David Ayer, diretor de Corações de Ferro (Fury, 2014) e Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016, o primeiro e mais fraco), engata uma parceria com Jason Statham iniciada em Beekeeper (2024) e continuada neste Resgate Implacável (A Working Man, 2025). Dois filmes que servem como veículos para o “exército de um homem só” protagonizado pelo astro da porradaria britânico que vem assumindo o posto de Liam Neeson. Por isso o uso do “implacável” no título nacional, que vem de Busca Implacável (Taken, 2008), filme com Neeson com trama semelhante ao dessa produção nova que estreou nos cinemas em 27 de março de 2025.
Resgate Implacável repete o clichê do ex-combatente militar que opta por levar uma vida pacata como empreiteiro de obras, mas que precisa recorrer às suas habilidades mortais para resgatar a filha de seu chefe que foi raptada. Essa missão voluntária o envolve com a máfia russa, pois o responsável faz parte da quadrilha do filho rebelde de um dos chefões.
Embromação ou ação
Esse roteiro, escrito por Sylvester Stallone (também um dos produtores do filme) e David Ayer, carrega essa premissa por caminhos tortuosos. Parece que os autores partiram da ideia de inserir elementos para enriquecer a narrativa. Porém, no filme, a impressão que temos é de uma história sem rumo.
A começar pela construção do protagonista Levon Cade (Statham). Para lhe dar profundidade, sua mulher se suicidou enquanto ele estava fora do país em combate. Mas, sem uma explicação consistente, ele perdeu a guarda da filha, que agora está sob os cuidados do sogro dele. Provavelmente, a menina entraria na trama como alvo dos mafiosos, no entanto, essa oportunidade de criar drama é desperdiçada.
Mesmo em situações mais simples, o roteiro dá uma enrolada. Por exemplo, quando os pais da moça raptada pedem a Levon que os ajude, ele se nega. Contudo, depois de uma rápida conversa com um amigo também veterano de guerra, Levon promete à família que trará a filha de volta. É um vai não vai completamente desnecessário para o enredo.
Durante o resgate, o roteiro faz Levon perseguir e enfrentar os chefões da máfia russa e os maiores traficantes da sua rede, parecendo cada vez menos conectado com a busca pela moça. Mais do que engrossar a trama, essa enrolação serve para gerar mais cenas de ação, a única coisa que se salva no filme. Statham prova mais uma vez ser um ótimo ator para essa especialidade. A sua brutalidade corre solta e convence, apesar de alguns adversários parecerem personagens da Família Addams, ou mesmo o nosso Zé do Caixão (o vilão que paga pela moça sequestrada).
Saudades do simples
Mas, sobram inutilidades no enredo que atrapalham esse filme que deveria ser muito mais enxuto do que as suas quase duas horas de duração. Por exemplo, Levon filma e toma nota de muitas coisas – mas, para quê? Afinal, ele não quer reunir provas, não é um policial, e o que ele precisa descobrir não sairá de um trabalho intelectual. Ele próprio larga tudo no veículo que precisa abandonar. A moça raptada, então, cai no esquecimento no meio da trama. E a filha do protagonista, se não servirá como ponto fraco para o herói, nem precisava existir em termos de narrativa.
Resgate Implacável vale só pelas eficientes cenas de ação. É verdade que o filme não poderia ser uma compilação delas, mas se não havia boas ideias para incrementar a trama, teria sido melhor simplificá-la.
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Ficha técnica:
Resgate Implacável | A Working Man | 2025 | 116 min. | Direção: David Ayer | Roteiro: Sylvester Stallone, David Ayer | Elenco: Jason Statham, David Harbour, Michael Peña, Jason Flemyng, Merab Ninidze, Maximilian Osinski, Cokey Falkow, Noemi Gonzalez, Arianna Rivas, Emmett J. Scanlan, Eve Mauro.
Distribuição: Warner Bros. Pictures Brasil
Trailer:
https://youtu.be/9xLRP2AZ6rU?si=c9u95ZxSrevtHQNC