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40 recomendações para a 48ª Mostra SP | por Sérgio Alpendre

Nos meus tempos de São Paulo, costumava reservar o mês de outubro para acompanhar de perto a Mostra. Da década passada em diante, o entusiasmo diminuiu, mas outubro continuou a ser um mês diferente no calendário.

Aqui vai uma lista dos filmes que eu gostaria de rever na 48ª Mostra, se passasse por São Paulo. Listo também aqueles que eu arriscaria ver pela primeira vez na Mostra.

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20 filmes já vistos (que na verdade são 21)

As retrospectivas e restaurações sempre foram parte especial na programação da Mostra. Este ano não é diferente. Vale encaixar alguns destes filmes, senão todos, para perceber o que o cinema já nos deu de maravilhas no passado.

A Canção da Estrada (Pather Panchali, 1955), de Satyajit Ray

O Invencível (Apajarito, 1956), de Satyajit Ray

O Mundo de Apu (Apu Samsar, 1959), de Satyajit Ray

A Grande Cidade (Mahanagar, 1963), de Satyajit Ray

A Esposa Solitária (Charulata, 1964), de Satyajit Ray

O Covarde (Kapurush, 1965), de Satyajit Ray

O Herói (Nayak, 1966), de Satyajit Ray

Nestes tempos em que filmes das Índias arrebatam cinéfilos do mundo inteiro, nada melhor do que voltar a um de seus maiores cineastas, o bengali Ray. Não gosta de filmes antigos? Sinto muito. Veja pelo menos a obra-prima A Esposa Solitária.

Abismo (1977), de Rogério Sganzerla

Tudo de Sganzerla é essencial para qualquer cinéfilo que se preze.

O Apicultor (O melissokomos, 1986), de Theo Angelopoulos

O diretor grego tem filmes melhores, mas este faz jus ao talento de Mastroianni.

Brincando nos Campos do Senhor (At Play in the Fields of the Lord, 1991), de Hector Babenco

O melhor filme de Babenco, ao lado de Lúcio Flávio e Ironweed.

Cine-Olho (Kino-Eye, 1924), de Dziga Vertov

Kino-Pravda Nº 20 (Kino-Pravda Nº 20, 1924), de Dziga Vertov (curta)

Vertov é um dos mais importantes diretores do cinema soviético. Um grande inventor que vale ser (re)descoberto.

Oeste Outra Vez (2024), de Erico Rassi

Dos poucos filmes brasileiros que vi, este é disparado o melhor. Imperdível para quem quiser se manter atualizado com o melhor de nossa produção. Vencedor do último Festival de Gramado, numa das raras premiações principais a fazer justiça ao melhor filme.

Onda Nova (1983), de Ícaro Martins e José Antonio Garcia

A dupla fez um cinema bem ousado no início dos anos 1980. Este é o mais ousado deles. Casagrande tem uma participação curiosa.

Paris, Texas (1984), de Wim Wenders

Meio manjado, mas ainda imperdível. Principalmente para quem se encantou com o bem inferior Dias Perfeitos.

Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar (Gake no ue no Ponyo, 2008), de Hayao Miyazaki

O cinema de animação emotivo e brilhante de Miyazaki.

Restos do Vento (2022), de Tiago Guedes

Este passou na 46ª Mostra, dois anos atrás, mas vale rever (ou descobrir) porque é um dos belos filmes recentes da filmografia portuguesa.

Também Somos Irmãos (1949), de José Carlos Burle

Um dos grandes e menos conhecidos filmes brasileiros da primeira metade do século passado.

Um Homem em Estado… Interessante (L’événement le plus important depuis que l’homme a marché sur la Lune, 1973), de Jacques Demy

Um Demy menor, e ainda assim imperdível. Mastroianni interpreta um homem que engravida.

Um é Pouco, Dois é Bom (1970), de Odilon Lopez

Finalmente restaurado este filme importantíssimo de um diretor pioneiro do cinema negro gaúcho.

Viagem ao Princípio do Mundo (1997), de Manoel de Oliveira

Da retrospectiva de Mastroianni, este é o filme que não pode ser perdido.

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+ 20 filmes jamais vistos (que na verdade são 22)

Como complemento, eis uma lista de 20 filmes que eu nunca vi, mas escolheria ver se estivesse em São Paulo para acompanhar a Mostra (é um exercício de adivinhação, mas geralmente os trabalhos dos diretores me interessam em algum grau):

Acima da Poeira (Above the Dust, 2024), de Wang Xiaoshuai

De um diretor chinês que nem sempre acerta, mas quando o faz pode nos emocionar.

