A história tornou Psicose o filme maldito de Alfred Hitchcock. Em parte, por ser a obra mais aterrorizante do mestre do suspense. É aquela que resvala no sobrenatural, mas que se mantém dentro do terror psicológico. Portanto, cientificamente plausível, característica de toda a obra do cineasta inglês. E maldito, principalmente, por força do desenrolar dos acontecimentos desde sua concepção.
Baixo orçamento
Havia a necessidade de realizar um filme de baixo orçamento, apesar de Hitchcock já ser um diretor de enorme sucesso comercial. Então, isso o levou a outro desafio: produzir em preto-e-branco, o que resultou em uma das maiores qualidades do longa metragem, além de um recurso muito útil diante de alguns obstáculos.
Com a ausência de cores de Psicose, o diretor pôde exercitar seus conhecimentos sobre a fotografia do expressionismo alemão, fonte do início de sua carreira. As sombras, o claro/escuro das cenas no motel Bates e na casa principal expressam o sombrio e o oprimido do local e de seu proprietário. Adicionalmente, de forma pragmática, Hitchcock usou o preto-e-branco para atenuar cenas que seriam chocantes demais para o público daquela época. Este não suportaria assistir o vermelho do sangue das vítimas do serial killer na tela grande. Sem essa restrição, o filme corria o risco de nunca sair das prateleiras do estúdio, confinado pela autocensura do Código Hays.
Bernard Herrmann
Outro destaque do filme é a trilha sonora composta por Bernard Herrmann, responsável pela dinâmica que alterna momentos calmos e tensos. A música chama a atenção já nos créditos iniciais, acelerando a expectativa do espectador. Na primeira metade do filme, após Marion (Janet Leigh) roubar o dinheiro da empresa, a música ajusta o clima para um thriller policial. Nas cenas que antecedem a famosa sequência do chuveiro, não há música alguma, o que prepara o terreno, disfarçadamente, para o arrebatador tema do filme, marcado pelas cordas estridentes. Desse ponto em diante, o compositor evoca o terror em substituição ao thriller criminal.
Assassinatos
Ainda nos dias atuais, essa primeira cena de assassinato assusta o espectador. Além da música, o que colabora para que esse feito continue eficiente é o fato de a estrela do filme morrer antes da metade do filme. Todos conhecem a cena do chuveiro, mas quem assiste ao filme pela primeira vez espera que ela aconteça mais perto do final. Na segunda morte, a queda da vítima soa gráfica e estilizada demais, mas ainda provoca arrepios, porque o inusitado enquadramento da câmera quando surge a assassina na cena supera isso.
O último momento de terror, porém, perdeu força. Afinal, Psicose rompeu o limite do horror nas telas e desde então o gênero enveredou por cenas cada vez mais explícitas. Ou seja, o clássico de Hitchcock se tornou vítima de sua própria ousadia. Daí a maldição de Psicose.
Sucesso nas bilheterias
Além disso, o êxito comercial da película também a amaldiçoou. Em seu lançamento nos cinemas, Hitchcock exigia que ninguém entrasse na sala após o início do filme e que ninguém comentasse sobre sua estória. Essas exigências, além de serem uma ação de marketing, faziam sentido, pois são requisitos essenciais para a plena apreciação de Psicose.
Porém, o filme se tornou um sucesso tão grande, elevado a clássico eterno, que suas cenas se tornaram demasiadamente conhecidas. Por isso, Alfred Hitchcock, com seu típico humor negro britânico, acharia graça da ironia de que somente quem não conhece nada de cinema poderá de fato apreciar Psicose.
Ficha técnica:
Psicose (Psycho, 1960) 109 min. Dir: Alfred Hitchcock. Rot: Joseph Stefano. Com Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles, John Gavin, Martin Balsam, John McIntire, Simon Oakland, Frank Albertson, Patricia Hitchcock, Vaughn Taylor, Lurene Tuttle, John Anderson, Mort Mills.
Assista: The making of Psycho (1997)
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