que Sarah é quem de fato governa o país ao observá-la dançando em uma festa, enquanto Anne está confinada a uma cadeira de rodas. Outra bela metáfora está na competição de tiro entre Sarah e Abigail, representando a disputa pela preferência da rainha.

Elenco

As três atrizes principais estão soberbas, provocando ódio no espectador. São atuações difíceis que devem mostrar uma pitada de humor sarcástico, sem nunca desviar da seriedade dramática exigida. É complicado definir quem é a principal, porque o filme não assume o ponto de vista de nenhuma delas, que se alternam em seu protagonismo. Emma Stone, Olivia Colman e Rachel Weisz esquecem suas vaidades pessoais e assumem figuras hediondas, tanto fisicamente como pelas atitudes. As personagens colocam em questão o poder das mulheres sobre os homens, facilmente manipulados por elas. De fato, os maridos de Sarah e Abigail são apenas fantoches em suas mãos.

Final súbito

Repetindo-se em seu cinema autoral, Lanthimos novamente insere um final súbito e em aberto, que evidencia o gosto amargo provado durante todo o filme. Então, a música que surge nos créditos finais, “Skyline Pigeon”, de Elton John, esclarece a conclusão de A Favorita. Sua letra diz: “Turn me loose from your hands / Let me fly to distant lands (…)” (trad: “Me solte das suas mãos / Deixe-me voar para terras distantes (…)”). Nesse cruel jogo de poder, onde todos saem perdendo, Sarah pelo menos poderá ir para longe. Ou seja, para outros lugares onde não será obrigada a agradar a rainha para usufruir de seu poder. A canção, que chega logo após uma longa cena em que Abigail aplica uma massagem libidinosa na rainha, deixa em evidência o quanto a jovem sofrerá para continuar a ser a favorita da rainha.

Por outro lado, A Favorita representa um passo a caminho do cinema popular para o diretor grego Yorgos Lanthimos. A caprichada produção num filme de época, rodado em locações autênticas em Hertfordshire na Inglaterra, a fotografia noturna com luzes de velas, são todos elementos que facilitam a apreciação pelo grande público. Assim, de forma muito mais convidativa do que em O Lagosta e O Sacrifício do Cervo Sagrado, que eram produtos com forte impacto, capazes de desnortear quem os assiste. Contudo, não se engane, o amargor de Lanthimos continua presente.

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