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Roda Gigante (filme)
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Roda Gigante

Avaliação:
9/10

9/10

Crítica | Ficha técnica

Em Roda Gigante, Woody Allen foge da comédia e leva para as telas uma tragédia digna de Tennessee Williams.

Após ambientar seu último filme, Café Society (2016), nos EUA dos anos 1930, agora Allen avança vinte anos para situar Roda Gigante em Coney Island.

A trama

Nessa famosa praia com o píer funciona o parque de diversões onde trabalham o casal Humpty (Jim Belushi), na condução do carrossel, e Ginny (Kate Winslet), como garçonete em um restaurante. A vida dura deles se torna ainda mais difícil com a chegada da filha foragida de Humpty. Carolina (Juno Temple) fugira de casa aos 21 anos para se casar com um jovem italiano mafioso, a contragosto do pai. E agora retorna, cinco anos depois, fugindo da máfia porque ela revelou segredos para a polícia.

Logo, Ginny consegue para sua enteada Carolina um emprego como garçonete no mesmo restaurante em que trabalha. Como Humpty resolve pagar um curso noturno para sua filha, Ginny fica com ciúmes porque seu filho, do primeiro casamento, não recebe esse tipo de privilégio de seu padrasto. Aliás, o menino pré-adolescente tem a mania perigosa de colocar fogo em qualquer lugar, e precisa de tratamento psicológico.

A estória é narrada por Mickey (Justin Timberlake), um dos salva-vidas da praia e amante de Ginny. O relacionamento dos dois também é abalado por Carolina, que acaba atraindo a atenção de Mickey, fazendo-o se afastar de Ginny. Enfim, esse turbilhão de sentimentos explodirá em uma tragédia que afetará a todos.

Coney Island em cores vivas

A cenografia reproduz fielmente a Coney Island dos anos 1950, festiva e colorida. Por falar nas cores, o diretor de fotografia, o experiente Vittorio Storato em seu segundo trabalho com Woody Allen, carrega nos tons, utilizando muito a luz solar do crepúsculo para iluminar, principalmente, Kate Winslet. E, como a personagem dela sofre muitas variações de humor, as cores ajudam a representar essas mudanças. Na cena essencial em que ela atravessa o calçadão para dar o telefonema que poderá salvar a vida de Carolina, a tela assume uma tonalidade cinzenta, caracterizando a cruel atitude que a personagem tomará.

Woody Allen cria nessa sequência um suspense digno de Alfred Hitchcock. O espectador já sabe o perigo que Carolina está correndo, e acompanha a cena torcendo para que a personagem faça algo diferente para salvar sua vida.

Tragédia

Aqui, ao contrário de outros filmes do diretor, nenhum ator assume a persona de Woody Allen. Forçando um pouco, encontramos na gagueira nervosa de Kate Winslet alguma pista, mas a ausência de comicidade é completa. Estamos diante de um drama trágico próximo daqueles originados das peças de Tennessee Williams (Vidas em Fuga, Uma Rua Chamada Pecado, Boneca de Carne, etc). A paixão descontrolada nas peças de Williams leva à ruína, e a longa sequência em que Ginny surge vestida e maquiada como na época em que era atriz de teatro, enlouquecida pela desilusão amorosa e pela culpa pela morte que decidiu não evitar, parece saída das páginas de Williams.

Essa sequência, especialmente, e toda a atuação durante o filme, merecem que Kate Winslet ganhe o Oscar de melhor atriz, soberba em um papel complexo, em que sua personagem revela diversas nuances. Ou seja: apaixonada, mãe, submissa, revoltada, sensual, fria. De fato, Kate atinge o ápice no momento em que mergulha na loucura com entrega tão intensa que arrepia o espectador. Na verdade, faltou apenas um ator treinado na Actors Studios para contracenar com ela, porque Justin Timberlake soa um tanto passível diante da explosão da atriz. Então, imagine Marlon Brando, James Dean ou Montgomery Clift em seu lugar.

Sempre Woody Allen

Apesar disso, por ser um filme de Woody Allen, parte do público nos cinemas procura resquícios de humor, forçando pretextos para risos que não existem. Alguns acham graça da cena final com o menino piromaníaco ateando fogo em um amontoado de objetos na praia. Mas não há comédia na cena. Por fim, Ginny não consegue mudar o comportamento do filho, o que significa mais um motivo para se sentir culpada e destruir sua abalada estabilidade mental.

O toque personalíssimo de Woody Allen nesse drama amargo é a trilha sonora. O jazz de época, alegre, da canção dos The Mills Brothers se contrapõe à tragédia da estória. Woody Allen, fora do gênero comédia, continua sempre sendo Woody Allen.


Ficha técnica:

Roda Gigante (Wonder Wheel, 2017) Dir/Rot: Woody Allen. Elenco: Kate Winslet, Jim Belushi, Juno Temple, Justin Timberlake, Max Casella, Jack Gore, David Krumholtz, Robert C. Kirk, Tommy Nohilly, Tony Sirico, Maddie Corman, Jenna Stern.

Imagem Filmes

Trailer:

Assista: entrevista de Woody Allen sobre Roda Gigante

Onde assistir:
Roda Gigante (filme)
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