Vem do Cazaquistão esse filme que relativiza os perigos dos esquemas enganosos que vitimizam jovens. O jogo está já no seu título, Scheme (Skhema), e na trama principal que acompanha a adolescente Masha, de 15 anos. O conflito com a família, típico da sua idade, a aproxima de Ram, um rapaz descolado que ela conhece num shopping. Ele facilmente a convence a ganhar dinheiro comparecendo a festas, e convidando outras amigas a fazerem o mesmo.
O filme coloca esse processo em questão através de analogias. Uma delas na cena que mostra o pai de Masha discutindo com a mãe dela porque ela entrou num esquema para ganhar jogo que é claramente uma pirâmide. Fica evidente que o jogo de Ram tem a mesma base, pois a mãe também precisa convidar amigas para participar dessa empreitada. A outra analogia é mais sutil, e surge na pescaria do pai. Ele joga iscas e elas atraem os peixes para o local onde serão capturados pelo pescador. Na vida de Masha, o garoto bonito Ram faz esse papel de isca. Ele atrai as meninas novas para o local onde serão, aos poucos, induzidas ao álcool e às drogas e, por fim, à prostituição.
Direção ousada e segura
Em seu sexto longa-metragem, o diretor Farkhat Sharipov mostra que gosta de experimentações. Pelo menos, é o que percebemos quando ele coloca câmera muito próxima do chão para filmar os personagens, que ficam ao fundo, atrás de pernas de cadeira e de mesas. No filme, esse tipo de enquadramento aparece mais de uma vez. Mesmo quando não é tão ousado, Sharipov filma com inteligência, sempre comunicando o que a narrativa pede.
Mas a melhor cena é aquele longo plano em que vemos os pés de Masha enquanto ela toma banho. Acompanhamos o cair da tinta preta que Ram usou para pintar os seus cabelos para satisfazer seu cliente que exigia a presença de uma menina morena na festa. A duração exagerada desse plano tem seus motivos. Revela o momento de epifania da moça, que acaba de passar por uma experiência marcante, pois ela fez sexo por dinheiro, pela primeira vez. Daí o simbolismo da tinta que escorre durante o banho. Significa que ela está se livrando dessa falsa persona que incorporou por causa de sua imaturidade e, também da sujeira pelo ato promíscuo.
De fato, a cena final comprova que ela não mais seguirá esse caminho. Quando a turma de jovens a chama, desta vez ela decide ir embora para sua casa. Com isso, Scheme comunica, reforçado pela mudança de estação comprovada pelo fim das aulas e pela vegetação em transição, que tudo isso foi uma experiência forte, mas apenas uma passagem dentro da vida dessa moça. Uma etapa a mais, enfim, de seu processo de amadurecimento.
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Ficha técnica:
Scheme | Skhema | 2022 | Cazaquistão | 73 min | Direção e roteiro: Farkhat Sharipov | Elenco: Victoriya Romanova, Tair Svintsov, Diana Bulatova, Yan Tomingas, Evgeniya Ksenaki.
Este filme está na programação da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que acontece entre 20 de outubro e 2 de novembro de 2022.