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Marte Um (filme)
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Marte Um

Avaliação:
6/10

6/10

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Crítica | Ficha técnica

O melodrama Marte Um acompanha um período curto da vida da família Martins. O sobrenome se relaciona com o título do filme, e com o sonho do menino Deivid (Cícero Lucas), que deseja integrar a missão que irá colonizar Marte em 2030. Apesar disso, o protagonismo é dividido, igualmente, entre todos os membros dos Martins. O pai Wellington (Carlos Francisco) ganha a vida como porteiro de um prédio. A mãe Tércia (Rejane Faria) trabalha como empregada doméstica na casa de um artista. E a filha mais velha Eunice (Camilla Damião) estuda Direito na Universidade Federal de Minas Gerais.

Todos eles possuem seus dramas pessoais. Deivid se sente pressionado pelo pai a tentar a carreira de jogador profissional, apesar de que ele querer mesmo ser um astrofísico. O pai é um alcoólatra que consegue quatro anos de abstenção frequentando sessões de AA. Eunice quer liberdade, principalmente agora que começou um namoro com uma garota da faculdade. Por fim, a mãe Tércia sofre quando seu patrão viaja, porque na ausência ela não trabalha e o dinheiro faz falta.

Pode piorar

Mas, para entrar de fato no melodrama, as coisas precisam piorar. E isso acontece com um gatilho que aparenta adentrar o fantástico. Seria interessante, mas o roteiro prefere logo desmentir essa impressão: Tércia é vítima de uma pegadinha que fingia que um homem explodia uma bomba em uma lanchonete onde ela comia. Embora seja uma brincadeira, a personagem a partir daí adoece, sofre com dores e mal estar. Até esse ponto, nada a desabonar a trama, apesar de quebrar a expectativa de que fosse algo surpreendente, fora da realidade, que enriqueceria o filme. Mas, o que atrapalha a história é que Tércia tem certeza de que ela está atraindo coisas ruins. E, num melodrama, isso atrapalha porque alerta que nada dará certo dali para a frente, e tira toda a surpresa da parte final.

A força de Marte Um se concentra nos personagens principais, que parecem sempre autênticos. Com isso, ganham a empatia do público. São pessoas que encontramos em nosso dia a dia, portanto, facilmente provocam conexões. E, nas relações intrafamiliares, destaca-se o carinho da irmã mais velha pelo caçula, num convívio que foge do clichê, inclusive na reação de Deivid em relação à revelação de que Eunice tem uma namorada.

Concessões comerciais

Mas o filme tem seus problemas. As típicas participações de pessoas famosas para atrair mais público aqui atrapalham a narrativa. O humorista Tokinho tenta roubar a cena e acaba extrapolando seu papel de alívio cômico, que por si só nem seria apropriado para o tom deste enredo. Já o rapper Russo APR sofre com um personagem que, de cara, aparenta que é um enganador (como de fato ele se mostrará). E ele protagoniza cenas dispensáveis de um discurso contra o capitalismo e uma exibição de rimas, tomando tempo de tela num filme que ficou longo demais. Na verdade, a única presença especial que se encaixa na trama é a do ex-jogador Sorín, que dá a oportunidade de uma peneira para Deivid.

Redundância e previsibilidade

Ainda sobre redundância, o trecho no qual Tércia conta sua experiência como vítima da pegadinha é redundante, pois acabamos de ver isso acontecendo. Talvez o motivo de manter a cena assim tão longa seja para preservar a interpretação da atriz, porém, atrapalha demais o andar da narrativa.

Além da previsibilidade que surge com a suspeita de que Tércia atrai azar, chama a atenção, nesse mesmo aspecto, a cena em que Eunice apresenta a sua namorada para a família. Sendo o pai um torcedor fanático do Cruzeiro, ele e a esposa assistem ao clássico contra o Atlético Mineiro com a camisa do time. Eis que a namorada chega vestindo a camisa do rival alvinegro. Alguém tem dúvida de que a cena terminará num desentendimento? Se fosse uma comédia, essa obviedade seria aceitável, mas estamos num melodrama.

O que também deixa o filme previsível é a preocupação em movimentar os quatro protagonistas equitativamente. Ou seja, segue a regra de uma novela, que dita que de tempos em tempos deve surgir uma ação com um deles, para que eles não fiquem esquecidos. Mas em Marte Um soa esquematizado demais, como que houvesse uma obrigatoriedade em manter cada um deles em tela durante a mesma quantidade de tempo.

A direção

Maurilio Martins estreou na direção de longas em No Coração do Mundo (2019), codirigindo com Maurilio Martins. Desta vez, dirige sozinho pela primeira vez. Realiza um trabalho seguro, sem cair nas tendências contemporâneas de tentar dar uma cara de moderno ao filme. Por isso, capta com riqueza as interpretações dos atores principais, todos ótimos. Porém, sentimos falta da busca da emoção, ou seja, de assumir o melodrama. Por exemplo, a cena do acidente de Deivid ficou fria, pois a opção pela elipse do momento mais forte enfraqueceu o impacto. Aliás, na tentativa de não repetir a cena anterior em que os amigos desafiaram Deivid no mesmo local, nessa nova oportunidade, nem vemos o tamanho da descida. Além disso, o filme suprime momentos dramáticos, como a reação de Deivid por perder a chance de ir à palestra que tanto desejava.

Enfim, Marte Um ganha o espectador por seus personagens autênticos, mas poderia impactar com mais força se mergulhasse com tudo no melodrama.  


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