Pesquisar
Close this search box.
Portal do Paraíso (filme)
[seo_header]
[seo_footer]

Portal do Paraíso

Avaliação:
8/10

8/10

clique no botão abaixo para ouvir o texto

Crítica | Ficha técnica

Famoso por ser um dos filmes de maior prejuízo da história do cinema, Portal do Paraíso revela o cruel tratamento aos imigrantes europeus durante a colonização do interior dos Estados Unidos. Para isso, se concentra no episódio real conhecido como Johnson County War, que ocorreu em Wyoming no final do século 19.

O diretor Michael Cimino estava em alta depois de ganhar cinco Oscars por O Franco Atirador (1978), incluindo os prêmios de melhor filme, diretor e ator coadjuvante (Christopher Walken, que reaparece em Portal do Paraíso). Por isso, o estúdio United Artists apostou no talento de Cimino e lhe deu toda autonomia para rodar seu próximo filme. Como resultado, ele acabou gastando algo em torno de 120 milhões de dólares (corridos pela inflação), em 165 dias de filmagem.

Prejuízo

Porém, a crítica e o público da época do lançamento desaprovaram o resultado final. Então, a bilheteria baixa causou sérios problemas financeiros à United Artists, que já não estava tão bem, e precisou ser incorporada pela MGM. Porém, assistindo hoje ao filme, Portal do Paraíso surpreende justamente pela sua produção, além do tema arrojado e da abordagem aprofundada do personagem principal.

De fato, a produção de Portal do Paraíso reconstrói as cidades onde acontece a história. Comparando com os efeitos visuais que a computação gráfica insere nos filmes de hoje, a sensação que esses cenários físicos que Cimino mandou construir é de uma autenticidade muito mais próxima ao que devia ser em 1890. O mesmo acontece com as várias cenas de ação durante o filme. Desde as brigas de galo com animais de verdade, até a grandiosa batalha final. Assim, o que aparece nas telas é admirável. E justifica o gasto de milhões de dólares – apesar de que muito dinheiro foi desperdiçado.

Colonização

A trama de Portal do Paraíso aborda um aspecto da colonização americana que o cinema pouco aborda. Por um lado, o filme possui as características visuais de um faroeste. E isso se justifica porque a história retratada se passa na metade oeste dos Estados Unidos, no século 19. E, em Casper, no Wyoming, uma cidade grande, o retrato da vida urbana é caótico. Muita gente nas ruas, brigas por todo o lado, e compra e venda abundante de armamento. As pessoas resolvem as disputas à base da violência. Além disso, as leis não existem, ou melhor existem, mas pendem a favor de quem tem o poder.

E o poder está nas mãos dos mais ricos. No caso, são os fazendeiros, unidos em uma associação liderada por Frank Canton (Sam Waterston). Esse grupo, a The Stock Grower Associaton, resolve criar uma lista com 125 nomes de bandidos e arruaceiros que devem ser eliminados da sociedade para que exija um ambiente mais harmonioso em Johnson County. Na verdade, a lista é uma forma de legalizar o extermínio de boa parte dos imigrantes europeus da região. Então, quem se opõe a Frank Canton é Jim Averill (Kris Kristofferson), um rico e influente empresário de Johnson County.

1870

Portal do Paraíso toma Jim Averill como o protagonista do filme. A história começa em 1870, no dia da formatura de Jim na universidade de Harvard. Esse prólogo é essencial para demostrar o cerne do idealismo de Jim. Nesse sentido, ele segue o sermão do reitor durante a cerimônia, que prega que os formandos devem dedicar suas vidas a educar o povo, ainda em formação, dos EUA.

Vinte anos depois, Jim não aceita essa perseguição imoral aos imigrantes, essenciais na colonização desse país selvagem. Em paralelo, o filme dramatiza um triângulo amoroso entre Jim e dois outros personagens; Um deles é Nate Champion, um pequeno fazendeiro que trabalha para a associação, interpretado por Christopher Walken. E o outro é Ella Watson, uma imigrante que ganha a vida como prostituta, vivida por Isabelle Huppert.

Ella

Porém, Ella é uma das incluídas na lista negra. E a moça prefere aceitar o convite de ficar no condado morando com Nate, e recusar a oferta de fugir com Jim. Contrariado, Jim ignora o pedido de ajuda de Ella quando a comunidade resolve enfrentar a milícia de Frank Canton. Aliás, essa cena é muito bem filmada por Michael Cimino. O diretor ilustra essa contrariedade ao mostrar Jim conversando com Ella sem olhar para ela diretamente, mas através do reflexo no espelho. Na verdade, Portal do Paraíso faz questão de se aprofundar na questão existencial de Jim Averill, indeciso quando as vontades pessoais se chocam com seus princípios. Por isso, na conclusão do filme, Jim está casado com uma namorada antiga de Harvard, no seu luxuoso barco, mas claramente se sente vazio.

Sob outro aspecto, Portal do Paraíso reflete em sua temática o espírito dos anos 1970. Em outras palavras, do cinema da Nova Hollywood que reflete nas telas o desencanto com o espírito sonhador da década anterior. Tal qual em O Franco Atirador (que aborda os impactos da Guerra do Vietnã na sociedade americana), Michael Cimino critica os políticos e poderosos que desvirtuam as leis para proveito próprio. Centenas de pessoas morreram no episódio de Johnson County e o diretor toma partido dos colonos que se rebelaram contra os que se declaravam homens da justiça.

Lento desenrolar

O ritmo lento da maior parte das mais de três horas e meia de Portal do Paraíso combina com a percepção de tempo na época em que a história se passa. Ou seja, distando do imediatismo de agora. Assim, convida o espectador a acompanhar o lento desenrolar dos acontecimentos que desembocarão em uma tragédia famosa na história dos EUA.

Então, valorize os esforços de Michael Cimino em criar uma obra com grande valor artístico. Hoje, apesar de várias controvérsias, ele prova que estava certo em muitas questões. Por exemplo, o dinheiro investido na construção dos cenários de época é atualmente um diferencial a ser apreciado. Além disso, o diretor acertou até mesmo na escolha de Isabelle Huppert como protagonista. Criticada na época, ela viria a se tornar uma das atrizes mais reconhecidas da França.

Em suma, o perfeccionismo tão caro a Cimino está eternizado nos belos fotogramas de Portal do Paraíso.

___________________________________________

Ficha técnica:

Portal do Paraíso (Heaven’s Gate, 1980) EUA. 217 min. Dir/Rot: Michael Cimino. Elenco: Kris Kristofferson, Christopher Walken, Isabelle Huppert, Sam Waterston, Jeff Bridges, John Hurt, Brad Dourif, Joseph Cotten, Ronnie Hawkins, Paul Koslo, Geoffrey Lewis, Richard Masur, Roseanne Vela, Mary Catherine Wright, Nicholas Woodeson, Mickey Rourke, Willem Dafoe.

Confira também o vídeo com a crítica do filme Portal do Paraíso:

Onde assistir:
Portal do Paraíso (filme)
Compartilhe esse texto:

Críticas novas:

Rolar para o topo