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Vidas em Fuga (filme)
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Vidas em Fuga

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Vidas em Fuga”: A amargura de Tennessee Williams com embalagem de Sidney Lumet

“Vidas em Fuga” é um dramalhão pesado baseado na obra de Tennessee Williams, um mestre no gênero. Entre outras preciosidades, ele é o autor de “Uma Rua Chamada Pecado” e “Gata em Teto de Zinco Quente”. Aqui, somam-se a ele os talentos do diretor Sidney Lumet e dos atores Marlon Brando, Anna Magnani e Joanne Woodward. Como resultado, temos um clássico profundamente amargo.

O enredo

Na estória, o desajustado Valentine ‘Snakeskin’ Xavier (Marlon Brando) chega a uma pequena cidade no Sul dos Estados Unidos. A princípio, ele procura um trabalho honesto, para mudar seu modo de viver. Então, acaba em um emprego na loja de Lady Torrance (Anna Magnani), uma jovem senhora que precisa de ajuda porque seu marido Jabe (Victor Jory) se encontra gravemente enfermo. Carol, uma garota liberal com quem Snakeskin transou em outra cidade, aparece na loja e o deseja novamente. Porém, quem o acaba levando para a cama é Lady Torrance. Assim, nasce um romance proibido entre os dois. Depois que o velho Jabe revela um terrível segredo a respeito da morte do pai de sua esposa, tudo acaba em tragédia.

Desde o seu início, o filme é denso. Inicialmente, acompanha Marlon Brando em um julgamento por um crime menor. Para isso, a câmera repousa em um close com enquadramento fora do padrão. Ou seja, mantendo a face do ator desproporcionalmente na parte inferior da tela. Ouvimos a voz do juiz, mas a câmera fica fixa nele, de forma angustiante. Por fim, a tradicional voz sussurrada de Brando dá o toque necessário para a intensidade da cena. Isso tudo no prólogo, antes dos créditos iniciais.

A direção

Sob outro aspecto, a bela fotografia em preto e branco inclui um pouco do estilo noir, na utilização de câmera inclinada e sombras. Além disso, a câmera frequentemente está posicionada acima do nível habitual, enfatizando a opressão sobre os personagens. Adicionalmente, na sequência mais trágica do filme, a câmera começa de ponta cabeça, revelando a loucura daquela situação, quando tudo sai dos eixos.

E Sidney Lumet contrasta a crueza da realidade dessas pessoas amargas em alguns momentos poéticos, que não deixam também de ser lúgubres. Por exemplo, na analogia que Anna Magnani revela entre a árvore de natal e a fogueira num momento trágico de sua vida, que se repete agora na inauguração da sua nova loja. De forma similar, é a catástrofe que surge em um momento de alegria. E, também, quando Joanne Woodward solta seu monólogo com aparência quase fantasmagórica.

Origem teatral

Apesar de “Vidas em Fuga” apresentar um primoroso uso da linguagem cinematográfica, ainda assim não consegue esconder sua origem teatral. Afinal, o roteiro foi escrito por Tennessee Williams (junto com Meade Roberts), com base em sua própria peça. Por isso, a maior parte das cenas se resume a um diálogo, com apenas dois atores em longas sequências. E, contrariando o berço da sétima arte, aqui as palavras valem muito. De fato, os textos emitidos pelos atores revelam significados profundos. Por exemplo, nessa frase dita por Anna Magnani: “Não posso contratar um estranho com jaqueta de pele de cobra e um violão. E com temperatura igual ao de um cachorro.”.

Marlon Brando esbanja intensidade em sua interpretação de um personagem cujas características lhe caem como uma luva: perdedor, sedutor, intenso e amargurado. Já a italiana Anna Magnani revela a infelicidade da pragmática e explosiva Lady Torrance que, apesar da idade e das condições de sua dura vida, ainda consegue ser sedutora. O contraponto é a amalucada Joanne Woodward, numa rara oportunidade de usar sua beleza para construir sua personagem.

Em suma, a amargura das personagens de “Vidas em Fuga” ganha um pouco de esperança de mudar para uma situação melhor. Brando chega à cidade em busca disso, mas está sempre disposto a partir novamente para fugir para outro lugar. O final trágico empacota essa situação com o pessimismo coerente com o que se passou durante todo o filme. Se há beleza na tristeza, ela está aqui presente.


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