Os Olhos Sem Rosto possui uma sutileza incomum para um filme de terror. É o segunda longa-metragem do diretor francês Georges Franju e seu trabalho mais conhecido, tendo dirigido apenas mais seis filmes para o cinema.
A princípio, sua introdução repete os padrões do gênero. Nesse sentido, a trilha sonora alucinante acompanha uma mulher assustada dirigindo um carro à noite por uma estrada pequena, com pouca visibilidade. E, no banco de trás, uma pessoa com o rosto coberto. Então, no final dessa intrigante sequência, a mulher joga o corpo do carona num rio.
Posteriormente, no restante de Os Olhos Sem Rosto, o diretor Georges Franju alterna a temperatura das cenas, entre o terror e o drama. Na estória, o médico Dr. Génessier testa um transplante de pele para poder recuperar o rosto da filha Christiane, que ficou totalmente destruído após um acidente automobilístico que ele provocou. De fato, seu grande segredo, compartilhado com sua secretária Edna, é que ele realiza experimentos com jovens mulheres que se parecem com Louise.
Clímax
Então, o clímax do terror surge justamente quando o Dr. Génessier realiza uma cirurgia com uma vítima atraída por Edna. Essa longa sequência mostra o médico cuidadosamente recortando a pele da involuntária paciente. Dessa forma, retira toda a face, deixando à vista a carne por baixo dela, para depois, fora de cena, colocá-la no rosto da filha. E a frieza da cena causa uma estranha sensação de horror no espectador.
Diferente de um típico filme de terror, Os Olhos Sem Rosto não usa esses momentos para assustar com truques apelativos. Antes, quando vemos pela primeira vez o rosto deformado de Christiane, que usa máscara a maior parte do tempo, o filme não busca o horror do público. Na verdade, quem sente isso é a personagem que contracena com ela. Dessa forma, o espectador se solidariza com o drama da filha. Afinal, foi induzido a isso em cena anterior, quando ela aparece pela primeira vez, acompanhada de uma música suave e com o rosto escondido por uma máscara.
Terror diferenciado
E o Dr. Génessier, cegado por sua obsessão de compensar a culpa que sente por ter provocado a tragédia que arruinou a vida da filha, não percebe a imoralidade de seus atos. Porém, tanto a filha como a secretária começam a enxergar esse aspecto. Edna não quer mais fazer parte do plano do chefe, mas este faz chantagem emocional, pois ele foi o responsável por recuperar o rosto dela. No entanto, quando os dois vão ao cemitério ocultar o corpo de uma vítima, ela olha para o céu, onde um avião testemunha o crime deles, e se sente culpada.
Já a filha Christiane se arrepende na conclusão do filme. Mas, esse final, inevitavelmente moralista, acontece de forma um pouco apressada e decepciona, sendo este o ponto fraco do filme. Definitivamente, a ideia da punição do médico é pouco inventiva e demasiada simples.
Com tudo isso, Os Olhos Sem Rosto é um filme de terror diferenciado, mais frio do que costumamos ver no gênero. Apesar de seu final fraco, vale a pena conhecer.
Ficha técnica:
Os Olhos Sem Rosto (Les yeux sans visage, 1960) França. 90 min. Dir: Georges Franju. Rot: Pierre Boileau, Thomas Narcejac, Jean Redon, Claude Sautet, Pierre Gascar. Elenco: Pierre Brasseur, Alida Valli, Edith Scob, Juliette Mayniel, Alexandre Rignault, Béatrice Altariba, Charles Blavette, Claude Brasseur.