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Pacto Sinistro (filme)
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Pacto Sinistro

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Pacto Sinistro é um dos grandes clássicos de Alfred Hitchcock, que conduz o espectador para a beira de sua poltrona, ansioso por intervir na trama arquitetada pelo astuto Bruno, um dos mais odiáveis vilões da filmografia do diretor inglês.

Bruno Antony (Robert Walker) e Guy Haines (Farley Granger) se encontram em um trem. Ao conversarem, relatam que ambos possuem um ponto em comum: alguém que gostariam que não estivessem mais em suas vidas. No caso de Bruno, seu dominante pai. Para Guy, sua atual esposa que recusa seu pedido de divórcio. O psicótico Bruno propõe uma troca de assassinatos, ele mataria a esposa de Guy e este, em troca, acabaria com o pai de Bruno. Como não existe motivo aparente para que os assassinos cometam o crime, este seria perfeito. Guy considera ridícula a proposta e se afasta de Bruno, porém diz meias palavras e o proponente crê que o pacto está confirmado.

Então, ele cumpre sua parte. Estrangula a esposa de Guy e agora espera que este assassine seu pai. O suspense cresce com a angústia da dúvida se Guy cumprirá o que Bruno espera do pacto.

O mestre em ação

Hitchcock emprega com maestria a linguagem cinematográfica em várias cenas marcantes de Pacto Sinistro. Como primeiro exemplo, repare que nos dias seguintes ao assassinato de Miriam Haines, Guy sempre veste roupas claras, denotando que ele se recusa a cometer o crime que Bruno deseja. Porém, quando o cineasta quer que o espectador duvide se Guy assassinará o pai de Bruno para ficar livre das ameaças do vilão, suas vestimentas possuem tom escuro.

Há um astuto uso da mise-en-scène na sequência da primeira conversa entre os dois protagonistas no trem. Enquanto Bruno é filmado em um close-up com duas linhas de sombra em seu rosto, vemos Guy com a face limpa, sem sombras. Hitchcock planta aí uma pista de quem é o vilão da estória.

Quando Guy sai do trem após a sinistra conversa com Bruno, este acredita que o pacto está selado e murmura, em inglês, “criss-cross”. Esta imagem se dissolve na tomada seguinte de um sinal de cruzamento de trem, enfatizando a ideia do acordo que eles supostamente fizeram.

O uso da profundidade de foco evidencia a sufocante presença do pai na vida de Bruno, na cena em que ele está em sua casa e fala ao telefone com Guy, que está em Southampton. Enquanto eles conversam, a câmera mostra Bruno em primeiro plano e o pai discutindo a mãe sobre ele ao fundo, em foco.

Outra imagem icônica do filme encontramos na cena após a investigação do assassinato ter começado e um policial passa a acompanhar Guy. Na sequência em que os dois caminham, Guy vê Bruno de longe, vestido de preto, parado em frente a uma enorme edificação redonda, totalmente branca, provavelmente a sede da justiça da cidade. Esse contraste destaca a presença do criminoso desafiando a justiça.

Mais maestria

Numa sequência que comprova não só a genialidade do diretor, mas também seu senso de humor, Guy entra na quadra de tênis, onde jogará, e se senta num banco. Ele olha para a plateia e, no meio de tantos espectadores, consegue enxergar Bruno, porque ele é o único cuja cabeça não está se movimentando para a esquerda e para a direita acompanhando a bola da partida de tênis.

Os óculos possuem um importante papel em Pacto Sinistro. A esposa assassinada usa óculos com lentes grossas e, na cena em que é estrangulada, vemos o crime através do reflexo delas. E como a irmã de Guy, Barbara (Patricia Hitchcock), também usa óculos, Bruno se sente mal quando a vê.

O filme Pacto Sinistro revela inspiração na edição, principalmente na sequência inicial, onde os cortes alternados acompanham a chegada dos dois protagonistas à estação de trem, separadamente, até se sentarem um frente ao outro no vagão. Apesar de que apenas os sapatos dos personagens são mostrados, nós já conseguimos identificar um pouco das características dos dois, pois um calça um elegante sapato branco e preto, e o outro um comum sapato preto.

Hitchcock respeita o conceito de edição “proibida” do teórico André Bazin no trecho em que vemos Guy discutindo com sua esposa dentro de uma sala no local de trabalho dela. Como a pequena sala é fechada com portas e janelas de vidro, Guy precisa falar baixo e não se exaltar para não chamar a atenção das pessoas na sala ao lado. A opção de usar um plano sequência aumenta a atenção da situação, que explode quando Guy finalmente perde o controle. Somente neste momento, há um corte para outra tomada.

Conduzindo o espectador

Para Hitchcock, conduzir o espectador é fácil. Quando a esposa de Guy, Miriam, está no parque de diversões com seus amigos, ele usa a edição analítica para surpreender o espectador. Alterna tomadas de Miriam tomando sorvete e de Guy observando à distância. As linhas dos olhos dela mostram que ela está olhando para ele. Um pouco mais tarde, quando Miriam e seus amigos param no brinquedo da marreta, em close-up, ela olha para trás para ver se Guy continua indo atrás dela, mas não vê ninguém. Mas, quando a câmera se afasta, ela descobre que ele está bem do lado dela. O espectador, enganado pela edição, tem a mesma sensação que Miriam.

O mestre do suspense exercita o uso de cortes alternados para criar tensão quando Guy está jogando tênis e Bruno está se dirigindo para o parque. Enquanto joga, Guy olha para o relógio, porque quer terminar logo a partida e correr atrás de Bruno. Este, derruba sem querer o isqueiro de Guy num bueiro e tenta desesperadamente resgatá-lo, porque este objeto ele pretende colocar no local do crime para incriminar seu oponente.

Pacto Sinistro, como vimos, é rico em exemplos de como usar a linguagem cinematográfica com fins narrativos. Alfred Hitchcock, mais uma vez, comprova seu talento.


Pacto Sinistro (filme)
Pacto Sinistro (filme)
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