O maior trunfo de Perlimps está no seu visual distinto, incomparável com outras produções animações contemporâneas. Se há alguma semelhança seria com O Menino e o Mundo (2013), do mesmo realizador Alê Abreu, que conseguiu indicação ao Oscar na categoria de melhor animação. O tema central também aproxima esses dois filmes, pois eles retratam a visão infantil sobre alguma mazela da civilização atual.
O visual de Perlimps é coloridíssimo. Os desenhos de fundo vão no contrafluxo do detalhamento, às vezes beirando o impressionismo, às vezes lembrando a psicodelia de 2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968). As sequências de cores, que surgem já na abertura, se intensificam durante a história, o que resulta nessa sensação alucinógena. Um pouco da trilha musical acompanha essa pegada, quando os instrumentos eletrônicos predominam. Porém, na maior parte do filme as composições evidenciam as raízes brasileiras. Há, também, espaço para induzir à meditação, embalada pelos sons da natureza.
Experiência sensorial
Esses sons bucólicos têm tudo a ver, afinal, a história se passa numa imensa e densa floresta. Dois seres mágicos de reinos diferentes e opostos, um agente secreto do Sol e o outro da Lua, se encontram na mesma missão, a de impedir os planos dos gigantes. Mas a trama é o calcanhar de Aquiles do filme. Acompanhamos uma jornada sem aventuras, o que representa um erro fatal para uma produção voltada ao público infantil. Os nomes dos protagonistas são difíceis de entender e de guardar: Claé e Bruô. Nos dois primeiros terços do enredo, os dois discutem e brigam, enquanto os diálogos tentam explicar a missão e os artefatos que utilizam (por exemplo, o conector). Os jargões técnicos criados para o filme (“status positivo”, “status negativo”) tentam atiçar o interesse, mas são insuficientes. E como os desentendimentos dos heróis da história acabam por prevalecer, não conseguimos nos empatizar com nenhum desses personagens.
A ausência de aventuras, alinhada com as músicas meditativas e o ritmo lento, provoca sono. Nem mesmo no clímax da parte final, o filme empolga. Aliás, os heróis resolvem explodir a fábrica dos gigantes para evitar as guerras – mas seria essa uma mensagem legal para as crianças? Violência contra violência? Enfim, nem isso se concretiza, o que deixa bem frustrado o espectador mirim que queria um pouco de ação.
Certamente, Perlimps envolve o espectador numa experiência sensorial. Mas a narrativa não está à altura do visual, e os aspectos técnicos per se não sustentam um bom filme.
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Ficha técnica:
Perlimps | 2022 | 75 min | Brasil | Direção e roteiro: Alê Abreu | Vozes de Stênio Garcia, Giulia Benite, Lorenzo Tarantelli.
Distribuição: Vitrine Filmes.