Poseidon adapta para o cinema o livro de Paul Gallico que deu origem a O Destino do Poseidon (The Poseidon Adventure, 1972), de Ronald Neame. É mais um daqueles disaster movies (filmes-catástrofes), que nos anos 1970 significavam garantia de boa bilheteria. Os desastres desse tipo de cinema abrangiam terremotos, incêndios, aviões em pane, e transatlânticos, como é o caso aqui. E o enredo se concentrava em um grupo de menos de dez pessoas em perigo, para permitir o mínimo de individualização de cada personagem, elemento indispensável para envolver o espectador. Contribuindo para essa intenção, geralmente o elenco trazia atores famosos nesses papéis mais importantes.
Essa fórmula foi quebrada no insuperável filme-catástrofe Titanic (1997), de James Cameron, que apresentava um romance no centro da trama. O diretor Wolfgang Petersen seguiu os passos de Cameron, e realizou um outro filme no gênero que não era uma repetição da fórmula dos anos 1970. Chamado de Mar em Fúria (The Perfect Storm, 2000), esse longa possui uma carga dramática muito forte. Satisfeito com o resultado, Petersen retornou ao gênero em Poseidon, que seria o penúltimo filme de sua carreira.
Sobre “Poseidon”
O elenco não faz jus ao histórico dos filmes-catástrofes. Com exceção de Kurt Russell e Richard Dreyfuss, os demais atores do grupo principal não são tão conhecidos. Josh Lucas vive o herói maior. Emmy Rossum interpreta a filha do ex-prefeito Robert Ramsey (Kurt Russell), e a noiva de Christian (Mike Vogel). A argentina Mía Maestro é a clandestina Maggie. O garoto Jimmy Bennett faz a criança da vez, e Jacinda Barrett sua mãe. Já o papel de personagem detestável está nas mãos de Kevin Dillon, óbvia escolha para esse tipo. Enfim, esses nove nomes compõem o foco da trama, que acompanha a tentativa deles de sobreviverem ao iminente naufrágio do transatlântico que virou de cabeça para baixo após colidir com uma imensa onda em alto-mar.
O navio surpreende por ser imenso, impressão que a câmera provoca, propositalmente, na abertura do filme, ao voar ao redor da embarcação. As tomadas no interior do transatlântico acentuam essa sensação, fazendo-o se parecer com um edifício muito alto. Imagine, então, quão impressionante esse cenário se torna quando tudo isso vira ao contrário e um incêndio começa a consumir cada um de seus pisos.
A produção do filme, de primeira linha, consegue representar essa situação desesperadora convincentemente. Dá até um nó na cabeça entender o caminho dos personagens principais nesse barco invertido, tentando chegar nas hélices para escapar por ali. O ritmo acelerado lembra uma montanha-russa, com perigos sucessivos a cada etapa vencida – e a devida licença da verossimilhança, que não tem lugar neste tipo de aventura.
Pouca empatia com os personagens
O que enfraquece Poseidon é a falta de personagens mais carismáticos. Embora o grupo seja composto de pessoas bem distintas entre si, o enredo não tenta se aprofundar nelas. Praticamente não se fala nada do passado deles – com exceção do prefeito, mas essa informação não tem peso nenhum para a história. O que se revela de cada uma é, no máximo, o motivo de elas estarem nessa viagem.
Atualizando esse tipo específico de filme-catástrofe, já está na hora de lançarem uma trama com pessoas que não são elitizadas neste tipo de viagem. Afinal, os cruzeiros se tornaram mais populares. Quem sabe, assim, aumentam as chances de fazer o público se identificar com os personagens.
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Ficha técnica:
Poseidon | 2006 | 98 min. | EUA | Direção: Wolfgang Petersen | Roteiro: Mark Protosevich | Elenco: Josh Lucas, Kurt Russell, Jacinda Barrett, Richard Dreyfuss, Emmy Rossum, Mia Maestro, Mike Vogel, Kevin Dillon, Freddy Rodríguez, Jimmy Bennett, Fergie, Andre Braugher.