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Rio 40 Graus (filme)
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Rio 40 Graus

Avaliação:
10/10

10/10

Crítica | Ficha técnica

Em Rio 40 Graus, o diretor paulista Nelson Pereira dos Santos leva ao espectador uma experiência autêntica da vida na cidade do Rio de Janeiro na metade dos anos 1950.

A narrativa recortada apresenta várias situações paralelas que acontecem durante um típico domingo na cidade que era na época a capital do Brasil. Nesse sentido, começa de manhã na comunidade do morro, e desce para a praia de Copacabana, para o estádio do Maracanã (inaugurado um pouco antes, em 1950). Depois, passa pelo centro e retorna à noite para o morro onde acontece um ensaio da escola de samba Unidos do Cabuçú.

Múltiplos personagens

Há vários personagens, cada um com sua parte relativa de protagonismo. Todos estão ligados ao personagem principal, que é a própria cidade. De fato, os créditos iniciais destacam esse protagonismo com a cartela que diz, antes de qualquer ator, “A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro em… ‘Rio, 40 Graus’”.

E há uma preocupação em retratar os microcosmos do Rio de Janeiro com realidade. O filme não esconde a pobreza dos moradores do morro, que saem pela cidade para pedir esmolas ou vender amendoim na porta do estádio de futebol. Nem a superficialidade da classe média, que esnoba e trata mal os pobres. Por exemplo, vemos um personagem que procura ascender socialmente tentando casar a filha com um rico fazendeiro de Minas Gerais.

Estórias individualizadas

Na verdade, é impressionante como o roteiro, também de Nelson Pereira dos Santos, consegue contar as pequenas estórias de tantos personagens. Principalmente, porque eles aparecem em poucos trechos no filme. Um exemplo claro é o jogo de futebol no Maracanã, quando o cartola obriga o técnico a apostar em um jogador novato na decisão do campeonato.

Além disso, cada um desses relatos possui seu próprio ciclo – início, meio e fim. E eles se cruzam em alguns momentos, podendo ou não afetar o percurso um do outro. Dessa forma, o cineasta brasileiro inaugura uma estrutura narrativa que se tornaria famoso nos filmes de Robert Altman. Nos filmes de Altman, os personagens aparecem em situações paralelas que entrelaçam ao final. Por exemplo, como acontece em Nashville (1975) e Short Cuts (1993).

Enfim, mesmo com tantos personagens, Nelson Pereira dos Santos consegue individualizar o suficiente cada um deles. Nesse sentido, utiliza, além das inteligentes cenas escritas no roteiro, a aproximação da câmera para criar uma intimidade maior com o público. Por isso, no momento mais belo do filme, o espectador sabe quem é o núcleo da tragédia do atropelamento no centro do Rio.

À frente de seu tempo

Aliás, a montagem nessa cena lança uma crítica à frente de seu tempo. Logo quando o garoto é atingido, o filme corta para dentro do estádio no exato momento em que sai o gol de virada do Pengo (alusão ao Flamengo). Ou seja, é a situação do circo que distrai as pessoas da crueza da realidade.

Hoje, a distância do tempo nos faz admirar a vida carioca ainda tranquila em relação à segurança urbana. Exceto por uma ou outra briga na rua, sempre tendo o personagem Miro, de Jece Valadão, como pivô, não vemos delitos, nem mesmo pequenos furtos. De fato, a vida é dura, mas os personagens tentam resover a falta de dinheiro pedindo esmola ou trabalhando como ambulantes. Adicionalmente, a trilha sonora reforça esse espírito leve. A confirmação desse tom surge no confronto final entre Miro e o noivo da garota que ele namorava, selado com um abraço.


 

Ficha técnica:

Rio 40 Graus (Rio 40 Graus, 1955) Brasil. 100 min. Dir/Rot: Nelson Pereira dos Santos. Elenco: Modesto De Souza, Roberto Bataglin, Jece Valadão, Ana Beatriz, Glauce Rocha, Claudia Morena, Sofia Alcalai, Alvaiade, Haroldo Alves, Jesebel Alves, Nilton Apolinario, Sadi Cabral,  Zé Keti, Mauro Mendonça, Jackson de Souza.

Onde assistir:
Rio 40 Graus (filme)
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