Quanto Mais Quente Melhor marca o início da parceria de Billy Wilder e Jack Lemmon, que fariam sete filmes juntos. A química funcionou já nesse primeiro trabalho, rendendo indicações ao Oscar de diretor e ator, respectivamente.
A trama do filme mistura ação e comédia, e envolve mafiosos traficantes de bebidas e uma inusitada solução para os personagens principais, Jerry (Jack Lemmon) e Joe (Tony Curtis), arrumarem um emprego: os dois são músicos e se vestem de mulher para conseguirem trabalhar em uma banda feminina. Ademais, esse subterfúgio serve também para se esconderem de um grupo de mafiosos que quer matá-los por terem testemunhado uma chacina. Perder o emprego e a vida constituem, assim, os riscos de serem desmascarados.
Então, um novo elemento é adicionado ao enredo, na forma escultural de Marilyn Monroe, que faz Sugar Cane, a corista da banda que dificulta ainda mais a manutenção dos disfarces dos dois mulherengos. Joe inventará outro papel para si mesmo, um milionário que tentará seduzir Sugar Cane.
As atuações
Assim, Tony Curtis encara a difícil tarefa de interpretar três personagens. Tira de letra encarnar Joe, um malandro conquistador de mulheres, que sempre perde o dinheiro que ganha como músico em apostas. Esse papel, afinal, não se difere tanto de sua própria persona no quesito sexo. Mas, se faz de forma estereotipada e exagerada o milionário que quer fisgar Sugar Cane, por outro lado, está contido demais na pele de Josephine, fingindo ser mulher.
Marilyn Monroe já estava em curva descendente em sua carreira, e faria apenas mais dois filmes após esse. Com o cabelo seco e desgrenhado, seus olhares miram o vazio em certos momentos, revelando os problemas que enfrentava com drogas e álcool. Mesmo assim, está sedutora como sempre, e funciona perfeitamente como a corista que consegue atrair os homens.
Mas talvez a cena mais fraca de Quanto Mais Quente Melhor seja a da sedução de Sugar Cane pelo milionário a bordo do iate. O exagero de Tony Curtis e a falta de convicção na atuação de Marilyn Monroe acabam com o humor da cena. Nesta sequência menos interessante se sente a ausência de Jack Lemmon na tela.
Lemmon é a grande estrela deste clássico. Desde o início, enquanto se acompanha as desventuras dos dois músicos, é com Jerry que todos se simpatizam. Ao se transvestir em Daphne, o ator não economiza nos rebolados e trejeitos femininos. Talvez o público de hoje já não veja tanta graça nessas cenas, mas na época arrancavam gargalhadas homéricas.
Diálogos e ritmo
Acima de tudo, o que mantém o filme ainda engraçado são os diálogos inteligentes (escritos pela dupla Billy Wilder e I.A.L. Diamond) despejados velozmente por Jack Lemmon, com timing perfeito. A história mostra que personagens transvestidos só funcionam nas mãos de grandes atores, vide Tootsie (1982), com Dustin Hoffman, e Uma Babá Quase Perfeita (1993), com Robin Williams.
O ritmo de Quanto Mais Quente Melhor é frenético e inclui algumas cenas com confusão e correria, como a festa do pijama no trem e as perseguições no hotel, mas o filme fica no limite entre a comédia pastelão e o humor inteligente. Jerry Lewis tinha recebido uma proposta para o papel de Jerry/Daphne, mas recusou. Com Lewis no lugar de Lemmon, com certeza o resultado seria outro.
Nota: Este artigo fez parte do workshop “Curso de Crítico de Cinema”, na Latin America Film Institute, com o instrutor Edu Fernandes.
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Ficha técnica:
Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot, 1959) 120 min. Dir: Billy Wilder. Rot: Billy Wilder e I.A.L. Diamond. Com Jack Lemmon, Tony Curtis, Marilyn Monroe, George Raft, Pat O’Brien, Joe E. Brown, Nehemiah Persoff, Joan Shawlee, Billy Gray, George E. Stone, Dave Barry, Mike Mazurki, Harry Wilson, Beverly Wills, Barbara Drew, Edward G. Robinson Jr.
Assista: The Writer Speaks: Billy Wilder