Ao Contrário (Volveréis, 2024), de Jonas Trueba

Pessoalmente, não vejo nada demais nesse cineasta. Mas tanta gente vê que eu daria uma chance para este filme.

A Prisioneira de Bordeaux (La prisonnière de Bordeaux, 2024), de Patricia Mazuy

Mazuy até agora se mostrou uma das maiores diretoras em atividade. Por isto este filme é obrigatório. Dificilmente ela decepcionará.

Através do Fluxo (Suyoocheon, 2024), de Hong Sangsoo

Qualquer filme desse diretor sul-coreano é obrigatório. Mesmo que ele filme a torto e direito e nem todos representem o que de melhor ele pode fazer.

Centro Ilusão (2024), de Pedro Diógenes

Diógenes tem evoluído bastante como diretor, e este filme sucede o belíssimo A Filha do Palhaço.

Continente (2024), de Davi Pretto

Diretor promissor do Rio Grande do Sul chega com um longa elogiado por quem o viu.

É Apenas um Adeus (Ce n’est qu’un au revoir, 2024), de Guillaume Brac

Outro diretor que vale ser seguido, ainda que haja algum exagero na recepção aos seus filmes.

Fogo do Vento (2024), de Marta Mateus

Longa de estreia de uma promissora diretora portuguesa (do curta Farpões Baldios). Eu arriscaria.

Henry Fonda para Presidente (Henry Fonda for President, 2024), de Alexander Horwath

Documentário de um historiador de cinema importante.

Levados pelas Marés (Feng liu yi dai, 2024), de Jia Zhangke

Eis um cineasta que raramente errou. Um dos imperdíveis da Mostra.

Maldoror (Maldoror, 2024), de Fabrice Du Welz

Desse diretor se espera de tudo, de uma bomba homérica a um grande filme. Melhor arriscar.

Mambembe, de Fábio Meira

Meira é um diretor que sabe aonde quer chegar. Vale conferir seu novo longa.

Misericórdia (Misericordia, 2024), de Alain Guiraudie

Tomara que Guiraudie tenha voltado à forma perdida após O Estranho no Lago.

O Que Queríamos Ser (What We Wanted To Be), de Alejandro Agresti

De Agresti, grande diretor argentino, deve-se ver tudo. É um dos grandes da América do Sul.

O Senhor dos Mortos (The Shrouds, 2024), de David Cronenberg

Outro que se tornou irregular, mas vem de um belo filme.

Oito Cartões-Postais da Utopia (Eight Postcards From Utopia, 2024), de Radu Jude, Christian Ferencz-Flatz

Sleep #2 (Sleep #2, 2024), de Radu Jude

A assinatura de Radu Jude pode causar tudo, menos tédio.

Se Me Permite (Se Posso Permettermi, 2021), de Marco Bellocchio

Se Me Permite – Capítulo II (Se posso permettermi: Capitolo II, 2024), de Marco Bellocchio

Bellocchio é um dos mais importantes cineastas italianos de todos os tempos, e tem demonstrado estar em plena forma. Eu não perderia estes curtas, que devem ser programados numa única sessão.

Permanência em Lugar Nenhum (Wu suo zhu, 2024), de Tsai Ming-Liang

Outro diretor obrigatório, mesmo num tipo de filme que não agrada a todos.

Por Que a Guerra? (Why War, 2024), de Amos Gitai

Shikun (Shikun, 2024), de Amos Gitai

Nestes tempos tenebrosos, a visão crítica de Gitai é muito importante.

Ulisses (2024), de Cristiano Burlan

Outro diretor que sempre faz filmes no mínimo interessantes. Vem do belo A Mãe.

Observações:

a) Se estou certo de todas as minhas escolhas entre os filmes jamais vistos? Claro que não. Sempre mudei minha programação ao sabor de novas leituras e indicações de amigos conforme eles iam vendo os filmes em cabines ou nas primeiras sessões. Não seria diferente este ano. Mas creio que a maior parte desses vinte filmes eu veria de qualquer jeito (pelo menos 15 deles).

b) Os filmes de Payal Kapadia, e Mati Diop quase entraram na lista. O caso de Miguel Gomes é diferente. Seu último filme, em co-direção de Maureen Fazendeiro, é bom, mas o retrospecto lhe é desfavorável.

c) Os de Leos Carax, Christophe Honoré e Lav Diaz não entrariam de jeito nenhum.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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