Pedro e Inês é uma adaptação do livro “A Trança de Inês” (2001), de Rosa Lobato de Faria. A escritora trabalha brilhantemente a trágica história de amor entre D. Pedro I de Portugal e Inês de Castro, no século XIV. Em sua obra, ela traça um paralelo desse romance com acontecimentos no presente e no futuro.
Na Idade Média, Pedro I é herdeiro do trono de Portugal. Casa-se com Constança Manuel, por imposição do seu pai, o rei D. Afonso IV, devido a interesses políticos. Porém, Pedro se apaixona por Inês de Castro, uma das aias de Constança, que morre ao dar à luz. Então, Pedro se recusa a entrar em outro casamento arranjado, e prefere ficar com Inês, com quem tem quatro filhos. Temendo uma conspiração, D. Afonso IV manda matar Inês. Dois anos depois, D. Pedro herda o trono, e diz a lenda que ele mandou desenterrar Inês para uma mórbida coroação póstuma.
Os principais personagens dessa história são adaptados para o presente e para o futuro.
Presente e futuro
No presente, Pedro é arquiteto e herdeiro do escritório de seu pai, nome famoso nesse ramo. Ele é casado com Constança, mas se apaixona e tem um caso com sua nova estagiária Inês.
Já num futuro distópico, no século XXII, quando as pessoas voltam a viver junto à natureza, o líder do grupo determina que seu filho Pedro se case com Constança. Mas, eles cresceram juntos e se veem como irmãos, por isso não possuem desejo sexual um pelo outro. Então, uma forasteira de nome Inês chega à aldeia, e Pedro se apaixona por ela.
O grande trunfo da obra de Rosa Lobato de Faria, e que o filme consegue explorar, é que as situações entre esses personagens análogos não são as mesmas. A ideia central está presente, ou seja, o amor extraconjugal que termina numa tragédia violenta. No entanto, as tramas não são previsíveis, pois a autora criou variações em relação ao como elas se desenrolam. Com isso, mesmo sabendo que o desfecho não será feliz, somos surpreendidos pelas suas conclusões.
Além disso, a partir da narração de Pedro na parte final do filme, pode-se levantar uma hipótese fantástica para essas três histórias. Ou seja, que o ato enlouquecido de D. Pedro I tenha provocado a ira de Deus, ou dos deuses, condenando as suas futuras gerações a reviver essa tragédia.
Direção e elenco
Em seu terceiro longa-metragem, o diretor e roteirista António Ferreira adapta uma obra literária, tal como fez em seu filme anterior, Embargo (2010), da obra de José Saramago.
Em Pedro e Inês, ele acertadamente opta por entrelaçar as três subtramas, alternando-as e até quebrando a ordem cronológica da situação do presente. Como resultado, o filme se torna ágil e instigante, porque o espectador se sente desafiado a juntar essas peças e entender o enredo.
No elenco, estão atores portugueses famosos. Diogo Amaral, que interpreta Pedro, é conhecido por atuar em telenovelas, mas, também faz cinema, como no longa Medo Profundo (2017). No papel de Inês, está Joana de Verona, atriz que os brasileiros devem reconhecer por seus trabalhos no filme Praça Paris (2017), de Lucia Murat, e na minissérie Santos Dumont da HBO. Por fim, na outra ponta do triângulo amoroso, o filme traz Vera Kolodzig, muito atuante na televisão de Portugal, e que, curiosamente, tem um filho com Diogo Amaral.
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Ficha técnica:
Pedro e Inês (2018) Portugal/França/Brasil. 120 min. Direção e roteiro: António Ferreira. Elenco: Diogo Amaral, Joana de Verona, Vera Kolodzig, Cristóvão Campos, Custódia Gallego, João Lagarto, Miguel Borges.